Literatura mal-remunerada
Caríssimo leitor, que nos acompanha, diariamente, nesta nossa quixotesca cruzada cultural, boa tarde.
A Literatura, embora uma das mais complexas, se não a mais complexa das artes, salvo exceções, é a que pior remunera seus artistas. Ninguém adquire em leilão, por exemplo, por dezenas de milhões de dólares, um livro, mesmo que se trate de raridade das raridades, como ocorreu, por exemplo, com o quadro “Os girassóis”, de Vincent Van Gogh, há alguns anos.
É verdade que a valorização da obra desse pintor se deu muitíssimo depois de sua morte, ocorrida em um hospício. Em vida, vendeu apenas duas de suas telas, e ambas para o seu irmão Theo.
Viveu e morreu miseravelmente, como a imensa maioria dos artistas. Mas, pelo menos, as pinturas que legou à posteridade adquiriram valor. Tamanho, que se constituem, atualmente, nos mais rentáveis investimentos financeiros que existem. Estão em mãos não de entendidos ou apreciadores de artes, mas de grandes investidores, que não entendem lhufas de pintura. Com livros, porém... Nunca aconteceu nada sequer parecido.
São raros, no mundo todo, os fenômenos editoriais, os campeoníssimos de venda. No Brasil, por exemplo, são poucos os escritores – tão poucos que dá para serem contados nos dedos e, se bobear, de uma só mão – que conseguem viver só de literatura. Vêm-me à memória, de chofre, sem precisar fazer pesquisa, apenas os nomes de Paulo Coelho e Jorge Amado. No mais... O escritor tem que ter algum emprego, alguma outra atividade, se pretender sobreviver com decência.
Muitos vão parar nas redações de jornais (ou emergem delas para a Literatura). Outros... Machado de Assis foi servidor público, assim como João Cruz e Souza e Carlos Drummond de Andrade. Guimarães Rosa foi médico e Vinícius de Moraes diplomata. E vai por aí afora.
Quem quiser, portanto, viver exclusivamente de literatura – salvo exceções, claro – e não somente no Brasil, não conseguirá pagar suas contas e terá vida miserabilíssima.
Honoré Balzac, por exemplo, vivia atolado em dívidas, perseguido por credores. Por isso, escrevia tanto. Precisava fazer dinheiro a todo o custo e, em diversas ocasiões, teve os móveis de casa penhorados para o pagamento de dívidas. O mesmo ocorria com Fedor Dostoievski, jogador inveterado, que perdia, numa única noite, nos cassinos de Montecarlo, o fruto do trabalho de anos. E que trabalho! Que talento! Que genialidade!
Conta-se que Camilo Castelo Branco escreveu dois romances inteiros em apenas 48 horas, pela necessidade, urgentíssima, de fazer dinheiro e saldar dívidas com os credores, que o assediavam a todo o momento.
A menos que você seja o gênio dos gênios, caríssimo aspirante a escritor, e tenha a sorte fenomenal de cair, simultaneamente, no gosto dos editores, críticos, imprensa e, principalmente do público, e de se tornar, dessa forma, best-seller, ganhador dos prêmios Pulitzer, Cervantes, Camões, Book Prize, Goncourt e, principalmente do Nobel, trate de começar já a fazer o seu pé de meia, para não se ver em sérias encrencas mais adiante.
A Literatura poderá trazer-lhe muitas satisfações pessoais (ou não). Poderá incensar a sua vaidade, inflar seu ego e catapultar sua autoestima. Mas se estiver contando que ficará rico, apenas em decorrência do seu talento.... Hummmm!!! Esqueça!
Desde que você não fique vaidoso em excesso (e tudo o que é demais não termina bem), é lícito que se delicie com elogios que entenda sinceros e se satisfaça com palavras de louvor, principalmente quando estas vierem de pessoas que você não conheça e que, por isso, não o estejam elogiando à espera de alguma vantagem. Se estiverem, contudo, bote esses hipócritas para correr. Não se tratará de elogio, mas de lisonja.
O escritor austríaco Karl Kraus afirmou, certa feita (e concordo com ele): “Os artistas têm o direito de serem modestos e o dever de serem vaidosos”. Se não forem, estarão negando, em público, o próprio valor. Se você quiser o reconhecimento alheio pelos seus méritos, seja o primeiro a reconhecê-los. Se os tiver, logicamente, e se estiver convicto de sua existência.
Boa leitura
O Editor.
Caríssimo leitor, que nos acompanha, diariamente, nesta nossa quixotesca cruzada cultural, boa tarde.
A Literatura, embora uma das mais complexas, se não a mais complexa das artes, salvo exceções, é a que pior remunera seus artistas. Ninguém adquire em leilão, por exemplo, por dezenas de milhões de dólares, um livro, mesmo que se trate de raridade das raridades, como ocorreu, por exemplo, com o quadro “Os girassóis”, de Vincent Van Gogh, há alguns anos.
É verdade que a valorização da obra desse pintor se deu muitíssimo depois de sua morte, ocorrida em um hospício. Em vida, vendeu apenas duas de suas telas, e ambas para o seu irmão Theo.
Viveu e morreu miseravelmente, como a imensa maioria dos artistas. Mas, pelo menos, as pinturas que legou à posteridade adquiriram valor. Tamanho, que se constituem, atualmente, nos mais rentáveis investimentos financeiros que existem. Estão em mãos não de entendidos ou apreciadores de artes, mas de grandes investidores, que não entendem lhufas de pintura. Com livros, porém... Nunca aconteceu nada sequer parecido.
São raros, no mundo todo, os fenômenos editoriais, os campeoníssimos de venda. No Brasil, por exemplo, são poucos os escritores – tão poucos que dá para serem contados nos dedos e, se bobear, de uma só mão – que conseguem viver só de literatura. Vêm-me à memória, de chofre, sem precisar fazer pesquisa, apenas os nomes de Paulo Coelho e Jorge Amado. No mais... O escritor tem que ter algum emprego, alguma outra atividade, se pretender sobreviver com decência.
Muitos vão parar nas redações de jornais (ou emergem delas para a Literatura). Outros... Machado de Assis foi servidor público, assim como João Cruz e Souza e Carlos Drummond de Andrade. Guimarães Rosa foi médico e Vinícius de Moraes diplomata. E vai por aí afora.
Quem quiser, portanto, viver exclusivamente de literatura – salvo exceções, claro – e não somente no Brasil, não conseguirá pagar suas contas e terá vida miserabilíssima.
Honoré Balzac, por exemplo, vivia atolado em dívidas, perseguido por credores. Por isso, escrevia tanto. Precisava fazer dinheiro a todo o custo e, em diversas ocasiões, teve os móveis de casa penhorados para o pagamento de dívidas. O mesmo ocorria com Fedor Dostoievski, jogador inveterado, que perdia, numa única noite, nos cassinos de Montecarlo, o fruto do trabalho de anos. E que trabalho! Que talento! Que genialidade!
Conta-se que Camilo Castelo Branco escreveu dois romances inteiros em apenas 48 horas, pela necessidade, urgentíssima, de fazer dinheiro e saldar dívidas com os credores, que o assediavam a todo o momento.
A menos que você seja o gênio dos gênios, caríssimo aspirante a escritor, e tenha a sorte fenomenal de cair, simultaneamente, no gosto dos editores, críticos, imprensa e, principalmente do público, e de se tornar, dessa forma, best-seller, ganhador dos prêmios Pulitzer, Cervantes, Camões, Book Prize, Goncourt e, principalmente do Nobel, trate de começar já a fazer o seu pé de meia, para não se ver em sérias encrencas mais adiante.
A Literatura poderá trazer-lhe muitas satisfações pessoais (ou não). Poderá incensar a sua vaidade, inflar seu ego e catapultar sua autoestima. Mas se estiver contando que ficará rico, apenas em decorrência do seu talento.... Hummmm!!! Esqueça!
Desde que você não fique vaidoso em excesso (e tudo o que é demais não termina bem), é lícito que se delicie com elogios que entenda sinceros e se satisfaça com palavras de louvor, principalmente quando estas vierem de pessoas que você não conheça e que, por isso, não o estejam elogiando à espera de alguma vantagem. Se estiverem, contudo, bote esses hipócritas para correr. Não se tratará de elogio, mas de lisonja.
O escritor austríaco Karl Kraus afirmou, certa feita (e concordo com ele): “Os artistas têm o direito de serem modestos e o dever de serem vaidosos”. Se não forem, estarão negando, em público, o próprio valor. Se você quiser o reconhecimento alheio pelos seus méritos, seja o primeiro a reconhecê-los. Se os tiver, logicamente, e se estiver convicto de sua existência.
Boa leitura
O Editor.
Direito à modéstia e dever da vaidade ... noutras palavras: morro teso, mas não perco a pose. A cada dia que passa, no entanto, conhecimento, cultura, isso passa ao domínino da máquina que já sai da linha de fabricação com todos os idiomas, enciclopédias e dicionários dentro dela. Cabe a nós nos entocarmos guturais naquela tal gruta da inconsciência de si. Nessa desistência generalizada, o escritor cintila resistente e tem, por isso, a obrigação de reafirmar a nobre condição do homem, antes que esqueçamos disso, em definitivo.
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