Certas canções
* Por Marcos Alves
O título é de
uma música do Milton Nascimento, e pego emprestado para falar do prazer de
ouvir canções que tocam o coração e a alma da gente. Milton é grande, e fez
falta no show chamado “Tributo ao Clube da Esquina”, dias 8 e 9 de dezembro, em Belo Horizonte. Outra
ausência sentida foi a de Lô Borges, que também fez parte da geração talentosa
que nos anos 60 e 70 produziu músicas que mais tarde se tornaram clássicos da
MPB.
Belas melodias
e letras fortes como "Fé cega, faca amolada", de Milton e Fernando
Brant, "Um girassol da cor do seu cabelo", dos irmãos Lô e Márcio
Borges, "Manuel, o audaz" de Toninho Horta e Fernando Brant e
"Feira Moderna" de Beto
Guedes, Lô e – de novo, Fernando Brant influenciaram gerações de músicos e
não-músicos, primeiro em Minas e depois no Brasil inteiro. Hoje, despertam
interesse mundo afora.
Faz 35 anos,
desde o lançamento do LP homônimo que deu fama e nome a esse que é considerado
um movimento musical de grande importância para a música brasileira. Muito se
escreveu e ainda se escreve sobre o assunto – agora mesmo várias publicações
estão sendo lançadas, mas uma referência excelente é o livro de Márcio Borges:
"Os sonhos não envelhecem. Histórias do Clube da Esquina". Compositor
e irmão de Lô, ele foi um dos "culpados" dessa história que começou
na Belo Horizonte dos anos 60. Jovens amantes do jazz, da bossa nova e do rock,
que se reuniam para tocar e trocar impressões sobre o mundo. Dessas reuniões
resultaram ótimos trabalhos e as músicas que (quase) todo mundo conhece.
O "Tributo
ao Clube da Esquina" promoveu encontros, reencontros e algumas surpresas e
improvisos. De Três Pontas – terra de Milton – embora por um acidente ele tenha
nascido no Rio de Janeiro, veio o grupo Ânima. Filhos, sobrinhos e agregados
dos homenageados também passaram pelo palco. Márcio Borges, um dos
"fundadores" do Clube da Esquina, fez as honras da casa. O começo
festivo gerou a leve desconfiança de quem, como eu, foi até lá para ver e ouvir
os clássicos na voz dos próprios autores. Felizmente era questão de tempo.
Bastou Toninho
Horta dedilhar os primeiros acordes de "Manuel, o audaz" para ganhar
de vez a cumplicidade da platéia. Mãos levantadas, a letra na ponta da língua.
Um clima de leveza tomou conta do Espaço Funarte – Casa do Conde, no centro da
capital mineira. A certa altura, o poeta Murilo Antunes – outro membro do
clube, leu um texto que falava da cidade, do poder da música e da amizade. A
tradução perfeita do que acontecia ali naquele momento.
No final, Beto
Guedes emocionou e recebeu de volta do público um carinho especial. É um desses
compositores de estilo inconfundível. Sempre esteve acima da média, mas anda
sumido da mídia e dos palcos, por isso era importante vê-lo. Cumprimentou o
público com a timidez habitual e depois, com a elegância de sempre, esbanjou
categoria com a guitarra. Como músico que é, regeu a banda e fez a festa junto
com os parceiros. Estava à vontade, literalmente em casa. O repertório de
clássicos arrebatou a platéia: “Feira moderna”, “Amor de índio”, “Sol de
Primavera" – um presente de fim de ano. Beto é um compositor
talentosíssimo e um músico de primeira também. Robertinho Silva, baterista e
companheiro de longa data, foi reverenciá-lo ao final da apresentação.
Valeu participar
dessa celebração, em que compareceram ou estavam confirmados Flavio Venturini,
Luiz Alves, Márcio Borges, Marcus Vianna, Beto Guedes, Murilo Antunes, Nelson
Ângelo, Nivaldo Ornelas, Paulinho Carvalho, Tavinho Moura, Wagner Tiso.
Fernando Brant, Fredera, Márcio Borges, Tavito, Telo Borges, Toninho Horta e
Túlio Mourão. Um timaço para lembrar o movimento que nasceu junto com o LP
Clube da Esquina, lançado em 1972.
Fazendo o som
que embalou nossas festinhas regadas a vinho tinto vagabundo! Dá saudade das
capas dos discos de vinil! Discussões intermináveis sobre quem era melhor:
Milton, Lô Borges ou Beto Guedes? Não faz diferença, viva os três e os demais
integrantes do Clube da Esquina. Afinal, assim como os sonhos certas canções
não envelhecem.
"Certa
emoção me alcança
corta minha alma sem dor
certas canções me chegam
como se fosse o amor"
Milton Nascimento
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Marcos Alves é
jornalista e diretor de vídeos.
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