Persistir na persistência
Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas ainda têm, em sua maioria, uma idéia falsa, ou pelo menos estereotipada, a respeito do verdadeiro significado do heroísmo. Herói não é somente aquele sujeito que salva uma vida, ou que se destaca em uma batalha ou que tem um assomo ímpar de coragem, de acordo com os padrões vigentes. Estes podem sê-lo, não há dúvida. Contudo, o indivíduo aparentemente pacato, considerado "comum", aquele que não tem nada de excepcional na aparência ou nas atitudes que o destaque da multidão, mas que seja persistente na busca dos seus sonhos, aplicado em suas tarefas e responsável em sua conduta também o é. E talvez com maiores méritos do que aqueles que emergem, de uma hora para outra, para a fama, ao sabor das oportunidades ou circunstâncias.
O reverendo norte-americano Norman Vincent Peale, de tantas e positivas mensagens em seus inúmeros livros e sermões, observou: "Uma das coisas mais simples sobre a arte de viver é que para chegar aonde desejamos é preciso persistir na persistência". Trago estas palavras como lema em minha vida e repito-as nos piores momentos, naqueles em que massacrado por problemas e acossado pelo desencanto, me vejo tentado a desistir de tudo. Tanto isto é verdade, que as figuras que me são inspiradoras, aquelas que desejo imitar e que se constituem em luzes no meu caminho, foram persistentes na busca dos seus ideais, vencendo deficiências e superando dificuldades.
Em dezembro de 1967, classificado nos cinco primeiros lugares em um concurso de crônicas de Natal promovido pelo "Correio Popular", fui entrevistado pela professora e jornalista Célia Siqueira Farjallat. Na oportunidade, indagado sobre os meus ídolos, não titubeei. Nomeei, de imediato, Abraham Lincoln e Helen Keller. Ambos vencedores por sua coragem, fé e, sobretudo, persistência. O ex-presidente norte-americano era, quando moço, simples lenhador. Pôs na cabeça, no entanto, que um dia iria presidir os Estados Unidos. Estudou em condições adversas, à luz de velas, tornou-se advogado, destacou-se na profissão, entrou na vida pública, superou todos os obstáculos políticos para galgar degrau após degrau até chegar ao topo: à presidência da República. Conquistou, dessa forma, o seu sonho, não esperando pelo acaso. É, portanto, símbolo por excelência de persistência.
E o que dizer de Helen Keller? Cega, surda e muda, tinha tudo para ser posta à margem da vida e até para ser classificada como uma pessoa retardada. Mas nunca se conformou em assumir esse humilhante papel. É certo que contou com a generosidade de Anne Sulivan para se desenvolver. Primeiro, aprendeu a ler, através da linguagem Braille. Achou pouco. Decidiu aprender a falar. Também entendeu que ainda não era o suficiente. Queria ir mais longe, muito mais, na busca do seu espaço na vida.
Houve, é certo, momentos de desespero, em que pensou em abandonar tudo e se recolher à sua "desgraça". É compreensível. Mas Anne Sulivan não deixou. Keller persistiu. Formou-se, de forma brilhante, na universidade, em 1904. Ainda achava que era pouco. Tornou-se inflamada oradora. Fez palestras e conferências por todos os Estados Unidos, narrando sua experiência. Legou-nos vários livros, primores de otimismo e positividade. Anne Sulivan e Helen Keller, como se vê, persistiram na persistência.
A poetisa norte-americana Ella Wheeler Wilcox acentua: "O homem é o que ele pensa. Não o que diz, lê ou ouve. Mediante persistente pensar podemos desfazer qualquer condição que exista. Podemos libertar-nos de quaisquer cadeias, quer da pobreza, quer do pecado, da doença, da infelicidade ou do medo". E Michael Drury observa: "Podemos não ter os dotes necessários para construir uma ponte, compor um poema, ou descobrir uma nova estrela; mas se quisermos viver nossa vida com profundidade e espírito criador, precisamos trabalhar incessantemente para expressar o nosso próprio conceito do que significa estar vivo". Temos, em suma, que "persistir na persistência".
Um dos textos mais belos a este propósito nos foi legado por um francês igualmente persistente. Escritor, transformou-se em político, chegando ao Senado pelo voto popular e se tornando símbolo de homem público. E não apenas para as pessoas de seu tempo, mas de todas as épocas posteriores. Refiro-me ao poeta, romancista e conferencista Victor Hugo, que escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências. Em conquistarmos os nossos sonhos...
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Por Pedro J. Bondaczuk
As pessoas ainda têm, em sua maioria, uma idéia falsa, ou pelo menos estereotipada, a respeito do verdadeiro significado do heroísmo. Herói não é somente aquele sujeito que salva uma vida, ou que se destaca em uma batalha ou que tem um assomo ímpar de coragem, de acordo com os padrões vigentes. Estes podem sê-lo, não há dúvida. Contudo, o indivíduo aparentemente pacato, considerado "comum", aquele que não tem nada de excepcional na aparência ou nas atitudes que o destaque da multidão, mas que seja persistente na busca dos seus sonhos, aplicado em suas tarefas e responsável em sua conduta também o é. E talvez com maiores méritos do que aqueles que emergem, de uma hora para outra, para a fama, ao sabor das oportunidades ou circunstâncias.
O reverendo norte-americano Norman Vincent Peale, de tantas e positivas mensagens em seus inúmeros livros e sermões, observou: "Uma das coisas mais simples sobre a arte de viver é que para chegar aonde desejamos é preciso persistir na persistência". Trago estas palavras como lema em minha vida e repito-as nos piores momentos, naqueles em que massacrado por problemas e acossado pelo desencanto, me vejo tentado a desistir de tudo. Tanto isto é verdade, que as figuras que me são inspiradoras, aquelas que desejo imitar e que se constituem em luzes no meu caminho, foram persistentes na busca dos seus ideais, vencendo deficiências e superando dificuldades.
Em dezembro de 1967, classificado nos cinco primeiros lugares em um concurso de crônicas de Natal promovido pelo "Correio Popular", fui entrevistado pela professora e jornalista Célia Siqueira Farjallat. Na oportunidade, indagado sobre os meus ídolos, não titubeei. Nomeei, de imediato, Abraham Lincoln e Helen Keller. Ambos vencedores por sua coragem, fé e, sobretudo, persistência. O ex-presidente norte-americano era, quando moço, simples lenhador. Pôs na cabeça, no entanto, que um dia iria presidir os Estados Unidos. Estudou em condições adversas, à luz de velas, tornou-se advogado, destacou-se na profissão, entrou na vida pública, superou todos os obstáculos políticos para galgar degrau após degrau até chegar ao topo: à presidência da República. Conquistou, dessa forma, o seu sonho, não esperando pelo acaso. É, portanto, símbolo por excelência de persistência.
E o que dizer de Helen Keller? Cega, surda e muda, tinha tudo para ser posta à margem da vida e até para ser classificada como uma pessoa retardada. Mas nunca se conformou em assumir esse humilhante papel. É certo que contou com a generosidade de Anne Sulivan para se desenvolver. Primeiro, aprendeu a ler, através da linguagem Braille. Achou pouco. Decidiu aprender a falar. Também entendeu que ainda não era o suficiente. Queria ir mais longe, muito mais, na busca do seu espaço na vida.
Houve, é certo, momentos de desespero, em que pensou em abandonar tudo e se recolher à sua "desgraça". É compreensível. Mas Anne Sulivan não deixou. Keller persistiu. Formou-se, de forma brilhante, na universidade, em 1904. Ainda achava que era pouco. Tornou-se inflamada oradora. Fez palestras e conferências por todos os Estados Unidos, narrando sua experiência. Legou-nos vários livros, primores de otimismo e positividade. Anne Sulivan e Helen Keller, como se vê, persistiram na persistência.
A poetisa norte-americana Ella Wheeler Wilcox acentua: "O homem é o que ele pensa. Não o que diz, lê ou ouve. Mediante persistente pensar podemos desfazer qualquer condição que exista. Podemos libertar-nos de quaisquer cadeias, quer da pobreza, quer do pecado, da doença, da infelicidade ou do medo". E Michael Drury observa: "Podemos não ter os dotes necessários para construir uma ponte, compor um poema, ou descobrir uma nova estrela; mas se quisermos viver nossa vida com profundidade e espírito criador, precisamos trabalhar incessantemente para expressar o nosso próprio conceito do que significa estar vivo". Temos, em suma, que "persistir na persistência".
Um dos textos mais belos a este propósito nos foi legado por um francês igualmente persistente. Escritor, transformou-se em político, chegando ao Senado pelo voto popular e se tornando símbolo de homem público. E não apenas para as pessoas de seu tempo, mas de todas as épocas posteriores. Refiro-me ao poeta, romancista e conferencista Victor Hugo, que escreveu: "Todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: 'perseverar'. A constância diz que espécie de homem há dentro de nós, qual é a nossa personalidade, a dimensão da nossa coragem. Os constantes são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o tenaz, porém, tem a grandeza". Tenacidade é sinônimo de persistência. Só ela conduz ao verdadeiro heroísmo. E este consiste em vencermos nossas deficiências. Em conquistarmos os nossos sonhos...
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Adoro textos, como este, em que, durante a leitura uma série de personagens vai desfilando em nossa mente, gente de hoje e de ontem, nossas conhecidas, que bem podem pertencer às histórias. Um estímulo e tanto. Quando vejo pessoas perfeitas e que nada fazem, penso no desperdício, e o pior, quando essas mesmas pessoas queixam-se o tempo todo, em auto-piedade, quando não em falsos auto-flagelos. Falta-me coragem, algumas vezes, mas é ótimo quando somos capazes de segurar as rédeas e definir a direção.
ResponderExcluirVim dar uma espiada e me deparo com esse texto.
ResponderExcluirEm meio a tantas adversidades me sinto agraciada
pois me vi um pouquinho nele, não que eu seja exemplo de persistência ou de coragem, mas venho
tentando aprender a superar as minhas limitações
para poder lidar com o outro.
"Uma das coisas mais simples sobre a arte de viver é que para chegar aonde desejamos é preciso persistir na persistência".
Que bom ter passado por aqui hoje, obrigado Pedro.
Abraços