terça-feira, 26 de abril de 2016

Billy Paul, o passado e o presente


* Por Clóvis Campêlo


Nos apegamos ao passado porque a ele sobrevivemos. E também porque quando lá estivemos, éramos jovens e sem as contradições e desesperanças da velhice. Visto à distância, é assim que o passado nos parece.

Alguns recusam-se a envelhecer e viver o presente, rumo ao futuro, como se isso fosse possível. Queira-se, ou não, o tempo passa e nos marca definitivamente. Como diz dona Dita, a minha sogra, em momentos de divagações filosóficas, quem não quiser envelhecer que morra jovem. Não sei se por opção ou destino, no alto dos seus 85 anos de idade, é uma pessoa alegre, feliz e jovial.

Já outro conhecido, na mesma faixa etária, diz sentir-se como se viajasse sentado na carroceria de uma camioneta sempre olhando para trás. Sente-se eternamente desconfortável no presente, como se vivesse em um mundo que lhe é cada vez mais hostil e agressivo. Para ele, no passado é que ficaram as coisas boas e um mundo melhor. Infeliz e rabugento, nada lhe agrada ou comove.

Penso nisso tudo ao tomar conhecimento, hoje pela manhã, da morte do músico americano Billy Paul. Ele, também octogenário, morreu em casa, vitimado por um câncer, essa doença quase implacável dos tempos modernos.

E embora Billy Paul não fizesse parte dos meus músicos preferidos e indispensáveis, teve uma participação importante na trilha sonora da minha geração. Nos assustados do Pina dos anos 60 e 70, era indispensável a sua presença. Depois, escutava-o com uma ponta de nostalgia e de lembrança daqueles tempos passados e irretornáveis. Nada mais do que isso. Ou seja, muito mais em função da minha nostalgia patológica do que da importância da sua música para mim.

No acervo de notícias quase inúteis que guardo em casa com devoção, fico sabendo que em agosto de 2015, Billy Paul esteve no Recife, apresentando-se na Manhattan Café Theatro, em Boa Viagem. E eu, que imaginava essa influência cultural e musical apenas em mão única, descubro surpreso, nessa mesma matéria jornalística, que o artista americano se dizia admirador da música popular brasileira e da cultura pernambucana. Entre outras coisas, afirmou: “Já estive aqui cinco vezes, amo as praias e, principalmente, amo o pudim daqui!”, brincou. E prometeu: “Vou compor uma música sobre o Recife, inspirada no Recife, porque as pessoas daqui são muito boas, é um lugar maravilhoso. Merece uma música.”

Afirmou ainda que na década de 1970, quando visitou o Brasil pela primeira vez, ouviu os acordes de uma orquestra de carnaval e se impressionou com o ritmo. Na ocasião, cantarolou várias vezes o que se tornaria, mais tarde, o arranjo característico da sua versão de Your song. O compasso remete ao frevo e, para ele, é o principal motivo da popularidade da canção no país. “No Brasil, Your song tornou-se mais popular do que Me and Mr. Jones, que geralmente é a mais famosa, talvez porque os acordes são familiares. Essa música pertence ao Brasil, definitivamente”, declarou.

Beleza pura! Billy Paul amava o Recife, que amava Billy Paul!

Recife, abril 2016

* Poeta, jornalista e radialista.


Nenhum comentário:

Postar um comentário