domingo, 2 de janeiro de 2011







Êxtase e raciocínio

* Por Pedro J. Bondaczuk

"A experiência (uma longa série de sensações) nos ensinou que um momento de êxtase vale por um ano de raciocínio". A afirmação é do filósofo norte-americano Will Durant, que a fez com a objetividade do pensador e não com o descomprometimento do poeta. Trata-se de evento raro na vida da maioria, que só ocorre com os que se predispõem a essa felicidade absoluta e irrestrita que alguns até duvidam que exista. Outros confundem-na com o orgasmo, durante uma relação sexual. Trata-se de sensação ligeiramente parecida, mas muito mais profunda, intensa e inesquecível.

Para atingi-la, requer-se uma postura positiva face ao mundo. O êxtase, esta suprema alegria, não advém, como supõem alguns pseudomísticos (na verdade masoquistas), através da mortificação, do sacrifício, das privações ou da angústia. Não é encontrado no mundo trágico das drogas, com seus pesadelos lúgubres, embora exista um produto com este nome, vendido quase que livremente, que promete irresponsavelmente conduzir seus usuários ao "paraíso". Dinheiro algum é suficiente para comprar essa enorme felicidade. O êxtase é a culminância de pequenas satisfações, quase nunca valorizadas, que temos no dia-a-dia e que se somam até se transformar em algo maiúsculo, grandioso, inesquecível.

No meu caso, atinjo-o em situações bastante comuns. Chego a ele quando consigo produzir um texto perfeito, em sua construção formal, nas idéias transmitidas, e na simplicidade por exemplo. Quando chego ao coração alheio e me faço compreendido. Quando recebo reciprocidade pelo amor que sinto. Quando levo consolo e esperança a quem precise. Quando me sinto útil e sou importante pela capacidade de servir. Quando transmito confiança e consigo orientar os outros. Embora profissional do texto, que é o meu ganha pão, escrevo não com vaidade, nem com raiva, ou mecanicamente. Faço-o com alegria.

Gosto do que faço e não troco essa satisfação tão simples por nenhuma outra das tantas que as pessoas procuram. Pouco importam minhas privações materiais se preencho minha vida de beleza. Nenhum sofrimento me abala se me alimento de poesia. Enquanto a maioria dos escritores tem como matéria-prima os becos escuros da alma, os sentimentos trágicos, os acontecimentos tétricos, os instintos selvagens ou os atos primitivos, prefiro concentrar-me no lado belo da existência. Gosto de tratar de emoções simples. A beleza está na simplicidade. Dizem que a felicidade é sem graça e não se presta à literatura. Puro engano. A morte, embora me atemorize, é que não me fascina. A violência, em todas as suas formas e manifestações, me causa repugnância.

Amo a beleza, a solidariedade, a delicadeza. E, como ressalta Pablo Neruda no livro "Confesso que vivi", "a poesia é sempre um ato de paz. O poeta nasce da paz como o pão nasce da farinha. Os incendiários, os guerreiros, os lobos buscam o poeta para queimá-lo, para matá-lo, para mordê-lo. Um espadachim deixou Pushkin ferido de morte entre as árvores de um parque sombrio. Os cavalos de pólvora galoparam enlouquecidos sobre o corpo sem vida de Pettofi. Lutando contra a guerra morreu Byron na Grécia. Os fascistas espanhóis iniciaram a guerra na Espanha assassinando seu melhor poeta".

Sigo a recomendação do pensador budista japonês, Daisaku Ikeda, que ao comentar a responsabilidade social que o escritor tem perante seu público, como orientador de comportamentos, dá a entender que ninguém sai lucrando com a exploração das misérias humanas. Que deliciar-se com a desgraça de personagens lançados de ponta-cabeça no inferno dos seus vícios, neuroses e loucuras, é um desvio doentio de personalidade.

Não vejo arte alguma na banalização da morte. Não vislumbro nada de estético na apologia do assassinato feita especialmente pelo cinema, mas também explorada em romances, contos e novelas. Não identifico qualquer heroísmo na supressão de vidas alheias, seja qual for o pretexto, mesmo que em simples enredos de ficção. Somente um louco sanguinário consegue atingir o êxtase diante da morte. Apenas um sádico perverso aprecia o sofrimento, físico ou moral, de quem quer que seja. Amo a vida, a beleza e a alegria. Não descrevo sonhos, deliro... Sou poeta!

*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

O que comprar:

Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). –
Preço: R$ 23,90.

Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. –
Preço: R$ 20,90.

Como comprar:

Pela internet
WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.

2 comentários:

  1. Poesia deveria se transformar em verbo...
    Belo editorial Pedro.
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Ver o mundo da sua ótica, otimista e não superficial, é melhor e mais agradável do que o mundo do noticiário. Entendo e até concordo com sua justificativa, mas acho que nos priva do outro lado, não tocando no assunto do feio. Gostaria de ver também a sua visão do lado humano ruim.

    ResponderExcluir