Senhora Presidente!
* Por Luiz de Aquino
Ao contrário do que parece, não me dirijo, nestas linhas, à Presidente Dilma Rousseff; apenas transcrevo o que, para mim, vem a ser o vocativo correto, ou, mesmo, o tratamento que se deve dar à dignidade da mais alta mandatária do Brasil, tanto no que concerne ao respeito que lhe deve a Nação quanto ao respeito que a Nação deve à Língua Portuguesa. As maiúsculas aqui aplicadas referem-se também ao tratamento adequado.
Falando aos jovens, digo que rola por aí um som ruim e feio: presidenta. Em algum lugar no passado, e vão-se poucas décadas, a palavra presidente ganhou, tanto em português quanto em castelhano, o som destoante com uma desinência esdrúxula: presidenta.
Napoleão Mendes de Almeida, notável gramático brasileiro, em seu Dicionário de Questões Vernáculas, contesta a corrente que impôs a novidade:
“São em português uniformes os adjetivos terminados em nte, como já no latim havia uma só terminação – ns – para o masculino e feminino dos adjetivos de segunda classe, por cujo paradigmas se declinavam os particípios presentes: prudente,amante, vidente, lente, ouvinte. Ninguém, pelo menos em português, diz hoje prudenta, amanta, videnta, lenta, ouvinta”.
Os defensores da excrescência alegam o apoio de alguns filólogos. Mas nenhum dos que aderiram à nova onda apresentaram sustentação técnica, pelo menos não no nível do que argumenta Napoleão. E alegam a prática. E chego mesmo a supor que, em breve, a fórmula correta só será respeitada pelos que, em graus variados, apreciam a língua culta. E a língua, em suas regras e técnicas, é definida em leis específicas acordadas entre os países que a exercem. Ou seja: o presidente de uma nação lusófona, bem como a presidente de alguma dessas nações que têm o português como língua oficial, são obrigados a respeitá-la, mesmo na linguagem coloquial (a linguagem coloquial não concede a ninguém o “direito” de falar ou escrever errado).
“Presidenta”, eu tenho dito sempre, é uma “estrela” plantada na bandeira do feminismo gratuito – esse que entende que só por ser mulher a pessoa tem que ser assim ou assado, tem que cometer este ou aquele desatino etc. e tal (entre eles o de se fazer “presidenta”). A teimosia nesse sentido equivale à proposta das fogueiras de sutiãs nos anos de 1960 (fogueiras apenas propostas; não se tem notícia de alguma efetivamente realizada).
Há quem diga que feminismo é o movimento que propõe direitos iguais entre homens e mulheres; isso de impor-se a mulher sobre o homem não é feminismo – é femismo. De minha parte, concordo com o “minerim” da piada:
– Lá em Minas, metade é muié, metade é hômi e é bão dimais da conta, siô!
Entre os defensores da “nova forma”, há quem diga que “ambos os termos são corretos”(mas, insisto, não cita fundamento científico para que “presidenta” seja certo). Ainda que fossem, e havendo as duas formas, fico com a mais bonita: “Senhora Presidente”. Seria como escolher entre cotidiano e quotidiano, mas, neste caso, as duas palavras são corretas – presidenta, não.
Suponho, sim, que o termo acabe pegando. Brasileiro adora novidades e tende a aceitar coisas que, na cabeça do populacho, vira verdade. Como a “máxima” (recorrente a cada época de eleições) de que todo político rouba. Eu continuo na guarita dos que preferem que se imponha o certo. Aplique-se o mesmo quanto às palavras.
Na mesma semana em que o Brasil elegeu Dilma Rousseff sua presidente, a Organização das Nações Unidas divulgou pesquisa de avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano; o resultado foi-nos favorável, mas ainda há muito a se fazer para que o Brasil se enquadre entre as nações de melhor IDH no mundo, e o entrave está justamente no processo de Educação.
Falar errado não nos ajuda.
* Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. Escreve aos domingos no Diário de Goiânia.
* Por Luiz de Aquino
Ao contrário do que parece, não me dirijo, nestas linhas, à Presidente Dilma Rousseff; apenas transcrevo o que, para mim, vem a ser o vocativo correto, ou, mesmo, o tratamento que se deve dar à dignidade da mais alta mandatária do Brasil, tanto no que concerne ao respeito que lhe deve a Nação quanto ao respeito que a Nação deve à Língua Portuguesa. As maiúsculas aqui aplicadas referem-se também ao tratamento adequado.
Falando aos jovens, digo que rola por aí um som ruim e feio: presidenta. Em algum lugar no passado, e vão-se poucas décadas, a palavra presidente ganhou, tanto em português quanto em castelhano, o som destoante com uma desinência esdrúxula: presidenta.
Napoleão Mendes de Almeida, notável gramático brasileiro, em seu Dicionário de Questões Vernáculas, contesta a corrente que impôs a novidade:
“São em português uniformes os adjetivos terminados em nte, como já no latim havia uma só terminação – ns – para o masculino e feminino dos adjetivos de segunda classe, por cujo paradigmas se declinavam os particípios presentes: prudente,amante, vidente, lente, ouvinte. Ninguém, pelo menos em português, diz hoje prudenta, amanta, videnta, lenta, ouvinta”.
Os defensores da excrescência alegam o apoio de alguns filólogos. Mas nenhum dos que aderiram à nova onda apresentaram sustentação técnica, pelo menos não no nível do que argumenta Napoleão. E alegam a prática. E chego mesmo a supor que, em breve, a fórmula correta só será respeitada pelos que, em graus variados, apreciam a língua culta. E a língua, em suas regras e técnicas, é definida em leis específicas acordadas entre os países que a exercem. Ou seja: o presidente de uma nação lusófona, bem como a presidente de alguma dessas nações que têm o português como língua oficial, são obrigados a respeitá-la, mesmo na linguagem coloquial (a linguagem coloquial não concede a ninguém o “direito” de falar ou escrever errado).
“Presidenta”, eu tenho dito sempre, é uma “estrela” plantada na bandeira do feminismo gratuito – esse que entende que só por ser mulher a pessoa tem que ser assim ou assado, tem que cometer este ou aquele desatino etc. e tal (entre eles o de se fazer “presidenta”). A teimosia nesse sentido equivale à proposta das fogueiras de sutiãs nos anos de 1960 (fogueiras apenas propostas; não se tem notícia de alguma efetivamente realizada).
Há quem diga que feminismo é o movimento que propõe direitos iguais entre homens e mulheres; isso de impor-se a mulher sobre o homem não é feminismo – é femismo. De minha parte, concordo com o “minerim” da piada:
– Lá em Minas, metade é muié, metade é hômi e é bão dimais da conta, siô!
Entre os defensores da “nova forma”, há quem diga que “ambos os termos são corretos”(mas, insisto, não cita fundamento científico para que “presidenta” seja certo). Ainda que fossem, e havendo as duas formas, fico com a mais bonita: “Senhora Presidente”. Seria como escolher entre cotidiano e quotidiano, mas, neste caso, as duas palavras são corretas – presidenta, não.
Suponho, sim, que o termo acabe pegando. Brasileiro adora novidades e tende a aceitar coisas que, na cabeça do populacho, vira verdade. Como a “máxima” (recorrente a cada época de eleições) de que todo político rouba. Eu continuo na guarita dos que preferem que se imponha o certo. Aplique-se o mesmo quanto às palavras.
Na mesma semana em que o Brasil elegeu Dilma Rousseff sua presidente, a Organização das Nações Unidas divulgou pesquisa de avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano; o resultado foi-nos favorável, mas ainda há muito a se fazer para que o Brasil se enquadre entre as nações de melhor IDH no mundo, e o entrave está justamente no processo de Educação.
Falar errado não nos ajuda.
* Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. Escreve aos domingos no Diário de Goiânia.
Parabéns !!! Isto é esplêndido. Adorei.
ResponderExcluirEssa queda de braço está divertida, e a contraposição com o texto de Lêda Selma, já postado aqui, que não defende, mas tolera a outra forma, já que está dicionarizada, ficou interessante. Lembrei-me daquela brincadeira de criança, em que se dizia "lé com lé, cré com cré". Sua argumentação está embasada na sonoridade e não podemos discordar que é mais bonito "Senhora Presidente". Quase não tenho lido presidenta. Também acho que se algum dia foi certo, caiu em desuso e virou curiosidade. Em época de internet ninguém vai sair por aí tratando alguém de "vosmecê". Os tempos são outros.
ResponderExcluirDilma é a primeira mulher presidenta. A primeira mulher a ser chefe de Estado no Brasil foi Dona Maria, a Louca; a segunda, a imperatriz Leopoldina; e a terceira, a princesa Isabel.
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