sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um sonho


* Por Maciel Monteiro


(Ao embarque e partida de uma Senhora)


Ela foi-se! E com ela foi minh’alma
N’asa veloz da brisa sussurrante,
Que ufana do tesouro que levava,
Ia... corria... e como vai distante!
Voava a brisa e no atrevido rapto
Frisava do Oceano a face lisa:
Eu que a brisa acalmar tentava insano,
Com meus suspiros alentava a brisa!

No horizonte esconder-se anuviado
Eu a vi; e dois pontos luminosos
Apenas onde ela ia me mostravam:
Eram eles seus olhos lacrimosos!

Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,
Que me sorria lá dos olhos seus;
E dalém ondulando uma aura amiga
Aos meus ouvidos repetiu adeus!

Nada mais via eu, nem mesmo um raio
Fulgir a furto a esperança bela;
Mas meus olhos ilusos descobriram
Numa amável visão a imagem dela.

Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
Ao bafejar da vespertina aragem;
Se aos olhos eu perdia a imagem sua,
No meu peito eu achava a sua imagem.

Ela foi-se! ... E com ela foi minh’alma
Na asa veloz da brisa sussurrante,
Que ufana do tesouro que levava,
Ia... corria... e como vai distante!

Rio de Janeiro, 1851.


* Médico, jornalista, diplomata, político, orador e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras.

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