Presidenta ou presidente?
* Por Lêda Selma
* Por Lêda Selma
A ascensão de Dilma Rousseff à presidência do Brasil mexeu com o imaginário de muitos e com o vocabulário de outros, o que gerou polêmicas, dúvidas e, em consequência, tergiversações descabidas e conclusões temerárias.
Vários “lexicólogos” – que canastrões! – de plantão esbaldaram-se no ofício de disseminar desinformação aqui, ali, acolá. Assim, grassou pela internet, e pousou em meu endereço eletrônico, um e-mail intitulado Exceção Gramatical. Tal “exceção”, afirmava seu autor e ou difusor, a palavra presidenta. “Uma agressão ao pobre português”, “Invenção da Dilma e de seus sequazes”, “Coisas do Lula” – quantas asneiras apregoava o texto! Ignorância pouca é luxo, francamente!
Nem exceção nem agressão ou invenção (que rimas pobres e enjoativas, credo!). Afinal, a palavra foi dicionarizada há muuuuuito tempo! Em 1956, já figurava na 1ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, aquele de capa dura, grossa, preta, organizado por Francisco da Silveira Bueno, e patrocinado pela Fundação Nacional de Material Escolar/FENAME, órgão do Ministério da Educação e Cultura/MEC. Pois é, e naquela época, nem sonhávamos com uma presidenta, até porque, no Brasil, só em meados da década de 30, a mulher conquistou o direito de votar, bem entendido, se o marido, seu chefe e senhor, autorizasse. Presidenta? Nem no pensamento. Rainha, sim, do lar! Porém, visionária, a palavra estava lá no dicionário: “presidenta, s.f. (Neol.) Mulher que preside, a esposa do presidente”. Convenhamos, nesta última acepção, bastante curiosa; os outros dicionaristas também a adotam, todavia, não a consideram neologismo.
Nem de Lula nem de Dilma. A Invenção é da língua mesmo, sempre viva e mutável. Quem duvidar, consulte o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa/VOLP (publicação da Academia Brasileira de Letras), os dicionários do Aurélio, do Houaiss, do Antenor Nascentes, do Paschoal Cegalla, a Enciclopédia Delta Larousse...
Presidenta, sim senhor, com muita honra e autonomia, que fique claro!, defende-se o feminino de presidente, exigindo respeito e direito à vida e à legalidade. E com toda razão, ora! Que muitos a julguem um modismo, não lhe percebam atributos femininos, não a considerem bonita, charmosa, bem soante, que a sintam com ares de pernóstica, tudo bem!, mas daí a lhe negarem espaço, tenham paciência! Afinal, se se trata de um vocábulo correto, qual o inconveniente em lhe darem legitimidade? A palavra existe, e pronto! Respeito é bom e ela gosta.
Presidenta ou presidente, o Brasil, que mantém ainda fortes ranços machistas, elegeu a primeira mulher para o topo do poder, e isso é histórico. Então, que cada um faça uso da palavra mais condizente com seu gosto ou intimidade. Quem optar por presidenta, use-a sem susto, sem medo de errar, e sobreponha-se às críticas e ao preconceito, convicto de que nenhuma agressão à Língua Portuguesa o vocábulo perpetrará. A malfadada teoria da “exceção gramatical”, ah! essa, sem dúvida, é um acinte à presidenta, ora se é!
Agora, cá pra nós, acho mais bonita a palavra presidente. Mais suave, bem mais elegante. No entanto, presidenta é imponente, ressoa forte, tem algo de inusitado e muita personalidade. E então?
Bem, seja qual for nossa escolha, estaremos bem servidos. Além do mais, é instigante a possibilidade da variação, da troca do lugar-comum pela novidade. O usual, às vezes, torna-se sem graça, insosso...
Bem-vindos, pois, os dois vocábulos! E que Deus os proteja das polêmicas inócuas, e abençoe nossa presidenta, ou presidente, como queiram!
* Escritora e membro da Academia Goiana de Letras
Vários “lexicólogos” – que canastrões! – de plantão esbaldaram-se no ofício de disseminar desinformação aqui, ali, acolá. Assim, grassou pela internet, e pousou em meu endereço eletrônico, um e-mail intitulado Exceção Gramatical. Tal “exceção”, afirmava seu autor e ou difusor, a palavra presidenta. “Uma agressão ao pobre português”, “Invenção da Dilma e de seus sequazes”, “Coisas do Lula” – quantas asneiras apregoava o texto! Ignorância pouca é luxo, francamente!
Nem exceção nem agressão ou invenção (que rimas pobres e enjoativas, credo!). Afinal, a palavra foi dicionarizada há muuuuuito tempo! Em 1956, já figurava na 1ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, aquele de capa dura, grossa, preta, organizado por Francisco da Silveira Bueno, e patrocinado pela Fundação Nacional de Material Escolar/FENAME, órgão do Ministério da Educação e Cultura/MEC. Pois é, e naquela época, nem sonhávamos com uma presidenta, até porque, no Brasil, só em meados da década de 30, a mulher conquistou o direito de votar, bem entendido, se o marido, seu chefe e senhor, autorizasse. Presidenta? Nem no pensamento. Rainha, sim, do lar! Porém, visionária, a palavra estava lá no dicionário: “presidenta, s.f. (Neol.) Mulher que preside, a esposa do presidente”. Convenhamos, nesta última acepção, bastante curiosa; os outros dicionaristas também a adotam, todavia, não a consideram neologismo.
Nem de Lula nem de Dilma. A Invenção é da língua mesmo, sempre viva e mutável. Quem duvidar, consulte o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa/VOLP (publicação da Academia Brasileira de Letras), os dicionários do Aurélio, do Houaiss, do Antenor Nascentes, do Paschoal Cegalla, a Enciclopédia Delta Larousse...
Presidenta, sim senhor, com muita honra e autonomia, que fique claro!, defende-se o feminino de presidente, exigindo respeito e direito à vida e à legalidade. E com toda razão, ora! Que muitos a julguem um modismo, não lhe percebam atributos femininos, não a considerem bonita, charmosa, bem soante, que a sintam com ares de pernóstica, tudo bem!, mas daí a lhe negarem espaço, tenham paciência! Afinal, se se trata de um vocábulo correto, qual o inconveniente em lhe darem legitimidade? A palavra existe, e pronto! Respeito é bom e ela gosta.
Presidenta ou presidente, o Brasil, que mantém ainda fortes ranços machistas, elegeu a primeira mulher para o topo do poder, e isso é histórico. Então, que cada um faça uso da palavra mais condizente com seu gosto ou intimidade. Quem optar por presidenta, use-a sem susto, sem medo de errar, e sobreponha-se às críticas e ao preconceito, convicto de que nenhuma agressão à Língua Portuguesa o vocábulo perpetrará. A malfadada teoria da “exceção gramatical”, ah! essa, sem dúvida, é um acinte à presidenta, ora se é!
Agora, cá pra nós, acho mais bonita a palavra presidente. Mais suave, bem mais elegante. No entanto, presidenta é imponente, ressoa forte, tem algo de inusitado e muita personalidade. E então?
Bem, seja qual for nossa escolha, estaremos bem servidos. Além do mais, é instigante a possibilidade da variação, da troca do lugar-comum pela novidade. O usual, às vezes, torna-se sem graça, insosso...
Bem-vindos, pois, os dois vocábulos! E que Deus os proteja das polêmicas inócuas, e abençoe nossa presidenta, ou presidente, como queiram!
* Escritora e membro da Academia Goiana de Letras
De fato circulou pela internet em tom de deboche, de que seria exceção, e depois a história de que estaria certo, inclusive dicionarizada. Ainda bem que veio você com a graça que lhe é peculiar, aliada aos seus amplos conhecimentos linguísticos e gramaticais, para nos tirar de vez a dúvida.
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