Considerações de Dona Joaninha
* Por Fausto Brignol
Primeiro eu tenho que me apresentar. O Fausto disse que não precisava, mas eu considero uma questão de boa educação. Não que eu esteja chamando o Fausto de mal-educado. Ele tem lá o seu jeito, as suas “cancorosas”, como dizia o meu pai – e se me permitem a expressão – mas é um bom menino, embora não seja exatamente um menino, mas um homem na força da idade, quase um sessentão, na verdade, com mais achaques do que eu, que já me aproximo de uma certa idade provecta em que a qualquer momento poderei ser chamada por Deus – se Ele considerar que sou justa e digna para vÊ-lo -, e só Ele sabe a hora certa de todos nós, homens animais e plantas e demais seres a que não nos é dada a virtude de enxergar, seres espirituais que nos cercam e nos auxiliam no trabalho desta vida, mas que não podemos nunca considerar trabalhosa ou demasiado cansativa, porque é uma doação que devemos agradecer a cada minuto sem nos queixarmos ou nos preocuparmos em demasia, porque tudo vem a seu tempo e hora, como diz o Eclesiastes.
O meu nome é Maria Joana Said da Silva. Meus pais eram sírios-libaneses, mas aqui no Brasil nos chamam de “turcos”, o que sempre deixava o meu pai furioso, porque os turcos justamente não tem nada a ver com os sírios e até existe uma certa animosidade entre nós e eles – mas não devo falar nessas coisas! -, e meus pais, como eu estava dizendo, ou escrevendo, eram da religião muçulmana, que sempre foi a religião dos pais deles e dos pais dos pais deles e de todos, ou quase todos os árabes, mas, quando chegaram no Brasil, devido à infinidade de guerras que acontecem lá, principalmente com os judeus (que também são filhos de Deus e eu até tenho uma amiga judia, a dona Sara, de muito boa família, e sempre fomos muito amigas – para vocês verem que isso de raça e de religião não tem significado algum quando prepondera a boa amizade), quando chegaram aqui os meus pais acharam por bem deixarem-se batizar na Igreja Católica, mas a minha mãe, Judite – que Deus a tenha! – sempre me disse que Deus é um só, independente de crença ou de raça (embora a minha boa amiga Sara insista em dizer que o deus da religião dos judeus é que é o único verdadeiro, coitada!, também já está ficando um pouco velha...) e que o meu bom pai Youssef, que depois foi batizado como José, mas preferia ser chamado de Michel, em homenagem ao pai dele, mas aqui em casa era chamado pela minha mãe somente de “meu Youssef querido” e ele chamava ela de “Judite da minha alma” – para vocês verem como o amor é bonito quando é sincero – o meu bom pai, que sempre tratou a todos nós com todo o carinho e dedicação, deixou-se batizar, e a toda a família, porque, como dizia a minha mãe, seria melhor para os negócios, e em seguida ele conseguiu abrir uma pequena casa de comércio, pequena, onde vendia coisas necessárias para todos, como roupas, fazendas, botões – o que chamam hoje de armarinho – e fez amizade com todos na cidade.
Isto, depois de passar um bom tempo vendendo de porta em porta e economizando tudo o que podia, porque meus pais sempre foram muito econômicos, embora nunca tenham deixado faltar nada em casa, principalmente para os filhos, que foram nascendo todos aqui no Brasil, todos os onze, menos eu, que sou a mais velha e nasci a caminho, no navio mercante que os trouxe para cá, mas dizem que ainda em águas do Líbano, e meu pai, por isso, costumava me chamar, quando eu ainda era menina, de “minha pequena flor do Líbano”, o que me deixava toda envaidecida. Eu estava dizendo que eles eram muito econômicos – o que hoje ninguém consegue ser devido a essa mania de comprarem tudo o que vêem – e vou dizer como. Havia um truque. De tudo o que meu pai vendia durante o dia, metade era colocada de lado como se não existisse. Minha mãe é que guardava aquela metade. E assim, dia após dia, mês após mês, ano após ano. E aquele pouco guardado era juntado com um outro pouco e, de pouco em pouco, conseguiram juntar um dinheirinho para comprar um terreno, onde construíram uma casa para a família com uma loja ao lado, que era o negócio da família, porque todos ajudavam, bastava ter a idade da compreensão.
Por isto acabaram dizendo que o meu pai ficou rico. Mas não era riqueza nenhuma, apenas o suficiente para sustentar uma família grande, dar roupa, educação e tudo o que fosse necessário, porque nós só usávamos o necessário – as roupas dos mais velhos passando para os mais moços, sem nenhum luxo ou vício – que isto não se admitia lá em casa. Minha mãe ensinava as meninas e meu pai ensinava os meninos, porque tem coisas que só as mulheres podem ensinar para as mulheres e só os homens podem ensinar para os homens. E a educação nascia na família. Não como hoje quando até as melhores famílias pensam que educar é o mesmo que largar os filhos nos colégios, com pessoas diferentes que tem costumes diferentes. Por isso surgem os vícios e outras coisas horríveis que eu nem gosto de pensar!
Assim, quando eu fui batizada, me deram o nome de Maria Joana, embora o meu nome original fosse apenas Maria, em homenagem à mãe de Issa, o grande profeta, digo, à mãe de Jesus, o filho de Deus. E o nome Joana, segundo os católicos, era o nome de uma menina francesa, Joana D’Arc, que costumava ver as fadinhas quando era ainda criança, e até na adolescência, o que eu não duvido nada, porque quando eu era criança e até quase a puberdade eu tinha um amigo que brincava comigo, chamado Daniel, e sempre que eu falava nele os meu pais se olhavam de maneira estranha e acariciavam a minha cabeça e me davam beijinhos no rosto e me perguntavam como era o Daniel, o que eu estranhava muito, porque não entendia como é que eles, os meus pais, não enxergavam o meu companheiro de todas as brincadeiras. Só bem depois, quando o Daniel começou a rarear e um dia me disse que não poderia voltar mais, porque eu estava ficando grande e eu entrei em casa chorando e a minha mãe correu para me perguntar porque e depois tentar me consolar é que meus pais me explicaram que somente eu via o Daniel. Disseram que ele era um Djinn (o que chamam em português de gênio), um espírito da natureza, que somente as crianças ou as pessoas muito puras podem enxergar e que eu não deveria ficar triste porque ele estava indo embora. Na verdade, ele nunca iria se afastar de mim, embora eu não o pudesse ver mais e que sempre que estivesse triste ou precisasse de algum tipo de ajuda, pensasse nele que eu seria atendida. Que Daniel é o que os católicos chamam de Anjo da Guarda, mas que eu nunca deveria dizer em confissão para nenhum padre que eu tinha tido aquele companheiro de infância, porque eles, os padres, não entendiam muito disso, nem faziam ideia do que fosse um Djinn e poderiam pensar que era uma espécie de demônio e assustariam tanto o Daniel que ele poderia não querer voltar mais – tão sensível que ele é!
Quando eu fui batizada, junto com os meus outros irmãos, me deram o nome de Joana e a minha mãe ficou feliz pela escolha quando leu sobre a vida da santa, onde tinha uma passagem que dizia que ela era “assistida pelos anjos”, porque os católicos tinham a mania, que eu considero muito bonita, de batizar as crianças com os nomes dos seus santos ou outros nomes que aparecem na Bíblia. Quando nascia uma criança, escolhiam o nome no seu livro santo, que mistura duas religiões – e uma vez eu até tive uma discussão sobre isso com um padre, porque como pode um Deus que se diz “Senhor dos Exércitos”, que mandava matar sem piedade todas as pessoas dos outros povos, inclusive os meus ancestrais libaneses, que eram confundidos com os filisteus (embora, na verdade, fossem fenícios) para dar espaço para o seu povo escolhido ocupar as terras daqueles que tinham sido assassinados por ordem dele, ser o mesmo Deus que Jesus chamava de Pai? Logo Jesus, que pregava o amor e a paz... Embora fosse judeu, Jesus, filho de Maria, foi morto pelos romanos, a pedido dos próprios judeus, justamente porque era contrário àquela religião de ódio e discriminação. Vocês se lembram da passagem onde ele chicoteia os mercadores do Templo? E, hoje em dia, a mesma coisa acontece naquela mesma terra, quando os palestinos são expulsos dos seus lares, a ferro e fogo, e encarcerados por um muro em um pedacinho em que mal cabe uma pequena cidade! E quando, indignada, dia destes falei isso para a dona Sara e ela me disse que esses atos estavam justificados na Bíblia, nós quase brigamos, mas eu acabei mudando de assunto para não perder a amiga e perdoei ela, porque não sabe o que diz, nem o que pensa. E, no fundo, é uma boa pessoa. Por isto, eu não entendo como os padres da Igreja Católica podem unir e dizer que é a mesma duas religiões tão diferentes, só porque alguém, lá na Idade Média, juntou as duas em um só livro, provocando uma tamanha confusão que só poderá dar no Juízo Final mesmo, se tudo continuar assim!
Mas eu estava falando sobre os nomes, e porque me deram o nome cristão de Joana, e assim o meu prenome ficou composto: Maria Joana. E como eu achava bonito aquele costume de preservar os nomes considerados santos que, ao menos, tinham um significado ou uma razão de ser, ao contrário de hoje, quando vemos meninas e meninos serem batizados com os nomes mais estranhos e sem qualquer raíz, apenas porque os pais acham bonito! Ainda antes de eu me aposentar, há cinco anos atrás – porque eu fui professora toda a minha vida, e mesmo depois que eu casei com o João Batista (que tanto amei e ainda amo e confio que deve estar nos braços de Deus), ainda muito jovem, por uma afobação dos calores da juventude que nos fez dar o mau passo - justo quando os meus pais não estavam gostando daquele namoro, porque queriam que eu casasse com um dos meus primos, e depois nos obrigaram a casar - eu e João Batista -, para a nossa alegria!...
Enfim, quando casamos, e depois de algumas dificuldades naturais que todo o casal jovem passa, quando o João Batista passou a trabalhar com o meu pai e depois de alguns anos abriu a sua própria loja e começamos a melhorar de vida e o João Batista me pediu para deixar a escola, eu não concordei (e foi uma das poucas brigas que tivemos, porque ele era uma pessoa muito calma e compreensiva), porque não tivemos filhos e eu considerava como filhos a todos aqueles a quem eu tinha a felicidade de ensinar.
E por isto me dediquei tanto ao ensino e gosto tanto das crianças e adolescentes. Mas o que eu estranhei muito – e até hoje estranho cada vez mais – foi essa questão dos nomes.
Primeiro foi aquela série de “Daianas”. Até entendo que as mães e os pais vêem muita novela e esses noticiários que só falam de celebridades e incentivam o consumo e tudo o que não deve ser feito, mas será que esses pais de hoje não raciocinam? Primeiro aquelas “Daianas”, devido aquela princesa que morreu – coitada! – e de tanto ouvirem falar nela. Depois, para modificarem um pouco, passaram para “Taiana”, só trocando o “D” pelo “T”. E depois as “Suelen”, “Natali”, e os “Maicon”, como tem “Maicon” por aí! E até “Maiconsuel” eu encontrei nos livros de chamada. E, por fim, os “Uashinton”. Assim mesmo como eu escrevi: “Uashinton”. E certa vez, quando eu estava fazendo a chamada e chamei um dos tantos “Uashinton”, ele me retrucou: “Professora, a minha mãe disse que o meu nome não deve ser pronunciado “Uashinton”, mas “Uóxinton”. E estava escrito “Waxinton”, no livro de chamada, mas eu deixei assim mesmo e passei a chamar ele de “Uóxinton”, coitado! – e tudo isto por causa da falta de educação cultural dos pais. E eu ali, tentando dar um mínimo de educação para os filhos. Foi quando resolvi que já estava na hora de me aposentar. Já tinha passado da idade, mas não queria me afastar da escola, mas fui me desiludindo com tanta coisa, ali dentro!
Mas vou deixar para contar essas “tantas coisas” outra vez. O Fausto me pediu apenas que eu escrevesse um artigo sobre as eleições, dando a minha opinião a respeito. Para o blog dele. Eu disse a ele que não tinha experiência de escrever, mas ia ver no que dava. Faz anos que moramos na mesma quadra e, desde que me aposentei, de vez em quando conversamos de uma ou de outra coisa. Foi numa dessas que ele me falou do seu blog. Dei uma olhada e até gostei, embora prefira as poesias e os contos dele, como aquele da “Capivara”, que me fez rir e chorar.
Pois o que eu acho das eleições é que estão muito estranhas. Todos os dois dependendo dos votos da Marina, que se faz de rogada e diz que só vai anunciar o seu apoio a um deles no dia 17, depois da segunda pesquisa de opinião... Será que ela vai apoiar aquele ou aquela que for melhor na pesquisa? Eu esperava um pouco mais de personalidade dela, sinceramente. Comigo é pão-pão, queijo-queijo! Não gosto dessas pessoas que ficam em cima do muro, esperando sabe-se lá o quê! Não quero nem pensar no que ela está esperando ou porque está esperando... Mas me disseram que a Dilma anda telefonando muito para ela... E a própria Dilma agora está dizendo que está sendo vítima de uma “corrente do mal”. Pois deveria tomar um banho de sal grosso, se ela se sente assim. Está tudo muito estranho...
Infelizmente, não deu para escrever sobre as eleições como eu gostaria, com detalhes e minúcias, como o Fausto tinha pedido. Preferi, primeiro, me apresentar. Não se pode ficar escrevendo para pessoas desconhecidas - na maioria – sobre qualquer coisa sem que elas saibam quem está escrevendo. Só tem uma coisa no blog do Fausto que eu não gosto muito: como tem flor! Não que eu não goste de flores... Adoro! Mas acho um pouco demais para um blog. Por isso eu vou pedir a ele que coloque uma foto da minha gata, Carolina, ilustrando o meu artigo, ou matéria – como ele diz.
Pois é isso. Acho que agora vocês já estão me conhecendo um pouco melhor. Até que tomei gosto em escrever e acho que me passei um pouco. Da próxima vez – se Deus quiser! – eu escrevo sobre assuntos mais atuais.
O meu nome é Maria Joana Said da Silva. Dona Joaninha, para os mais íntimos.
• Jornalista e escritor
* Por Fausto Brignol
Primeiro eu tenho que me apresentar. O Fausto disse que não precisava, mas eu considero uma questão de boa educação. Não que eu esteja chamando o Fausto de mal-educado. Ele tem lá o seu jeito, as suas “cancorosas”, como dizia o meu pai – e se me permitem a expressão – mas é um bom menino, embora não seja exatamente um menino, mas um homem na força da idade, quase um sessentão, na verdade, com mais achaques do que eu, que já me aproximo de uma certa idade provecta em que a qualquer momento poderei ser chamada por Deus – se Ele considerar que sou justa e digna para vÊ-lo -, e só Ele sabe a hora certa de todos nós, homens animais e plantas e demais seres a que não nos é dada a virtude de enxergar, seres espirituais que nos cercam e nos auxiliam no trabalho desta vida, mas que não podemos nunca considerar trabalhosa ou demasiado cansativa, porque é uma doação que devemos agradecer a cada minuto sem nos queixarmos ou nos preocuparmos em demasia, porque tudo vem a seu tempo e hora, como diz o Eclesiastes.
O meu nome é Maria Joana Said da Silva. Meus pais eram sírios-libaneses, mas aqui no Brasil nos chamam de “turcos”, o que sempre deixava o meu pai furioso, porque os turcos justamente não tem nada a ver com os sírios e até existe uma certa animosidade entre nós e eles – mas não devo falar nessas coisas! -, e meus pais, como eu estava dizendo, ou escrevendo, eram da religião muçulmana, que sempre foi a religião dos pais deles e dos pais dos pais deles e de todos, ou quase todos os árabes, mas, quando chegaram no Brasil, devido à infinidade de guerras que acontecem lá, principalmente com os judeus (que também são filhos de Deus e eu até tenho uma amiga judia, a dona Sara, de muito boa família, e sempre fomos muito amigas – para vocês verem que isso de raça e de religião não tem significado algum quando prepondera a boa amizade), quando chegaram aqui os meus pais acharam por bem deixarem-se batizar na Igreja Católica, mas a minha mãe, Judite – que Deus a tenha! – sempre me disse que Deus é um só, independente de crença ou de raça (embora a minha boa amiga Sara insista em dizer que o deus da religião dos judeus é que é o único verdadeiro, coitada!, também já está ficando um pouco velha...) e que o meu bom pai Youssef, que depois foi batizado como José, mas preferia ser chamado de Michel, em homenagem ao pai dele, mas aqui em casa era chamado pela minha mãe somente de “meu Youssef querido” e ele chamava ela de “Judite da minha alma” – para vocês verem como o amor é bonito quando é sincero – o meu bom pai, que sempre tratou a todos nós com todo o carinho e dedicação, deixou-se batizar, e a toda a família, porque, como dizia a minha mãe, seria melhor para os negócios, e em seguida ele conseguiu abrir uma pequena casa de comércio, pequena, onde vendia coisas necessárias para todos, como roupas, fazendas, botões – o que chamam hoje de armarinho – e fez amizade com todos na cidade.
Isto, depois de passar um bom tempo vendendo de porta em porta e economizando tudo o que podia, porque meus pais sempre foram muito econômicos, embora nunca tenham deixado faltar nada em casa, principalmente para os filhos, que foram nascendo todos aqui no Brasil, todos os onze, menos eu, que sou a mais velha e nasci a caminho, no navio mercante que os trouxe para cá, mas dizem que ainda em águas do Líbano, e meu pai, por isso, costumava me chamar, quando eu ainda era menina, de “minha pequena flor do Líbano”, o que me deixava toda envaidecida. Eu estava dizendo que eles eram muito econômicos – o que hoje ninguém consegue ser devido a essa mania de comprarem tudo o que vêem – e vou dizer como. Havia um truque. De tudo o que meu pai vendia durante o dia, metade era colocada de lado como se não existisse. Minha mãe é que guardava aquela metade. E assim, dia após dia, mês após mês, ano após ano. E aquele pouco guardado era juntado com um outro pouco e, de pouco em pouco, conseguiram juntar um dinheirinho para comprar um terreno, onde construíram uma casa para a família com uma loja ao lado, que era o negócio da família, porque todos ajudavam, bastava ter a idade da compreensão.
Por isto acabaram dizendo que o meu pai ficou rico. Mas não era riqueza nenhuma, apenas o suficiente para sustentar uma família grande, dar roupa, educação e tudo o que fosse necessário, porque nós só usávamos o necessário – as roupas dos mais velhos passando para os mais moços, sem nenhum luxo ou vício – que isto não se admitia lá em casa. Minha mãe ensinava as meninas e meu pai ensinava os meninos, porque tem coisas que só as mulheres podem ensinar para as mulheres e só os homens podem ensinar para os homens. E a educação nascia na família. Não como hoje quando até as melhores famílias pensam que educar é o mesmo que largar os filhos nos colégios, com pessoas diferentes que tem costumes diferentes. Por isso surgem os vícios e outras coisas horríveis que eu nem gosto de pensar!
Assim, quando eu fui batizada, me deram o nome de Maria Joana, embora o meu nome original fosse apenas Maria, em homenagem à mãe de Issa, o grande profeta, digo, à mãe de Jesus, o filho de Deus. E o nome Joana, segundo os católicos, era o nome de uma menina francesa, Joana D’Arc, que costumava ver as fadinhas quando era ainda criança, e até na adolescência, o que eu não duvido nada, porque quando eu era criança e até quase a puberdade eu tinha um amigo que brincava comigo, chamado Daniel, e sempre que eu falava nele os meu pais se olhavam de maneira estranha e acariciavam a minha cabeça e me davam beijinhos no rosto e me perguntavam como era o Daniel, o que eu estranhava muito, porque não entendia como é que eles, os meus pais, não enxergavam o meu companheiro de todas as brincadeiras. Só bem depois, quando o Daniel começou a rarear e um dia me disse que não poderia voltar mais, porque eu estava ficando grande e eu entrei em casa chorando e a minha mãe correu para me perguntar porque e depois tentar me consolar é que meus pais me explicaram que somente eu via o Daniel. Disseram que ele era um Djinn (o que chamam em português de gênio), um espírito da natureza, que somente as crianças ou as pessoas muito puras podem enxergar e que eu não deveria ficar triste porque ele estava indo embora. Na verdade, ele nunca iria se afastar de mim, embora eu não o pudesse ver mais e que sempre que estivesse triste ou precisasse de algum tipo de ajuda, pensasse nele que eu seria atendida. Que Daniel é o que os católicos chamam de Anjo da Guarda, mas que eu nunca deveria dizer em confissão para nenhum padre que eu tinha tido aquele companheiro de infância, porque eles, os padres, não entendiam muito disso, nem faziam ideia do que fosse um Djinn e poderiam pensar que era uma espécie de demônio e assustariam tanto o Daniel que ele poderia não querer voltar mais – tão sensível que ele é!
Quando eu fui batizada, junto com os meus outros irmãos, me deram o nome de Joana e a minha mãe ficou feliz pela escolha quando leu sobre a vida da santa, onde tinha uma passagem que dizia que ela era “assistida pelos anjos”, porque os católicos tinham a mania, que eu considero muito bonita, de batizar as crianças com os nomes dos seus santos ou outros nomes que aparecem na Bíblia. Quando nascia uma criança, escolhiam o nome no seu livro santo, que mistura duas religiões – e uma vez eu até tive uma discussão sobre isso com um padre, porque como pode um Deus que se diz “Senhor dos Exércitos”, que mandava matar sem piedade todas as pessoas dos outros povos, inclusive os meus ancestrais libaneses, que eram confundidos com os filisteus (embora, na verdade, fossem fenícios) para dar espaço para o seu povo escolhido ocupar as terras daqueles que tinham sido assassinados por ordem dele, ser o mesmo Deus que Jesus chamava de Pai? Logo Jesus, que pregava o amor e a paz... Embora fosse judeu, Jesus, filho de Maria, foi morto pelos romanos, a pedido dos próprios judeus, justamente porque era contrário àquela religião de ódio e discriminação. Vocês se lembram da passagem onde ele chicoteia os mercadores do Templo? E, hoje em dia, a mesma coisa acontece naquela mesma terra, quando os palestinos são expulsos dos seus lares, a ferro e fogo, e encarcerados por um muro em um pedacinho em que mal cabe uma pequena cidade! E quando, indignada, dia destes falei isso para a dona Sara e ela me disse que esses atos estavam justificados na Bíblia, nós quase brigamos, mas eu acabei mudando de assunto para não perder a amiga e perdoei ela, porque não sabe o que diz, nem o que pensa. E, no fundo, é uma boa pessoa. Por isto, eu não entendo como os padres da Igreja Católica podem unir e dizer que é a mesma duas religiões tão diferentes, só porque alguém, lá na Idade Média, juntou as duas em um só livro, provocando uma tamanha confusão que só poderá dar no Juízo Final mesmo, se tudo continuar assim!
Mas eu estava falando sobre os nomes, e porque me deram o nome cristão de Joana, e assim o meu prenome ficou composto: Maria Joana. E como eu achava bonito aquele costume de preservar os nomes considerados santos que, ao menos, tinham um significado ou uma razão de ser, ao contrário de hoje, quando vemos meninas e meninos serem batizados com os nomes mais estranhos e sem qualquer raíz, apenas porque os pais acham bonito! Ainda antes de eu me aposentar, há cinco anos atrás – porque eu fui professora toda a minha vida, e mesmo depois que eu casei com o João Batista (que tanto amei e ainda amo e confio que deve estar nos braços de Deus), ainda muito jovem, por uma afobação dos calores da juventude que nos fez dar o mau passo - justo quando os meus pais não estavam gostando daquele namoro, porque queriam que eu casasse com um dos meus primos, e depois nos obrigaram a casar - eu e João Batista -, para a nossa alegria!...
Enfim, quando casamos, e depois de algumas dificuldades naturais que todo o casal jovem passa, quando o João Batista passou a trabalhar com o meu pai e depois de alguns anos abriu a sua própria loja e começamos a melhorar de vida e o João Batista me pediu para deixar a escola, eu não concordei (e foi uma das poucas brigas que tivemos, porque ele era uma pessoa muito calma e compreensiva), porque não tivemos filhos e eu considerava como filhos a todos aqueles a quem eu tinha a felicidade de ensinar.
E por isto me dediquei tanto ao ensino e gosto tanto das crianças e adolescentes. Mas o que eu estranhei muito – e até hoje estranho cada vez mais – foi essa questão dos nomes.
Primeiro foi aquela série de “Daianas”. Até entendo que as mães e os pais vêem muita novela e esses noticiários que só falam de celebridades e incentivam o consumo e tudo o que não deve ser feito, mas será que esses pais de hoje não raciocinam? Primeiro aquelas “Daianas”, devido aquela princesa que morreu – coitada! – e de tanto ouvirem falar nela. Depois, para modificarem um pouco, passaram para “Taiana”, só trocando o “D” pelo “T”. E depois as “Suelen”, “Natali”, e os “Maicon”, como tem “Maicon” por aí! E até “Maiconsuel” eu encontrei nos livros de chamada. E, por fim, os “Uashinton”. Assim mesmo como eu escrevi: “Uashinton”. E certa vez, quando eu estava fazendo a chamada e chamei um dos tantos “Uashinton”, ele me retrucou: “Professora, a minha mãe disse que o meu nome não deve ser pronunciado “Uashinton”, mas “Uóxinton”. E estava escrito “Waxinton”, no livro de chamada, mas eu deixei assim mesmo e passei a chamar ele de “Uóxinton”, coitado! – e tudo isto por causa da falta de educação cultural dos pais. E eu ali, tentando dar um mínimo de educação para os filhos. Foi quando resolvi que já estava na hora de me aposentar. Já tinha passado da idade, mas não queria me afastar da escola, mas fui me desiludindo com tanta coisa, ali dentro!
Mas vou deixar para contar essas “tantas coisas” outra vez. O Fausto me pediu apenas que eu escrevesse um artigo sobre as eleições, dando a minha opinião a respeito. Para o blog dele. Eu disse a ele que não tinha experiência de escrever, mas ia ver no que dava. Faz anos que moramos na mesma quadra e, desde que me aposentei, de vez em quando conversamos de uma ou de outra coisa. Foi numa dessas que ele me falou do seu blog. Dei uma olhada e até gostei, embora prefira as poesias e os contos dele, como aquele da “Capivara”, que me fez rir e chorar.
Pois o que eu acho das eleições é que estão muito estranhas. Todos os dois dependendo dos votos da Marina, que se faz de rogada e diz que só vai anunciar o seu apoio a um deles no dia 17, depois da segunda pesquisa de opinião... Será que ela vai apoiar aquele ou aquela que for melhor na pesquisa? Eu esperava um pouco mais de personalidade dela, sinceramente. Comigo é pão-pão, queijo-queijo! Não gosto dessas pessoas que ficam em cima do muro, esperando sabe-se lá o quê! Não quero nem pensar no que ela está esperando ou porque está esperando... Mas me disseram que a Dilma anda telefonando muito para ela... E a própria Dilma agora está dizendo que está sendo vítima de uma “corrente do mal”. Pois deveria tomar um banho de sal grosso, se ela se sente assim. Está tudo muito estranho...
Infelizmente, não deu para escrever sobre as eleições como eu gostaria, com detalhes e minúcias, como o Fausto tinha pedido. Preferi, primeiro, me apresentar. Não se pode ficar escrevendo para pessoas desconhecidas - na maioria – sobre qualquer coisa sem que elas saibam quem está escrevendo. Só tem uma coisa no blog do Fausto que eu não gosto muito: como tem flor! Não que eu não goste de flores... Adoro! Mas acho um pouco demais para um blog. Por isso eu vou pedir a ele que coloque uma foto da minha gata, Carolina, ilustrando o meu artigo, ou matéria – como ele diz.
Pois é isso. Acho que agora vocês já estão me conhecendo um pouco melhor. Até que tomei gosto em escrever e acho que me passei um pouco. Da próxima vez – se Deus quiser! – eu escrevo sobre assuntos mais atuais.
O meu nome é Maria Joana Said da Silva. Dona Joaninha, para os mais íntimos.
• Jornalista e escritor
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