Censura é intolerável
A arte – e por extensão, a literatura – não comporta nenhum tipo de censura, não importa se do Estado, da igreja ou de qualquer outra entidade ou organização social. Tem que ser livre, espontânea, solta e natural, para ter validade. Caso contrário... Aliás não concordo que alguém, seja quem for, pessoa ou entidade ou principalmente governo, censure o que quer que seja, em nenhum tempo e em nenhum lugar. Cada indivíduo sabe o que mais lhe apraz ou melhor lhe convém. Prescinde desse tipo de “tutela”. E se não sabe... a vida se encarregará de lhe ensinar, posto que talvez da forma mais difícil.
Por se tratar de manifestação de intolerância, a censura é absolutamente intolerável a qualquer pretexto. A autêntica democracia, o Estado de Direito legítimo e que mereça de fato essa designação, têm isso até como axioma. Ou seja, a liberdade de expressão e de manifestação de idéias é e deve ser sempre inviolável e intocável.
Estas considerações vêm a propósito da informação de que o Ministério da Cultura (cultura?) do Irã decidiu censurar todos os livros do escritor brasileiro campeão de vendas no mundo (já vendeu mais de 300 milhões de exemplares em cerca de 150 países) Paulo Coelho e proibi-los aos iranianos. A pretexto de quê? Ninguém explicou. Pudera! É inexplicável!
Quando os aiatolás xiitas proibiram o romance “Os versículos satânicos”, de Salman Rushdie, em meados dos anos 90 do século XX, havia a alegação de que este era ofensivo à fé islâmica. Não era, mas ficou assente que sim. O escritor britânico, de origem indiana, comeu o pão que o diabo amassou naquela oportunidade. Teve que se esconder por muito tempo, como se fosse um foragido da justiça, e por anos, para escapar à fúria dos fanáticos e paranóicos, para não ser assassinado por algum imbecil qualquer, por algum doido varrido, que achasse que estaria enaltecendo e prestando relevante serviço à sua religião com esse ato homicida.
Mas, e os livros de Paulo Coelho? Não conheço um único deles que faça a menor citação desairosa à fé islâmica, majoritária no Irã. Então por que essa atitude intempestiva e intolerável? Conheço muito intelectual que torce o nariz à simples menção desse escritor. São dos tais que afirmam, do alto da sua arrogância: “não li e não gostei”. Mas duvido que mesmo estes pedantes preconceituosos concordem com a decisão do Ministério de Cultura (cultura?) iraniano de censurar seus livros.
Mesmo que neles houvesse alguma crítica, alguma observação que pudesse ser interpretada como ofensiva ou desairosa (que, reitero, não há) ao islamismo, eu já seria visceralmente contrário à censura. Sem haver, então... fico não apenas pasmo, mas principalmente possesso com essa manifestação estúpida de intolerância, fanatismo, preconceito e ignorância. E, sobretudo, de arbitrariedade.
Podemos analisar a atitude do governo iraniano sob os mais variados aspectos, do político ao cultural, e em todos ela se mostrará desastrada, não diplomática, incoerente e sem sentido para um país cuja imagem no mundo desde a queda do xá Rheza Pahlevi, em 1979, não é das melhores e que se degrada, se deteriora e piora, infelizmente, mais e mais, dia a dia.
Pergunto a quem se habilite a tentar responder e sair, dessa forma, em defesa dos tais censores: quem está habilitado a censurar o que quer que seja e onde? Quem é o árbitro das ações e idéias, que possa dizer, com segurança e certeza, que esta é positiva e construtiva e que, portanto, pode ser veiculada e que aquela é nociva, imoral e degradante e cuja divulgação tem que ser impedida a todo o custo?
Quem é esse sujeito onisciente e genial, de moral ilibada, impoluto e incorruptível, e que tem tamanho poder? E quem lhe concedeu tal prerrogativa? Quem está acima do bem e do mal para ter esse direito de coação sobre toda uma população de um país? Claro que ninguém!!! Absolutamente ninguém!
Paulo Coelho já vendeu, desde 1998, seis milhões de livros no Irã. O que será feito desses exemplares, ora censurados? Serão recolhidos e incinerados? E quem se recusar a entregá-los, o que acontecerá com ele? Seus proprietários serão, pelo menos, indenizados (afinal, pagaram pelos livros quando as vendas estavam liberadas)? Tudo isso fica no ar.
Vocês não acham estranho que em pleno século XXI, tida e havida como a era da globalização, com a fartura de meios de informação e comunicação, ainda subsista esse tipo de comportamento? De que adianta censurar e proibir a venda dos livros de Paulo Coelho no país? A proibição tende a ser um baita tiro pela culatra. Vai despertar a curiosidade até de quem, normalmente, não leria a obra desse escritor. Ademais, há a internet... Enfim...
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A arte – e por extensão, a literatura – não comporta nenhum tipo de censura, não importa se do Estado, da igreja ou de qualquer outra entidade ou organização social. Tem que ser livre, espontânea, solta e natural, para ter validade. Caso contrário... Aliás não concordo que alguém, seja quem for, pessoa ou entidade ou principalmente governo, censure o que quer que seja, em nenhum tempo e em nenhum lugar. Cada indivíduo sabe o que mais lhe apraz ou melhor lhe convém. Prescinde desse tipo de “tutela”. E se não sabe... a vida se encarregará de lhe ensinar, posto que talvez da forma mais difícil.
Por se tratar de manifestação de intolerância, a censura é absolutamente intolerável a qualquer pretexto. A autêntica democracia, o Estado de Direito legítimo e que mereça de fato essa designação, têm isso até como axioma. Ou seja, a liberdade de expressão e de manifestação de idéias é e deve ser sempre inviolável e intocável.
Estas considerações vêm a propósito da informação de que o Ministério da Cultura (cultura?) do Irã decidiu censurar todos os livros do escritor brasileiro campeão de vendas no mundo (já vendeu mais de 300 milhões de exemplares em cerca de 150 países) Paulo Coelho e proibi-los aos iranianos. A pretexto de quê? Ninguém explicou. Pudera! É inexplicável!
Quando os aiatolás xiitas proibiram o romance “Os versículos satânicos”, de Salman Rushdie, em meados dos anos 90 do século XX, havia a alegação de que este era ofensivo à fé islâmica. Não era, mas ficou assente que sim. O escritor britânico, de origem indiana, comeu o pão que o diabo amassou naquela oportunidade. Teve que se esconder por muito tempo, como se fosse um foragido da justiça, e por anos, para escapar à fúria dos fanáticos e paranóicos, para não ser assassinado por algum imbecil qualquer, por algum doido varrido, que achasse que estaria enaltecendo e prestando relevante serviço à sua religião com esse ato homicida.
Mas, e os livros de Paulo Coelho? Não conheço um único deles que faça a menor citação desairosa à fé islâmica, majoritária no Irã. Então por que essa atitude intempestiva e intolerável? Conheço muito intelectual que torce o nariz à simples menção desse escritor. São dos tais que afirmam, do alto da sua arrogância: “não li e não gostei”. Mas duvido que mesmo estes pedantes preconceituosos concordem com a decisão do Ministério de Cultura (cultura?) iraniano de censurar seus livros.
Mesmo que neles houvesse alguma crítica, alguma observação que pudesse ser interpretada como ofensiva ou desairosa (que, reitero, não há) ao islamismo, eu já seria visceralmente contrário à censura. Sem haver, então... fico não apenas pasmo, mas principalmente possesso com essa manifestação estúpida de intolerância, fanatismo, preconceito e ignorância. E, sobretudo, de arbitrariedade.
Podemos analisar a atitude do governo iraniano sob os mais variados aspectos, do político ao cultural, e em todos ela se mostrará desastrada, não diplomática, incoerente e sem sentido para um país cuja imagem no mundo desde a queda do xá Rheza Pahlevi, em 1979, não é das melhores e que se degrada, se deteriora e piora, infelizmente, mais e mais, dia a dia.
Pergunto a quem se habilite a tentar responder e sair, dessa forma, em defesa dos tais censores: quem está habilitado a censurar o que quer que seja e onde? Quem é o árbitro das ações e idéias, que possa dizer, com segurança e certeza, que esta é positiva e construtiva e que, portanto, pode ser veiculada e que aquela é nociva, imoral e degradante e cuja divulgação tem que ser impedida a todo o custo?
Quem é esse sujeito onisciente e genial, de moral ilibada, impoluto e incorruptível, e que tem tamanho poder? E quem lhe concedeu tal prerrogativa? Quem está acima do bem e do mal para ter esse direito de coação sobre toda uma população de um país? Claro que ninguém!!! Absolutamente ninguém!
Paulo Coelho já vendeu, desde 1998, seis milhões de livros no Irã. O que será feito desses exemplares, ora censurados? Serão recolhidos e incinerados? E quem se recusar a entregá-los, o que acontecerá com ele? Seus proprietários serão, pelo menos, indenizados (afinal, pagaram pelos livros quando as vendas estavam liberadas)? Tudo isso fica no ar.
Vocês não acham estranho que em pleno século XXI, tida e havida como a era da globalização, com a fartura de meios de informação e comunicação, ainda subsista esse tipo de comportamento? De que adianta censurar e proibir a venda dos livros de Paulo Coelho no país? A proibição tende a ser um baita tiro pela culatra. Vai despertar a curiosidade até de quem, normalmente, não leria a obra desse escritor. Ademais, há a internet... Enfim...
Boa leitura.
O Editor.
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Há nesse tipo de censura a desagradável
ResponderExcluirsensação de "déjà vu"...
Beijos
Corajoso editorial, Pedro. Sabemos da intolerância do Governo Iraniano a críticas . Qualquer posição oposta ao que pregam pode gerar perseguições.
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