Futebol:
continuo querendo o Paysandu na Série A
* Por
Mouzar Benedito
“Estatística é igual
biquíni: mostra quase tudo, mas esconde o principal”.
Se me lembro bem, foi
Millôr Fernandes quem escreveu isso, no Pasquim.
De vez em quando
aparece algum ranking, que para mim é uma espécie de estatística, que me faz
lembrar dessa frase e a dar razão ao seu autor.
No final do ano, a
Folha de S. Paulo publicou um ranking dos cem melhores times de futebol do
mundo em que o Barcelona aparece em terceiro lugar, depois do Real Madrid, o
primeirão, e do Milan.
Ora, quem duvida que o
Barcelona é hoje o melhor time do mundo? Certo que o Real Madrid é forte
também, mas não é igual. E o segundo, Milan? Podemos dizer que ele já foi um
time de meter medo, mas hoje em dia não está lá essas coisas.
Acontece que para
fazer o ranking, a Folha dá nota a conquistas dos times em toda a sua história.
Cada conquista internacional, ganha um número de pontos. Por exemplo: o campeão
mundial de clubes (que este ano foi o Barcelona), ganha 80 pontos, e o vice 50
pontos.
O vencedor da Liga dos
Campeões ganha 70 pontos, e o vice 40 pontos. A Recopa, a Copa da Uefa e outros
torneios regionais dão 20 pontos para o campeão e 10 para o vice. E assim vai.
Daí, o ranking é histórico, pega todo o passado, em que o Real Madrid e o Milan
ganharam muitas taças. Daí essa classificação que para quem pensa no hoje não
parece muito válida..
Para se ter uma ideia,
não aparecem na lista dos cem os ingleses Manchester City e Manchester United,
nem o francês Paris Saint Germain. São timaços, mas não têm um passado tão
glorioso.
Brasil – o melhor na
parada
Há algum tempo defendi
aqui que o Brasil deveria ter mais times no campeonato nacional. Uns 28. Mas
não: se na Espanha, que hoje tem o melhor futebol do mundo o campeonato tem 20
times, por que aqui teria mais que isso?
Acontece que a Espanha
é pouco mais que o estado de São Paulo, e seus times também. Tem o Barcelona, o
Real Madrid, e o que mais? Na lista dos cem times do ranking, aparece o
Atlético de Madrid em 25º lugar, junto com o nosso Corinthians, o Valencia em
35º e o Sevilla em 57º. E só. Enquanto isso, dos times paulistas, o São Paulo
aparece em 8º, o Santos em 17º, o Palmeiras em 23º e o Corinthians e, 25º.
E há no ranking times
do Rio, de Minas e do Rio Grande do Sul. Sem contar que uns bons times de
outros estados não aparecem, assim como bons times de outros países.
Então, minha proposta
– pegando como base esse ranking mundial – se justifica.
Num exercício de quem
tem tempo a perder, “analisei” o ranking da Folha (não me esquecendo que ele
tem um quê de estatística – mostra muito mas esconde o principal, mas valho-me
da credibilidade dessas coisas entre os outros) e vi que estamos bem na parada.
Faço aqui um intervalo
para lembrar o que me disse meu amigo Hanneman: “Nelson Rodrigues dizia que a
seleção brasileira é a pátria de chuteiras, mas hoje, com prisões de cartolas e
outros que não ousam viajar para o exterior para não acabarem na cadeia também,
adaptaria para a pátria de tornozeleiras”.
Bom, volto ao meu exercício
de quem não tem o que fazer.
Se pegarmos só os 50
melhores do ranking mundial, o Brasil tem dez times entre eles (o número entre
parênteses seguindo cada um indica a classificação em que ele aparece): São
Paulo (8), Santos (17), Cruzeiro e Internacional (21), Grêmio e Palmeiras (23),
Corinthians (25), Flamengo (30), Vasco (37) e Atlético Mineiro (46). Depois
disso, entre os cem melhores, ainda temos o Fluminense (91). Dez entre os 50;
11 entre os cem é ou não é muito?
Depois do Brasil, quem
tem mais times na parada é a Argentina: Boca Juniors (4), Independiente (7),
River Plate (14), Estudiantes (18), Vélez Sarfield (35), Racing e San Lorenzo
(37), Newel’s Old Boys (60) e Lanús (91). Ou seja, los hermanos têm 7 entre os
50 maiorais; 9 entre os cem.
Enquanto isso, a
Espanha dos dois timaços só têm 3 entre os 50 do topo da lista; 4 entre os cem.
E a Alemanha, outra
potência? Tem o Bayern de Munique (5), o Borussia Dortmund (29), o Hamburgo
(41), o Bayer Mönchengladbach que nunca ouvi falar (55), o Enfracht Frankfurt
que também desconheço (73) e o Bayer Leverkusen (83). Ou seja: 3 entre os 50; 6
entre os cem.
A Itália? Ah, lá vai:
Milan (2), Juventus (8), Inter de Milão (12), Fiorentina e Parma (60),
Sampdoria (73) e Roma (83). São 3 entre os 50 melhor classificados; 7 entre os
cem.
Lembro que, se aqui
temos times que, se ganhassem o campeonato, seriam pura zebra, na Espanha,
Itália, Alemanha e Inglaterra também tem. E as zebras às vezes acontecem.
Bahia, Sport e algum catarinense têm muito mais chance de ser campeão
brasileiro do que um Osasuna de ser campeão espanhol, ou de um Swansea City ou
Bournemouth ser campeão inglês. Entretanto eles disputam o campeonato lá. Por
sinal, lembro que também o Arsenal e o Liverpool estão fora da lista dos cem
melhores do mundo… rê-rê…
Imitando os europeus
aqui, e nos limitando a vinte times no campeonato brasileiro, ficam de fora
muitos times bem melhores do que alguns da série principal da Alemanha,
Espanha, Itália e Inglaterra. Lá, não tem tantos times “na fila” e pode-se
dizer que todas as regiões ficam representadas. Aqui, há muitos anos não tem
nenhum time da região Norte. Podem dizer que é porque os times de lá não
prestam. Mas afirmo que há alguns melhores do que os que disputam certos
campeonatos de ponta na Europa. Vejam que, ao lado do Barcelona e do Real
Madrid, disputam o campeonato espanhol times como o Eibar, o Betis, o Málaga, o
Levante, o Rayo Vallecano, o Sporting Gijón e o Getafe. Na Itália, tem o
Chievo, o Atalanta, o Sassuolo, o Hellas Verona… Na Alemanha, tem o Hoffenhein,
o Darmstadt 98… Na França, tem o Bastia, o Gazélec Ajaccio, o Troyes… Fazem
parte do “show”, não é? E de vez em quando provocam tropeções dos grandalhões,
assim como fazia com frequência o Juventus no campeonato paulista, que por isso
ficou conhecido como “moleque travesso”.
Por tudo isso, defendi
e defendo que tenha pelo menos um time de cada região. Lembrei anteriormente
aqui que o Paysandu é um time bom e com uma torcida enorme, extrapolando as
fronteiras do Pará. E lota o estádio. E disse: “Quero o Paysandu na série A”.
Ele quase chegou lá em 2015, mas não deu. Porém, continuo querendo.
E tem o Centro-Oeste,
que estava representado apenas pelo Goiás, que caiu no fim do ano porque
respeitou as exigências da CBF de não gastar mais do que podia e fazer dívidas.
A exigência é uma espécie de “fair play financeiro”, ou uma “lei de
responsabilidade fiscal” a ser seguida pelos clubes. O Goiás obedeceu e com
pouca grana não reforçou o time, para equilibrar o orçamento. Enquanto isso,
times grandes estão atolados em dívida e não dão bola para as exigências da
CBF. E não seguindo as regras, escaparam do rebaixamento.
O Goiás entrou na
justiça desportiva para não cair. Não gosto do tapetão. Mas continuo querendo
um campeonato “brasileiro” mesmo. Não um do Sudeste e Sul, com um pouquinho de
Nordeste. É certo que na Europa estão os melhores times da atualidade. Mas são
poucos por país, lá tem um monte de timecos disputando campeonatos nacionais.
Aqui, continuo querendo 28 times na série.
Em certa altura do
campeonato da série B, cheguei a pensar que entre os quatro que pulariam para a
série A poderiam estar o Luverdense (do Mato Grosso), o Sampaio Correia (do
Maranhão) e o Paysandu. Mas não deu. Eu gostaria muito que isso tivesse
acontecido.
Podem achar que quem
defende isso é maluco ou não entende nada de futebol. Tudo bem… Nada de estranhar
para quem torce pelo Bangu no Rio, para o América em Minas e para o Ypiranga na
Bahia. E eu torço.
*
Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário