segunda-feira, 25 de abril de 2016

Morar bem ou morar mal?


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Morei muitos anos em São Gonçalo, lá no fim do fim do mundo, é verdade! A pracinha mais bonita era longe, as farmácias, postos de saúde e etc.

Ah!!!!! Mas tinha um poço que quando estava vazio me dava respostas. Tinha uma ilha no quintal da dona Maria cuja areia, clarinha, flertava com a nossa imaginação. Nos fundos da casa dela tinha uma floresta (exagero de imaginação de criança) e no fim dela um rio.

Dona Maria tinha uma plantação de inhames, nunca mais os comi depois que a vi fazendo xixi em cima deles. Tinha, também, um quarto repleto de revistas; depois de muito raciocinar é que descobri que eram todas de cunho pornográfico, um dia conto uma do super homem.

Lembrei-me das meméias! Elas tinham um cabelinho difícil, minha mãe generosa que só, tacava pente quente nas madeixas das meninas que ficavam tão felizes com os seus cabelos dançantes. Pena que, na ilusão da cabeleira lisa, achavam que molhando, eles ficariam mais esvoaçantes.

A gente até se dava bem, o problema é que elas cuspiam que era uma beleza.

O terreno do turco e seu lixo maravilhoso. Nunca me faltaram frutas, nem brinquedos. Podiam não ser novinhos em folha, mas encaixavam tão bem no nosso universo!

As rezas da benzedeira dona Lourdes, uma "nega" enorme com cara de anjo, se era boazinha eu não sei, nunca nos fez mal. Minha mãe lavou bastante roupa pra ela.

Os gatos que no inverno a gente botava pra dentro de casa sem que minha mãe soubesse.

O café fresquinho com pão de ontem, duro feito pau que a gente aquecia no fogão.

Morei bem ou morei mal? Se puder somar, como eu fiz, tantas lembranças, e se estas lhe causam sorrisos, não cabe julgar. Vai depender de tuas lembranças...

 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


Um comentário:

  1. A pobreza nossa de cada infância. Apenas agora temos consciência do tamanho que ela era.

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