quarta-feira, 13 de abril de 2016

Originais figuras futurísticas (ou elas já estão entre nós?)

* Por Mara Narciso


As flores de estilo reto e as colunatas gregas servindo de moldura tornaram-se a marca de Hélio Brantes, mas a fase das figuras humanas está presente já há algum tempo. Suas mulheres de cabelos pretos frondosos, homens de cabeças raspadas no estilo moicano, como vindos de um futuro próximo, trazem as ideias do autor, e estimulam a interpretação do observador. Em dupla ou em trios, as mulheres fazem pose da imaginação para o pincel do artista plástico carioca, quase montes-clarense, que produz arquitetura, dá aulas e enfeita a cidade com suas criações.

No seu mais recente trabalho, “Das telas de algodão, às telas virtuais – O artista plástico e as possibilidades do digital”, que esteve exposto no Centro Cultural Hermes de Paula, Hélio Brantes foi original em inserir objetos tecnológicos, criando ações contemporâneas, mas, sem o isolamento que essas ações causam. Lembrando o grafite, pela contemporaneidade, homens e mulheres são individualistas, abusam da tecnologia, mas estão próximas umas das outras.

A cor predominante é o azul escuro que unifica essa fase. Mas um vermelho forte acontece para surpreender quem olha. As telas contam histórias e fazem lembrar que o futuro é logo ali e se uma guerra nuclear acabar com a civilização, e aquelas imagens forem preservadas, contarão os hábitos humanos exatos do começo do século XXI.

Mulheres pálidas, com tatuagens e piercings, diante do computador com monitor fino datam a imagem. Texturas e detalhes antigos a um canto da tela misturam tempo e espaço, e isso também ocorre quando traz o Fusca de volta (numa ação criminosa). Os penteados femininos criados pelo artista, as expressões frias, quase robóticas, dessas figuras que usam celulares com modelos de décadas diferentes, intercambiam o tempo. Num mesmo quadro um mix: a selfie, o videogame, a corrida com fone de ouvido e a tecnologia na medicina. Estaremos a salvo?

O ser humano, imóvel durante o uso da tecnologia, fica frágil fisicamente, mas os quadros mostram figuras fortes, ágeis e atléticas. São personagens do videogame que saem para a rua. A plasticidade e a mobilidade das imagens produzidas por Hélio Brantes são o ponto alto da mostra. Elas se movem e flutuam, mas também podem voar. E convidam para este vôo. Homens com seus cabelos modernos saltam sobre muros, ou uns sobre os outros, (rosto oculto, terrorismo?) como numa brincadeira de meninos, mas são adultos interagindo e instigando o observador a sentir algo com a visão dessas imagens. E se sente tocado.

Telefonar é vital. Um GPS abre o caminho. Um painel mostra quatro mulheres planando, num futuro próximo, estão seminuas e uma delas nua. Esta, caída na rede (internet?) leva a várias conclusões, inclusive a possibilidade de uma gestação motivada pelo sexo virtual. Ou a fragilidade individual dentro dessa teia. O que somos nesse labirinto?

Não é proibido não gostar, afinal, espiar o futuro pode dar medo. A sensação gerada pelo novo, nem sempre causa prazer. As máquinas já nos dominam pelo vício, assim, escapulir dessa tragédia atual e permitir que a arte provocadora entre na gente, é uma experiência que não deveríamos nos furtar.

Tal exposição faz parar, olhar e sentir. Não é banal, é belo, é arte, é novo. Criar o que não existe é ser inédito. Permita-se entrar nesse mundo imaginário, mas, que já é tão real. As viagens são inúmeras, e Hélio Brantes não deixou frestas em sua arte, escancarou janelas para o futuro e a sua fantasia. Crie seu roteiro e aproveite a emoção. Tudo pode ser, ou nada ser. Quem vê, quer explicar, mas a sensação é individual e única.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   



4 comentários:

  1. Como é bom uma reflexão sobre um trabalho realizado, muito sensível e muito atenta
    e perspicaz à poética como um todo.
    Obrigado Dra Mara Narciso

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    1. Ontem vi um vídeo e soube que era um trabalho de mestrado. Mais amplo ainda. Parabéns, Helio!

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  2. Como é bom uma reflexão sobre um trabalho realizado, muito sensível e muito atenta
    e perspicaz à poética como um todo.
    Obrigado Dra Mara Narciso

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