Encontro fatal
As descobertas – ouso afirmar embora admita contestações – são uma das principais características da vida. Vivemos descobrindo coisas, concretas e abstratas, do nascimento à morte. E, fôssemos imortais, seguiríamos descobrindo eternidade afora. Chegamos a “este” mundo (desconheço, óbvio, se existe outro com condições de abrigar a vida como a conhecemos, embora intua que sim) simultaneamente estranho e hostil, porém também fascinante e misterioso, sem saber coisa alguma. Custamos a aprender a sentar, a engatinhar, a andar, a falar e vai por aí afora. E continuamos aprendendo, aprendendo e aprendendo, tanto coisas básicas e essenciais à sobrevivência, quanto as supérfluas, inúteis e algumas até nocivas e deletérias. Embora pareça clichê, e de fato seja, o saber não ocupa lugar.
Somos dotados de insaciável curiosidade, que é a "mãe" de toda a sabedoria (mas, não raro, também, de toda a burrice). Procuramos conhecer de tudo, quer esse conhecimento nos conduza a uma evolução, quer nos traga riscos de sofrer retrocessos ou até mesmo nos leve à autodestruição, ou individual ou até da espécie (como são os casos dos segredos do átomo e da estrutura genética, capazes de fazer o ser humano desaparecer do universo, se utilizados de forma inadequada).
O conhecimento de que mais necessitamos, porém, posto que apenas parcialmente, o auto-conhecimento, é relegado a um segundo plano, como se fosse desnecessário. Ledo engano! E por que me refiro a essa “parcialidade” no processo de nos conhecermos a nós mesmos? Porque entendo que jamais teremos possibilidades de chegar ao auto-conhecimento integral. Sei que muitos contestarão essa afirmação e é saudável e necessário que assim seja. A contestação, quando inteligente e civilizada, é não apenas útil, mas indispensável para se chegar à verdade (outra abstração ambígua) ou pelo menos se aproximar dela.
Não creio que haja alguém que se conheça integralmente e que não se surpreenda, amiúde, com alguma idéia, com algum desejo ou com alguma ação que não julgava ser capaz de ter ou praticar. Somos, mesmo que parcialmente, “estranhos” a nós mesmos. Isso mesmo. E, como é de meu estilo exagerar, não reluto em utilizar o superlativo “estranhíssimos”. Há quem busque (ou pelo menos aparente buscar) este auto-conhecimento. A maioria, porém, sequer pensa nisso. Muitas pessoas, embora pensem, relutam em assumir essa tarefa. A maioria não a assume jamais. Aliás, sequer chega a tentar. Quem nem tenta, possivelmente, teme o que possa vir a descobrir a seu respeito, sabe-se lá.
Todavia, só conhecendo nossas potencialidades e vulnerabilidades (embora apenas algumas, porquanto insisto em minha crença na impossibilidade de um auto-conhecimento integral) teremos condições de evoluir e, quem sabe, voar tão alto, a ponto de alcançar as estrelas. Por isso, vale o esforço.
Gosto de abordar este assunto, sempre que aparece oportunidade para tal, mesmo sem ter nada de novo a acrescentar ao debate. Embora não acredite na possibilidade de um auto-conhecimento integral, defendo que devemos tentar, e tentar e tentar, exaustiva e permanentemente, chegar a essa “luz” espiritual. Aliás, este é o objetivo final de todos os filósofos e correntes filosóficas. Muitas não explicitam essa meta, mas ela está sempre subjacente em suas proposições e seus raciocínios.
As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo atravessa neste início da segunda década do terceiro milênio da era cristã, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente profunda pelos outros. Daí a solidão que domina tanta gente. Daí a fuga para os “paraísos” artificiais de droga e do alcoolismo (na verdade infernos). Daí a violência crescente que pode nos destruir a todos. O que tais pessoas precisam é de objetivos claros e de um mínimo de auto-conhecimento, para não dizer, de bom senso, que de fato não têm e, pior, nem procuram ter.
A este propósito, gosto de citar, sempre que o assunto vem à baila, uma afirmação do premiado poeta chileno Pablo Neruda, que escreveu: “Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas”. Fugir desse encontro é inútil, posto que impossível. Para alguns, será uma revelação gloriosa. Para outros...
Algumas verdades, pré-existentes, mas que por alguma razão, não conseguimos alcançar em determinado período da nossa trajetória de vida, de repente, emergem diante de nós, se desnudam aos nossos olhos, se revelam à nossa consciência. Muitas são óbvias, mas encaramo-las dessa maneira apenas depois da revelação. Esta, em geral, ocorre com a aquisição da experiência, resultado de muitos anos de empirismo, de sucessivas tentativas e erros. Torna-se, para nós, também uma descoberta.
Robert Louis Stevenson faz interessante observação a esse propósito: "Todos podem executar seu trabalho, por difícil que seja, por um dia. Todos podem viver com doçura, paciência, ternura e pureza até que o Sol se ponha. E isso é tudo o que a vida realmente significa". Ou seja, ela é muito simples. Nós é que a complicamos com nossos temores, iras, ambições e egoísmo. Sei que estou sendo repetitivo, mas este é um vezo de jornalista. Afinal, o jornalismo tende a ser, e é, reiterativo.
Reagimos (para o bem e para o mal, mas geralmente para este último) muito em função das circunstâncias, do momento, das oportunidades. O que o indivíduo precisa é das informações básicas que o conduzam ao autoconhecimento. Ou, para ser coerente, à tentativa de chegar a ele. Reitero que, somente se conhecendo (posto que, insisto, parcialmente) o indivíduo estará capacitado a fazer a escolha do que entender ser o melhor para ele.
E se errar? Paciência! O erro é uma possibilidade onipresente de quem tenta, arrisca e age. Se o cometer, será, certamente, um fracassado e infeliz, caso não torne a tentar. Tem que continuar tentando, quantas vezes forem necessárias. Precisará, portanto, ter um objetivo na vida, um norte, uma direção para onde seguir. Mas de um que seja factível e de preferência de caráter altruísta, que lhe direcione as ações para metas maiores do que as individuais e mesquinhas. Só assim terá (posto que remota) possibilidade e se sentir minimamente realizado e feliz. Você se conhece? Eu, certamente, não.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
As descobertas – ouso afirmar embora admita contestações – são uma das principais características da vida. Vivemos descobrindo coisas, concretas e abstratas, do nascimento à morte. E, fôssemos imortais, seguiríamos descobrindo eternidade afora. Chegamos a “este” mundo (desconheço, óbvio, se existe outro com condições de abrigar a vida como a conhecemos, embora intua que sim) simultaneamente estranho e hostil, porém também fascinante e misterioso, sem saber coisa alguma. Custamos a aprender a sentar, a engatinhar, a andar, a falar e vai por aí afora. E continuamos aprendendo, aprendendo e aprendendo, tanto coisas básicas e essenciais à sobrevivência, quanto as supérfluas, inúteis e algumas até nocivas e deletérias. Embora pareça clichê, e de fato seja, o saber não ocupa lugar.
Somos dotados de insaciável curiosidade, que é a "mãe" de toda a sabedoria (mas, não raro, também, de toda a burrice). Procuramos conhecer de tudo, quer esse conhecimento nos conduza a uma evolução, quer nos traga riscos de sofrer retrocessos ou até mesmo nos leve à autodestruição, ou individual ou até da espécie (como são os casos dos segredos do átomo e da estrutura genética, capazes de fazer o ser humano desaparecer do universo, se utilizados de forma inadequada).
O conhecimento de que mais necessitamos, porém, posto que apenas parcialmente, o auto-conhecimento, é relegado a um segundo plano, como se fosse desnecessário. Ledo engano! E por que me refiro a essa “parcialidade” no processo de nos conhecermos a nós mesmos? Porque entendo que jamais teremos possibilidades de chegar ao auto-conhecimento integral. Sei que muitos contestarão essa afirmação e é saudável e necessário que assim seja. A contestação, quando inteligente e civilizada, é não apenas útil, mas indispensável para se chegar à verdade (outra abstração ambígua) ou pelo menos se aproximar dela.
Não creio que haja alguém que se conheça integralmente e que não se surpreenda, amiúde, com alguma idéia, com algum desejo ou com alguma ação que não julgava ser capaz de ter ou praticar. Somos, mesmo que parcialmente, “estranhos” a nós mesmos. Isso mesmo. E, como é de meu estilo exagerar, não reluto em utilizar o superlativo “estranhíssimos”. Há quem busque (ou pelo menos aparente buscar) este auto-conhecimento. A maioria, porém, sequer pensa nisso. Muitas pessoas, embora pensem, relutam em assumir essa tarefa. A maioria não a assume jamais. Aliás, sequer chega a tentar. Quem nem tenta, possivelmente, teme o que possa vir a descobrir a seu respeito, sabe-se lá.
Todavia, só conhecendo nossas potencialidades e vulnerabilidades (embora apenas algumas, porquanto insisto em minha crença na impossibilidade de um auto-conhecimento integral) teremos condições de evoluir e, quem sabe, voar tão alto, a ponto de alcançar as estrelas. Por isso, vale o esforço.
Gosto de abordar este assunto, sempre que aparece oportunidade para tal, mesmo sem ter nada de novo a acrescentar ao debate. Embora não acredite na possibilidade de um auto-conhecimento integral, defendo que devemos tentar, e tentar e tentar, exaustiva e permanentemente, chegar a essa “luz” espiritual. Aliás, este é o objetivo final de todos os filósofos e correntes filosóficas. Muitas não explicitam essa meta, mas ela está sempre subjacente em suas proposições e seus raciocínios.
As pessoas, no processo acelerado de massificação pelo qual o mundo atravessa neste início da segunda década do terceiro milênio da era cristã, sequer param para pensar qual a razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções, naturalmente) acerca do que estão fazendo sobre a face da Terra. Em suma, não se entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Vivem porque vivem, e pronto! E se não têm um grau de estima genuíno por si próprias, não podem jamais sentir qualquer coisa de realmente profunda pelos outros. Daí a solidão que domina tanta gente. Daí a fuga para os “paraísos” artificiais de droga e do alcoolismo (na verdade infernos). Daí a violência crescente que pode nos destruir a todos. O que tais pessoas precisam é de objetivos claros e de um mínimo de auto-conhecimento, para não dizer, de bom senso, que de fato não têm e, pior, nem procuram ter.
A este propósito, gosto de citar, sempre que o assunto vem à baila, uma afirmação do premiado poeta chileno Pablo Neruda, que escreveu: “Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas”. Fugir desse encontro é inútil, posto que impossível. Para alguns, será uma revelação gloriosa. Para outros...
Algumas verdades, pré-existentes, mas que por alguma razão, não conseguimos alcançar em determinado período da nossa trajetória de vida, de repente, emergem diante de nós, se desnudam aos nossos olhos, se revelam à nossa consciência. Muitas são óbvias, mas encaramo-las dessa maneira apenas depois da revelação. Esta, em geral, ocorre com a aquisição da experiência, resultado de muitos anos de empirismo, de sucessivas tentativas e erros. Torna-se, para nós, também uma descoberta.
Robert Louis Stevenson faz interessante observação a esse propósito: "Todos podem executar seu trabalho, por difícil que seja, por um dia. Todos podem viver com doçura, paciência, ternura e pureza até que o Sol se ponha. E isso é tudo o que a vida realmente significa". Ou seja, ela é muito simples. Nós é que a complicamos com nossos temores, iras, ambições e egoísmo. Sei que estou sendo repetitivo, mas este é um vezo de jornalista. Afinal, o jornalismo tende a ser, e é, reiterativo.
Reagimos (para o bem e para o mal, mas geralmente para este último) muito em função das circunstâncias, do momento, das oportunidades. O que o indivíduo precisa é das informações básicas que o conduzam ao autoconhecimento. Ou, para ser coerente, à tentativa de chegar a ele. Reitero que, somente se conhecendo (posto que, insisto, parcialmente) o indivíduo estará capacitado a fazer a escolha do que entender ser o melhor para ele.
E se errar? Paciência! O erro é uma possibilidade onipresente de quem tenta, arrisca e age. Se o cometer, será, certamente, um fracassado e infeliz, caso não torne a tentar. Tem que continuar tentando, quantas vezes forem necessárias. Precisará, portanto, ter um objetivo na vida, um norte, uma direção para onde seguir. Mas de um que seja factível e de preferência de caráter altruísta, que lhe direcione as ações para metas maiores do que as individuais e mesquinhas. Só assim terá (posto que remota) possibilidade e se sentir minimamente realizado e feliz. Você se conhece? Eu, certamente, não.
Boa leitura.
O Editor.
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A sua opinião sobre o receio do autoconhecimento e o dizer de Pablo Neruda de que o encontro com a gente mesmo pode ser o pior dos momentos, ambos pensamentos são eletrizantes. Causam exaltação do espírito e medo.
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