Carta ao meu pai
* Por Marcos Alves
Hoje acordei tomado pela lembrança de meu pai, como já aconteceu milhares de outras vezes, mas sem que escrevesse sobre isso. Tanto mais difícil. É uma carta que, creio, de alguma forma vai chegar ao destinatário, levada pela esperança de poder assim tapar alguns buracos, corrigir algumas falhas, dizer algumas coisas que não foram ditas.
Na verdade muito ficou por dizer. Mas nós dois convivemos o bastante para entendermos razoavelmente um ao outro. Por vezes o silêncio foi eloqüente: tanto para sufocar a dor, engolir o choro e aceitar teu olhar severo... como para confiar, esfriar os ânimos, aquietar. Calado, como querias; consenti, sem querer.
Bem mais tarde, há pouco tempo, vim a descobrir que em grande parte das vezes tinhas razão, pai. Porque agora sou eu a me enraivecer com as coisinhas de adolescente que assisto, pequenas teimosias e atitudes inconseqüentes que presencio. Hoje sei que isso não tem nada a ver com liberdade. É só chantagem, ou como dizias, má-criação.
Sinto falta das conversas na porta de casa. Tenho saudade dos finais de tarde, quando colocavas as cadeiras lá fora e nós ficávamos em volta – costume que durou até quando ainda tinhas forças. A vontade de ver a rua se foi ao poucos, por causa da catarata, não é? Sei que ficas satisfeito em saber que preservei, de certa forma, esse costume.
Lembro-me de como gostavas de trabalhar em casa, nos pequenos canteiros de verduras e legumes no quintal. É como se ouvisse agora tua queixa: “Não tenho mais como saber se os tomates estão verdes ou maduros”.
Hoje consigo ver além do que podem meus olhos, pai, porque enxergo com a sabedoria de quem viveu ao teu lado. Não sou como tu, absolutamente. Mas não seria metade do que sou, se não fosse por tua causa.
* Jornalista, www.marcos-alves.blogspot.com
* Por Marcos Alves
Hoje acordei tomado pela lembrança de meu pai, como já aconteceu milhares de outras vezes, mas sem que escrevesse sobre isso. Tanto mais difícil. É uma carta que, creio, de alguma forma vai chegar ao destinatário, levada pela esperança de poder assim tapar alguns buracos, corrigir algumas falhas, dizer algumas coisas que não foram ditas.
Na verdade muito ficou por dizer. Mas nós dois convivemos o bastante para entendermos razoavelmente um ao outro. Por vezes o silêncio foi eloqüente: tanto para sufocar a dor, engolir o choro e aceitar teu olhar severo... como para confiar, esfriar os ânimos, aquietar. Calado, como querias; consenti, sem querer.
Bem mais tarde, há pouco tempo, vim a descobrir que em grande parte das vezes tinhas razão, pai. Porque agora sou eu a me enraivecer com as coisinhas de adolescente que assisto, pequenas teimosias e atitudes inconseqüentes que presencio. Hoje sei que isso não tem nada a ver com liberdade. É só chantagem, ou como dizias, má-criação.
Sinto falta das conversas na porta de casa. Tenho saudade dos finais de tarde, quando colocavas as cadeiras lá fora e nós ficávamos em volta – costume que durou até quando ainda tinhas forças. A vontade de ver a rua se foi ao poucos, por causa da catarata, não é? Sei que ficas satisfeito em saber que preservei, de certa forma, esse costume.
Lembro-me de como gostavas de trabalhar em casa, nos pequenos canteiros de verduras e legumes no quintal. É como se ouvisse agora tua queixa: “Não tenho mais como saber se os tomates estão verdes ou maduros”.
Hoje consigo ver além do que podem meus olhos, pai, porque enxergo com a sabedoria de quem viveu ao teu lado. Não sou como tu, absolutamente. Mas não seria metade do que sou, se não fosse por tua causa.
* Jornalista, www.marcos-alves.blogspot.com
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