Silvio Tendler, Utopia & Barbárie
* Por Risomar Fasanaro
Aplaudido de pé por mais de cinco minutos, o cineasta Silvio Tendler estava ali, diante de um auditório lotado no Espaço Unibanco, recebendo a resposta do público ao seu trabalho Utopia & Barbárie, seu filme mais recente, na 33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O filme dedicado a algumas pessoas, mas especialmente a Ernesto, o neto do cineasta que está na foto acima com Tendler, filho de sua filha Ana Rosa, recebeu o prêmio Araucária de Ouro de melhor direção e de melhor filme na 4ª edição do Festival Brasileiro Latino de Cinema do Paraná.
Os olhos de menino de Silvio brilhavam mais naquela noite e a emoção lhe embarga um pouco a voz ao responder às perguntas do público. Um público que por duas horas assistiu ao seu filme no mais absoluto silêncio, cortado algumas vezes por um ou outro soluço contido, ou por risos.
Quando cheguei, o vi de longe, sentado tranquilamente com dois amigos na lanchonete do Espaço Unibanco. Temi me aproximar e interromper a conversa.
Logo depois alguns fãs e amigos se aproximam. Alguém pergunta se ele está nervoso, e ele confirma. Como se não fosse um veterano premiado tantas vezes. Assim é Silvio Tendler. Não assume nunca a pose de Estrela. Pelo contrário, é de uma doçura que o torna irresistível; atende a todos com a maior atenção. Tem uma palavra de carinho para cada um, e ali, naquele Espaço, constatamos o quanto é amado e respeitado pelos amantes de cinema.
Depois, na sala escura realizo uma viagem no tempo.
Alguém gira a manivela de uma caixinha de música e dela extrai os primeiros acordes de “A Internacional”. São mãos de quem trabalha, de quem tem uma historia. As imagens de um coração que estremece no compasso da barbárie e suspira no ritmo da utopia invadem a tela. É o coração apaixonado de Silvio Tendler a bater 24 vezes por segundo.
E são essas imagens fortes que nos introduzem para o que é Utopia & Barbárie: um registro dos principais acontecimentos do século XX pinçados com a sensibilidade deste que é um dos nossos maiores cineastas.
Este homem com sorriso e olhos de menino tenta acertar os ponteiros de um relógio implacável a marcar o caminho do homem sobre a terra. E ao mesmo tempo que nos horroriza com as barbáries, nos seduz com as utopias.
Utopia e Barbárie, Utopia e Barbárie, utopia e Barb... Sonho e realidade se intercalam em um mundo esfacelado por guerras, destruição, escombros, mas onde os sonhos rompem fronteiras, emergem e se instalam na alma da gente.
Em alguns momentos nossa visão se tolda com o acúmulo de tragédias: queda de Allende, a voz carregada emoção de um homem do povo no enterro de Neruda, declamando um de seus poemas. O peito se fecha com a visão de uma America Latina que sangra em descompasso com as imagens.
Os sonhos morrem com a tragédia do Araguaia, mas renascem com a festa no enterro de Pinochet e o movimento pelas Diretas Já. O peito se oprime com a queda do Muro de Berlim, com a tragédia das torres gêmeas, mas a alegria volta com a eleição de um índio, de um operário, de um negro. Utopias?
Utopia e Barbárie construído ao longo de 19 anos nos lembra a lição dos rios que pacientemente transforma pedras brutas em seixos.
As palavras de Eduardo Galeano nos soam como um chamado à luta por um mundo de paz. A esperança rasga o cenário, rompe os muros e a alma da gente entra em festa, volta a acreditar. O coração volta a bater ao som dos últimos acordes da Internacional e saímos do cinema ainda com as palavras do roteiro de Silvio que nos propõe a certeza de que é impossível viver sem utopias. Que é a esperança que nos move a cada manhã. Que é ela que nos leva a crer que haverá um dia em que todas as fronteiras serão derrubadas, e os mares unirão os continentes, em vez de separá-los. É a espera deste dia que nos move a cada manhã.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
Aplaudido de pé por mais de cinco minutos, o cineasta Silvio Tendler estava ali, diante de um auditório lotado no Espaço Unibanco, recebendo a resposta do público ao seu trabalho Utopia & Barbárie, seu filme mais recente, na 33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
O filme dedicado a algumas pessoas, mas especialmente a Ernesto, o neto do cineasta que está na foto acima com Tendler, filho de sua filha Ana Rosa, recebeu o prêmio Araucária de Ouro de melhor direção e de melhor filme na 4ª edição do Festival Brasileiro Latino de Cinema do Paraná.
Os olhos de menino de Silvio brilhavam mais naquela noite e a emoção lhe embarga um pouco a voz ao responder às perguntas do público. Um público que por duas horas assistiu ao seu filme no mais absoluto silêncio, cortado algumas vezes por um ou outro soluço contido, ou por risos.
Quando cheguei, o vi de longe, sentado tranquilamente com dois amigos na lanchonete do Espaço Unibanco. Temi me aproximar e interromper a conversa.
Logo depois alguns fãs e amigos se aproximam. Alguém pergunta se ele está nervoso, e ele confirma. Como se não fosse um veterano premiado tantas vezes. Assim é Silvio Tendler. Não assume nunca a pose de Estrela. Pelo contrário, é de uma doçura que o torna irresistível; atende a todos com a maior atenção. Tem uma palavra de carinho para cada um, e ali, naquele Espaço, constatamos o quanto é amado e respeitado pelos amantes de cinema.
Depois, na sala escura realizo uma viagem no tempo.
Alguém gira a manivela de uma caixinha de música e dela extrai os primeiros acordes de “A Internacional”. São mãos de quem trabalha, de quem tem uma historia. As imagens de um coração que estremece no compasso da barbárie e suspira no ritmo da utopia invadem a tela. É o coração apaixonado de Silvio Tendler a bater 24 vezes por segundo.
E são essas imagens fortes que nos introduzem para o que é Utopia & Barbárie: um registro dos principais acontecimentos do século XX pinçados com a sensibilidade deste que é um dos nossos maiores cineastas.
Este homem com sorriso e olhos de menino tenta acertar os ponteiros de um relógio implacável a marcar o caminho do homem sobre a terra. E ao mesmo tempo que nos horroriza com as barbáries, nos seduz com as utopias.
Utopia e Barbárie, Utopia e Barbárie, utopia e Barb... Sonho e realidade se intercalam em um mundo esfacelado por guerras, destruição, escombros, mas onde os sonhos rompem fronteiras, emergem e se instalam na alma da gente.
Em alguns momentos nossa visão se tolda com o acúmulo de tragédias: queda de Allende, a voz carregada emoção de um homem do povo no enterro de Neruda, declamando um de seus poemas. O peito se fecha com a visão de uma America Latina que sangra em descompasso com as imagens.
Os sonhos morrem com a tragédia do Araguaia, mas renascem com a festa no enterro de Pinochet e o movimento pelas Diretas Já. O peito se oprime com a queda do Muro de Berlim, com a tragédia das torres gêmeas, mas a alegria volta com a eleição de um índio, de um operário, de um negro. Utopias?
Utopia e Barbárie construído ao longo de 19 anos nos lembra a lição dos rios que pacientemente transforma pedras brutas em seixos.
As palavras de Eduardo Galeano nos soam como um chamado à luta por um mundo de paz. A esperança rasga o cenário, rompe os muros e a alma da gente entra em festa, volta a acreditar. O coração volta a bater ao som dos últimos acordes da Internacional e saímos do cinema ainda com as palavras do roteiro de Silvio que nos propõe a certeza de que é impossível viver sem utopias. Que é a esperança que nos move a cada manhã. Que é ela que nos leva a crer que haverá um dia em que todas as fronteiras serão derrubadas, e os mares unirão os continentes, em vez de separá-los. É a espera deste dia que nos move a cada manhã.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Sim, isso mesmo, Ris, tudo pela integração! E não se trata de slogan de ocasião, literatice idealista, demagogia. Não! Agora, ou vamos juntos, e haverá sadio desenvolvimento, ou teremos de admitir: não demos certo. Mas somos uma nação vigorosa e vingaremos, vingaremos.
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