segunda-feira, 11 de abril de 2016

Ecos


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


O sol me desperta,  levanto-me  sem sequer pensar em pausas. Cobro de meu corpo uma força que já não mais me aflora. Percebo sem muitos traumas vincos no meu rosto.

Um resquício de vaidade ainda me prende ao espelho que reflete sem disfarces talvez o peso da idade, talvez sequelas de um olhar não muito generoso. O tempo, sempre o tempo, o algoz ditador ou o velho mergulhado em rios de sabedoria.

Procuro nas paredes nesgas do sol, mordo o canto dos lábios para ter certeza do milagre. Sigo, carregando um cântaro ora de alegrias e encantos, ora de dor e prantos.

Sigo convicta de uma eternidade solitária, de uma certeza que me cobra alto, que me custa caro. O desprezo de quem me enxerga arrebatada, exagerada, servil não me corrói, não me fragmenta.

Sigo numa estrada antiga coberta de uma poeira vermelha e andrajos. Sigo na rabeira do vento que as vezes ressuscita meu nome e me devolve um sorriso tão familiar. Sigo consumida em preces que o universo foi incapaz de apagar. Sigo só, por hoje...

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


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