Subiu no telhado...
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
Quase sempre a verdade é muito sofrida. São poucos os que conseguem admiti-la, e os que conseguem aturá-la, mais raros ainda. Para aliviar o peso de algumas histórias que nos contam, pessoas tendem a dar uma ‘vestida’ nelas, pra tornar a cabeçada menos doída. O nome correto para tal tática é eufemismo.
Todas as mídias estão abarrotadas de eufemismos. Toda banda prefere dizer ‘Estamos voltando às origens da banda’ a admitir que as idéias boas acabaram e estão nessa só pela grana. O U2 é especialista nesse joguinho. Quando a cara dos fãs começa a envelhecer, alguns tentam ‘se reinventar’, dar uma ‘guinada na carreira’, pra não precisarem admitir que as vendas caíram e o empresário está a ponto de se suicidar. Na música Eduardo e Mônica, composta pelo nosso saudoso (?) Renato Russo, onde ele diz ‘E a Mônica riu, quis saber um pouco mais sobre o boyzinho...’ na verdade ele queria dizer ‘quis transar com ele’.
Nos anos 80, quando um galã se afastava do atual trabalho alegando ‘estafa’, na verdade era homossexual enrustido e tinha HIV em estado terminal. Rock Hudson e Lauro Corona não me deixam mentir. Será que teriam se salvado se admitissem mais cedo que não eram chegados na fruta? O clássico apresentador trash Luiz Carlos Alborghetti era o mestre dos eufemismos ‘às avessas’. Quando queria dizer que um bandido morreu baleado, preferia dizer ‘foi pro colo do capeta’. Em vez de dizer que o mesmo se deu mal, preferia dizer ‘peidou pra muzenga’. Ir preso? Pra ele, bandido ia ‘pro bico do urubu’.
No tempo dos milicos, o eufemismo era um vício. Para qualquer contravenção e ato condenável havia um enfeite. Quantos cantores, escritores, poetas e guerrilheiros ditos subversivos não foram ‘convidados a se retirarem do país’? Brasil: Ame-o ou deixe-o, não era o lema do Médici? E o histórico disco de Raul Seixas Sociedade da Grã-ordem Kavernista, que ‘sumiu misteriosamente das prateleiras, ninguém sabe o que houve’? Ah, mas nós sabemos!
O nosso estimadíssimo PSDB sempre foi fã de agasalhar a verdade, pra disfarçar suas falcatruas e continuar no poder. Na verdade, eles são tão viciados em eufemismos que o colunista Zé Simão arrumou para eles o apelido de “tucanismos”. Logo, toda fala muito rebuscada, eloquente, intencionalmente empulhada para disfarçar o céu caindo em nossas cabeças torna-se intrinsecamente ligada aos grisalhos elitistas que mandam no país desde quando Carlota Joaquina posava pra Playboy. Agora, com a onda do politicamente correto, FHC e sua trupe devem estar se esbaldando. Na língua deles, um retardado mental logo se transforma num ‘psiquicamente sequelado’, um anão é facilmente confundido com um ‘verticalmente prejudicado’, uma trepada gostosa na pia do banheiro torna-se um ‘intercurso sexual’ sem graça, e a quase sempre irresistível prostituta da esquina, uma ‘profissional do entretenimento carnal’.
Tem um eufemismo britânico que eu nunca me esqueço. Num determinado ponto da história, a fabricante Rolls-Royce tinha tanto orgulho dos carros que fabricavam que dizia que eles nunca quebravam, simplesmente ‘falhavam em proceder’.
Sim, amigos, a realidade cedo ou tarde mostra sua cara feia. Mas, mesmo passando pancake e lápis de sobrancelha, a cara continua feia. As pessoas mais fracas sentem o impacto da notícia de maneira mais devastadora, mas depois de chorar um bocado e pensar até em enfiar a cabeça no forno e ligar o gás, tudo volta ao normal. Então, pais, em vez de enfiarem na cabeça dos filhos que eles vão tocar harpa lá no céu quando morrerem, digam logo que eles vão pra debaixo do chão, e de lá não sairão mais. Não é poético nem dá muita esperança, mas funciona.
Todas as mídias estão abarrotadas de eufemismos. Toda banda prefere dizer ‘Estamos voltando às origens da banda’ a admitir que as idéias boas acabaram e estão nessa só pela grana. O U2 é especialista nesse joguinho. Quando a cara dos fãs começa a envelhecer, alguns tentam ‘se reinventar’, dar uma ‘guinada na carreira’, pra não precisarem admitir que as vendas caíram e o empresário está a ponto de se suicidar. Na música Eduardo e Mônica, composta pelo nosso saudoso (?) Renato Russo, onde ele diz ‘E a Mônica riu, quis saber um pouco mais sobre o boyzinho...’ na verdade ele queria dizer ‘quis transar com ele’.
Nos anos 80, quando um galã se afastava do atual trabalho alegando ‘estafa’, na verdade era homossexual enrustido e tinha HIV em estado terminal. Rock Hudson e Lauro Corona não me deixam mentir. Será que teriam se salvado se admitissem mais cedo que não eram chegados na fruta? O clássico apresentador trash Luiz Carlos Alborghetti era o mestre dos eufemismos ‘às avessas’. Quando queria dizer que um bandido morreu baleado, preferia dizer ‘foi pro colo do capeta’. Em vez de dizer que o mesmo se deu mal, preferia dizer ‘peidou pra muzenga’. Ir preso? Pra ele, bandido ia ‘pro bico do urubu’.
No tempo dos milicos, o eufemismo era um vício. Para qualquer contravenção e ato condenável havia um enfeite. Quantos cantores, escritores, poetas e guerrilheiros ditos subversivos não foram ‘convidados a se retirarem do país’? Brasil: Ame-o ou deixe-o, não era o lema do Médici? E o histórico disco de Raul Seixas Sociedade da Grã-ordem Kavernista, que ‘sumiu misteriosamente das prateleiras, ninguém sabe o que houve’? Ah, mas nós sabemos!
O nosso estimadíssimo PSDB sempre foi fã de agasalhar a verdade, pra disfarçar suas falcatruas e continuar no poder. Na verdade, eles são tão viciados em eufemismos que o colunista Zé Simão arrumou para eles o apelido de “tucanismos”. Logo, toda fala muito rebuscada, eloquente, intencionalmente empulhada para disfarçar o céu caindo em nossas cabeças torna-se intrinsecamente ligada aos grisalhos elitistas que mandam no país desde quando Carlota Joaquina posava pra Playboy. Agora, com a onda do politicamente correto, FHC e sua trupe devem estar se esbaldando. Na língua deles, um retardado mental logo se transforma num ‘psiquicamente sequelado’, um anão é facilmente confundido com um ‘verticalmente prejudicado’, uma trepada gostosa na pia do banheiro torna-se um ‘intercurso sexual’ sem graça, e a quase sempre irresistível prostituta da esquina, uma ‘profissional do entretenimento carnal’.
Tem um eufemismo britânico que eu nunca me esqueço. Num determinado ponto da história, a fabricante Rolls-Royce tinha tanto orgulho dos carros que fabricavam que dizia que eles nunca quebravam, simplesmente ‘falhavam em proceder’.
Sim, amigos, a realidade cedo ou tarde mostra sua cara feia. Mas, mesmo passando pancake e lápis de sobrancelha, a cara continua feia. As pessoas mais fracas sentem o impacto da notícia de maneira mais devastadora, mas depois de chorar um bocado e pensar até em enfiar a cabeça no forno e ligar o gás, tudo volta ao normal. Então, pais, em vez de enfiarem na cabeça dos filhos que eles vão tocar harpa lá no céu quando morrerem, digam logo que eles vão pra debaixo do chão, e de lá não sairão mais. Não é poético nem dá muita esperança, mas funciona.
* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com
Ai que dureza. Avisar que subiu no telhado antes de contar que caiu, pode ser uma boa armadilha. Morrer é pouco mais do que isso.
ResponderExcluirA realidade pode ser dura mas, ao contrário da ilusão, é palpável.
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Abração