quarta-feira, 13 de abril de 2016

Didaticamente 2


* Por Urda Alice Klueger


Como professora de História, ensinei a muitos alunos sobre os quatro novos pensamentos surgidos no decorrer do século XIX, sendo que um deles é o comunismo. Comunismo, numa explicação bastante simples, é “(do latim communis - comum, universal "coisa pública", segundo Platão)  uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais, baseada na propriedade comum dos meios de produção”.

Já contei outro dia das discussões que ouço num bar de bêbados que existe no bairro aonde moro, lugar onde passo diariamente, e onde se discute e se jura que o Brasil está em pleno comunismo. Haveria muito o que falar sobre o que é, realmente, comunismo, se ele já foi implantado de verdade sobre a face da terra, essas coisas mais sofisticadas, mas vamos nos ater à definição simplista que está acima, tirada de uma coisa muito rasteira em termos de reflexão, chamada Wikipédia.

Se estivéssemos num comunismo, como afirmam os bêbados da minha vizinhança e miles de ignorantes nas redes sociais, onde estaria a sociedade igualitária, sem classes sociais, baseada na propriedade comum dos meios de produção? Você é capaz de olhar ao seu redor e ver o que já foi citado duas vezes mais acima? Eu moro numa pequena rua que tem apenas 16 casas, e quase poderia dizer que é uma rua com 16 classes sociais, onde ninguém é igual e muito menos existe uma propriedade comum dos meios de produção.

Como é a sua rua? Vive-se uma igualdade, uma verdadeira irmandade onde tudo se divide e tudo é comum a todos? Nem duvido: tenho certeza de que não é assim. Mesmo naquelas ruas de casas mais abastadas, onde carros importados dormem nas garagens bonitas e gente comum, como nós, passa e pensa que é uma rua de ricos (Os ricos de verdade a gente nunca vê. Estão nos seus iates de luxo, viajando pelo Caribe, ou outros lugares assim – essa gente que vive nas ruas de casas bonitas e carros luxuosos são mera classe média), as diferenças entre as pessoas são gritantes. Para começar, aquelas pessoas não dividem nada: pagam pequenos salários para outras que moram lá, como as empregadas domésticas, os jardineiros ou motoristas, enquanto gastam fortunas com coisas tolas como roupas de marca e outras bobagens assim, exatamente para deixarem bem claro as diferenças sociais, que as pessoas pertencem a classes sociais diferentes, e por nada do mundo aceitariam fazer parte de uma sociedade igualitária, partilhando a sua loja, a sua fábrica ou qualquer coisa que fosse sua.

Sei que às vezes tentam lhe enganar e lhe dizem coisas como dizem os bêbados do bar por aonde passo; sei que talvez nunca ninguém lhe explicou detalhadamente algumas coisas, e então você não é obrigado a saber sem receber uma explicação, e então estou aqui a lhe afirmar: o mundo em que vivemos, notadamente aqui no Brasil, está tão longe de um mundo comunista quanto Vênus ou Marte – vivemos num mundo extremamente capitalista (que é o contrário do comunismo), onde as diferenças sociais são gritantes – e mesmo que você tenha uma alma comunista e queira viver de acordo com aquela filosofia nascida no século XIX, não vai conseguir, pois seu entorno pensa diferente de você, e falta muito, mas muito mesmo, para que as pessoas comecem a pensar na possibilidade de compartilhar em igualdade os meios de produção.

Portanto, não acredite em bobagens e não dê atestado de ignorante berrando aos quatro ventos, em bares de bêbados ou nas redes sociais, de que quem não pensa como você é comunista, ou que o Brasil é um país comunista. Se não conseguiu entender, peço que releia atentamente a definição de comunismo acima, lá no primeiro parágrafo. Dói-me o coração quando vejo as pessoas fazendo questão de mostrar sua ignorância. É por causa desta pena que tenho estou tirando um tempinho do meu sono para escrever isto.


NOTA

Urda Alice Klueger lança nova obra no dia 5 de maio, em Blumenau

O 24º livro da escritora, intitulado "No Tempo da Ana Bugra", será lançado na Livraria Blulivro, no Shopping Center Park Europeu, das 18h às 21h30min

Memória narrativa, tempo, espaço e emoção. Lembranças que abordam um período anterior à ida para a escola, quando o mundo ainda era lido por outros meios que não o dos livros. Época em que a autora vivia na praia de Camboriú (tempo em que ainda não era município) e que voltou a Blumenau, precisamente, para entrar na escola. Esse é o enredo do novo livro da escritora Urda Alice Klueger: “No Tempo da Ana Bugra”. O lançamento da 24ª obra da escritora ocorre no dia 5 de maio, na Livraria Blulivro, no Shopping Center Park Europeu, em Blumenau, das 18h às 21h30min.

Produzido pela Editora Hemisfério Sul, o livro trata de memórias da infância da autora, com foco no fim da década de 1950 e início da década de 1960.  Segundo Urda, alguns textos foram criados sem a pretensão de fazerem parte de um livro, mas acabaram se adequando ao mesmo. “Eram memórias que vinham à tona vertiginosamente e não havia como não escrevê-las”, diz a autora.

Para a escritora, advogada e professora universitária Rosane Magaly Martins, recomendar a leitura de “No Tempo da Ana Bugra” é tarefa fácil. “Deitar meus olhos pelos oito textos ambientados em sua memória de criança é me permitir passear com ela, de mãos dadas, pulando poças deixadas pela última chuva, nas ruas de barro que permitiam sentir-nos navegantes”, complementa.

SERVIÇO

Lançamento do livro “No Tempo da Ana Bugra”
Dia 5 de maio, das 18h às 21h30min
Livraria Blulivro, no Shopping Center Park Europeu, via Expressa, Blumenau (SC)
Livro: 71 pgs. Valor R$ 20,00.  ISBN: 978-85-86857-47-8
Editora Hemisfério Sul: editorahemisferiosul@gmail.com
Autora Urda Alice Klueger:urdaaliceklueger@gmail.com


Blumenau, 05 de abril de 2016

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR, autora de vinte e quatro livros (o 24º lançado em 5 de maio de 2016), entre os quais os romances “Verde Vale” (dez edições) e “No tempo das tangerinas” (12 edições).



Um comentário: