Poesia em alta
Caríssimos leitores, boa tarde. Na correria que antecedeu este feriadão prolongado, acabei passando batido ao anúncio do Prêmio Nobel de Literatura de 2009. Não que eu fosse viajar e passar três dias de papo pro ar, como boa parte dos brasileiros, longe disso. Mas os clientes que “consomem” meus textos estavam de viagem marcada, o que me forçou a uma jornada de quinze horas ininterruptas de redação. Mas não estou me queixando. Apenas estou dando uma satisfação a você, meu fiel leitor.
A única viagem que fiz nestes dias foi – me valendo de curiosa expressão muito utilizada pelo povão, mas que não consta em nenhum manual de literatura – “na maionese”. Ou seja, dei asas à imaginação e creio que satisfiz a todos os que contam assiduamente com os meus textos.
Quanto ao Nobel, pelo vigésimo ano consecutivo, errei em minha previsão. Como se vê, sou ruim de aposta e por isso nunca ganhei nada sequer em rifa de quermesse, quanto mais na loteria. Eu apostava que neste ano o ganhador seria, finalmente, o norte-americano Philip Roth. Não foi.
Mas a Academia Sueca de Ciências mandou bem desta vez. Premiou uma mulher (e elas continuam sendo minoria nessa premiação) e, para o meu deleite, ainda por cima, poetisa e ensaísta, dois dos gêneros da minha predileção. A nova estrela máxima na constelação literária mundial é a romena, naturalizada alemã, Herta Müller, que foi casada com o escritor Richard Wagner e mora em Berlim desde 1987.
Para quem estás torcendo o nariz, achando que se trata de alguma “ilustre desconhecida”, informo que não é bem assim. Essa escritora, relativamente jovem (completou 56 anos de idade em 17 de agosto passado), tem uma trajetória literária considerável. Publicou 22 livros, todos em língua alemã, sendo que o último deles ainda está cheirando a tinta, já que foi lançado em meados deste ano, há uns três meses, e se intitula “Atemschaukel” (êta linguazinha complicada!).
Quem não a conhece, mas gosta da boa literatura, tem obrigação de conhecê-la. E nem precisa saber ler em alemão. Herta Muller tem três livros traduzidos para o português: “O homem é um grande faisão sobre a terra” (1993), com tradução de Maria Antonieta C. Mendonça; “A terra das ameixas verdes”, (1999) traduzido por Maria Alexandra A. Lopes e “O compromisso” (2004), com tradução de Lia Luft.
Como se vê, é a poesia que, outra vez, está em alta. Quem sabe se, com essa premiação, as editoras voltem a dar espaço aos poetas, há anos marginalizados no mercado editorial. E tomara que, junto, se lembrem que o ensaio é um gênero nobre e voltem a incluir livros do tipo em seus catálogos anuais.
Herta, ao que se sabe, penou muito em sua terra natal, a Romênia, durante a ditadura de Nicolae Ceausescu. Perdeu, por exemplo, o emprego de tradutora em uma fábrica de máquinas, o primeiro que teve (e ao que se sabe, o único nesse país), por se recusar a colaborar com a temível e onipresente polícia secreta romena. Ou seja, por não querer bancar dedo duro e complicar a vida de colegas de trabalho.
Apesar do seu reconhecido talento, teve enorme dificuldade para publicar seu primeiro livro, “Niederungen” (ô linguazinha infernal essa!), que levou quatro anos para ser publicado e, quando foi, teve grandes cortes, de parágrafos inteiros, efetuados por tapados censores romenos, que não entendiam nem de abobrinhas, quanto mais de Literatura.
A justificativa da Academia Sueca de Ciências para premiar Herta Muller, de acordo com comunicado oficial divulgado na quinta-feira, é que a decisão foi um reconhecimento a uma obra que é “concentração de poesia e de franqueza”. A característica da temática dessa escritora é a descrição da “paisagem dos despossuídos” da sua Romênia natal, que a tratou de forma tão injusta e preconceituosa. Portanto, eu errei em minhas previsões (o que não é nenhuma novidade), mas a Academia Sueca de Ciências acertou (o que, se não é novo, não deixa de ser raro).
Boa leitura.
O Editor.
Caríssimos leitores, boa tarde. Na correria que antecedeu este feriadão prolongado, acabei passando batido ao anúncio do Prêmio Nobel de Literatura de 2009. Não que eu fosse viajar e passar três dias de papo pro ar, como boa parte dos brasileiros, longe disso. Mas os clientes que “consomem” meus textos estavam de viagem marcada, o que me forçou a uma jornada de quinze horas ininterruptas de redação. Mas não estou me queixando. Apenas estou dando uma satisfação a você, meu fiel leitor.
A única viagem que fiz nestes dias foi – me valendo de curiosa expressão muito utilizada pelo povão, mas que não consta em nenhum manual de literatura – “na maionese”. Ou seja, dei asas à imaginação e creio que satisfiz a todos os que contam assiduamente com os meus textos.
Quanto ao Nobel, pelo vigésimo ano consecutivo, errei em minha previsão. Como se vê, sou ruim de aposta e por isso nunca ganhei nada sequer em rifa de quermesse, quanto mais na loteria. Eu apostava que neste ano o ganhador seria, finalmente, o norte-americano Philip Roth. Não foi.
Mas a Academia Sueca de Ciências mandou bem desta vez. Premiou uma mulher (e elas continuam sendo minoria nessa premiação) e, para o meu deleite, ainda por cima, poetisa e ensaísta, dois dos gêneros da minha predileção. A nova estrela máxima na constelação literária mundial é a romena, naturalizada alemã, Herta Müller, que foi casada com o escritor Richard Wagner e mora em Berlim desde 1987.
Para quem estás torcendo o nariz, achando que se trata de alguma “ilustre desconhecida”, informo que não é bem assim. Essa escritora, relativamente jovem (completou 56 anos de idade em 17 de agosto passado), tem uma trajetória literária considerável. Publicou 22 livros, todos em língua alemã, sendo que o último deles ainda está cheirando a tinta, já que foi lançado em meados deste ano, há uns três meses, e se intitula “Atemschaukel” (êta linguazinha complicada!).
Quem não a conhece, mas gosta da boa literatura, tem obrigação de conhecê-la. E nem precisa saber ler em alemão. Herta Muller tem três livros traduzidos para o português: “O homem é um grande faisão sobre a terra” (1993), com tradução de Maria Antonieta C. Mendonça; “A terra das ameixas verdes”, (1999) traduzido por Maria Alexandra A. Lopes e “O compromisso” (2004), com tradução de Lia Luft.
Como se vê, é a poesia que, outra vez, está em alta. Quem sabe se, com essa premiação, as editoras voltem a dar espaço aos poetas, há anos marginalizados no mercado editorial. E tomara que, junto, se lembrem que o ensaio é um gênero nobre e voltem a incluir livros do tipo em seus catálogos anuais.
Herta, ao que se sabe, penou muito em sua terra natal, a Romênia, durante a ditadura de Nicolae Ceausescu. Perdeu, por exemplo, o emprego de tradutora em uma fábrica de máquinas, o primeiro que teve (e ao que se sabe, o único nesse país), por se recusar a colaborar com a temível e onipresente polícia secreta romena. Ou seja, por não querer bancar dedo duro e complicar a vida de colegas de trabalho.
Apesar do seu reconhecido talento, teve enorme dificuldade para publicar seu primeiro livro, “Niederungen” (ô linguazinha infernal essa!), que levou quatro anos para ser publicado e, quando foi, teve grandes cortes, de parágrafos inteiros, efetuados por tapados censores romenos, que não entendiam nem de abobrinhas, quanto mais de Literatura.
A justificativa da Academia Sueca de Ciências para premiar Herta Muller, de acordo com comunicado oficial divulgado na quinta-feira, é que a decisão foi um reconhecimento a uma obra que é “concentração de poesia e de franqueza”. A característica da temática dessa escritora é a descrição da “paisagem dos despossuídos” da sua Romênia natal, que a tratou de forma tão injusta e preconceituosa. Portanto, eu errei em minhas previsões (o que não é nenhuma novidade), mas a Academia Sueca de Ciências acertou (o que, se não é novo, não deixa de ser raro).
Boa leitura.
O Editor.
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