A linguagem do povo
Caríssimo leitor, boa tarde.
Hoje, sexta-feira, véspera de feriadão (segunda-feira será o dia de homenagear os que se foram), é ótima oportunidade para reflexão (embora, a rigor, sempre seja). Leia atentamente os textos que lhe trago nesta edição do Literário, reflita sobre eles, comente-os com os parentes e amigos e, caso se sinta motivado, poste um comentário no espaço apropriado daquele que mais o agradou (ou, eventualmente, desagradou). Sinta-se à vontade. A casa é sua.
Dando continuidade a um contato mais íntimo que vimos mantendo periodicamente com os que nos prestigiam, hoje respondo à questão formulada pelo leitor José de Arimatéia Assunção. Ele questiona sobre a validade ou não do escritor se utilizar da “linguagem do povo”, aquela falada no dia a dia – sem preocupações com concordância, regência, conjugação correta de verbos, utilização de pronomes etc. – em textos literários.
Minha resposta é a mesma que dei quando fui questionado sobre o uso de palavrões. Eu, particularmente, não gosto de usar e raramente me utilizo desse expediente. Todavia, em determinadas circunstâncias e ocasiões, isso não somente é válido, como até se impõe.
Todavia, o escritor deve deixar claro que é seu personagem que fala errado e não ele que não conhece português. Afinal, queira ou não, tenha ou não essa consciência, ele é o guardião por excelência do idioma. Tanto que, determinadas expressões que geram dúvidas nos gramáticos quanto à sua correção, são catalogadas pelos dicionaristas como válidas com base, muitas vezes, apenas no seu uso por escritores consagrados. Você pode observar isso, por exemplo, em algumas expressões no dicionário do mestre Aurélio.
Caso você esteja escrevendo um romance, em que algum de seus personagens (ou todos) seja um sujeito iletrado (analfabeto ou não, não importa) não irá convencer ninguém se o puser dialogando num português impecável, perfeito, castiço, de forma que nem mesmo o mais erudito dos eruditos utiliza no cotidiano. A história ficará inverossímil se o fizer.
O necessário, porém, é ter cuidado para não exagerar na dose. É como certas bebidas alcoólicas: tomadas em pequenas doses, servem como aperitivo, mas se você tomar a garrafa toda... E, principalmente, para não misture erros gramaticais seus, pessoais, com os dos personagens. Detecte-os, no processo de revisão, e corrija-os de imediato.
Aliás, se o escritor for relaxado em seu linguajar, sequer encontrará editor que tope embarcar nessa canoa furada com ele (para não partilhar do ridículo). Seu livro nascerá “morto”, ou seja, permanecerá inédito, a menos que o banque do próprio bolso. E se o fizer, por um excesso de vaidade que o cegue ao ponto de perder a noção de autocrítica, certamente irá arcar com monumental prejuízo, por falta de leitores que se habilitem a comprar tamanha baboseira.
Muitos escritores de primeiríssima linha reproduziram a linguagem do povo em diálogos de personagens (quando isso se impunha, claro) em romances de grande sucesso. Mas fizeram-no com bom-senso, elegância e, sobretudo, pertinência. É isso o que lhe recomendo, caríssimo José de Arimatéia.
Por sua pergunta, concluo que você é aspirante a escritor. Mande-me, pois, seus textos, sem nenhum receio de eventuais prejuízos à sua imagem, pois prometo, caso sejam bons, publicá-los (como faço com todos os que me procuram) e, em caso contrário, juro que não o exporei ao ridículo. Se houver erros insanáveis para um editor, comprometo-me a analisá-los exclusivamente com você, em um e-mail particular. Ninguém saberá, a não ser nós dois, ok?
Mas não tenha receio de se expor. Submeta-se à crítica, que é sempre saudável. Ela pode ser muito mais didática do que um montão de aulas teóricas de literatura. Ademais, ninguém é infalível e nem nasceu sabendo das coisas, não é mesmo?
Boa leitura.
O Editor.
Caríssimo leitor, boa tarde.
Hoje, sexta-feira, véspera de feriadão (segunda-feira será o dia de homenagear os que se foram), é ótima oportunidade para reflexão (embora, a rigor, sempre seja). Leia atentamente os textos que lhe trago nesta edição do Literário, reflita sobre eles, comente-os com os parentes e amigos e, caso se sinta motivado, poste um comentário no espaço apropriado daquele que mais o agradou (ou, eventualmente, desagradou). Sinta-se à vontade. A casa é sua.
Dando continuidade a um contato mais íntimo que vimos mantendo periodicamente com os que nos prestigiam, hoje respondo à questão formulada pelo leitor José de Arimatéia Assunção. Ele questiona sobre a validade ou não do escritor se utilizar da “linguagem do povo”, aquela falada no dia a dia – sem preocupações com concordância, regência, conjugação correta de verbos, utilização de pronomes etc. – em textos literários.
Minha resposta é a mesma que dei quando fui questionado sobre o uso de palavrões. Eu, particularmente, não gosto de usar e raramente me utilizo desse expediente. Todavia, em determinadas circunstâncias e ocasiões, isso não somente é válido, como até se impõe.
Todavia, o escritor deve deixar claro que é seu personagem que fala errado e não ele que não conhece português. Afinal, queira ou não, tenha ou não essa consciência, ele é o guardião por excelência do idioma. Tanto que, determinadas expressões que geram dúvidas nos gramáticos quanto à sua correção, são catalogadas pelos dicionaristas como válidas com base, muitas vezes, apenas no seu uso por escritores consagrados. Você pode observar isso, por exemplo, em algumas expressões no dicionário do mestre Aurélio.
Caso você esteja escrevendo um romance, em que algum de seus personagens (ou todos) seja um sujeito iletrado (analfabeto ou não, não importa) não irá convencer ninguém se o puser dialogando num português impecável, perfeito, castiço, de forma que nem mesmo o mais erudito dos eruditos utiliza no cotidiano. A história ficará inverossímil se o fizer.
O necessário, porém, é ter cuidado para não exagerar na dose. É como certas bebidas alcoólicas: tomadas em pequenas doses, servem como aperitivo, mas se você tomar a garrafa toda... E, principalmente, para não misture erros gramaticais seus, pessoais, com os dos personagens. Detecte-os, no processo de revisão, e corrija-os de imediato.
Aliás, se o escritor for relaxado em seu linguajar, sequer encontrará editor que tope embarcar nessa canoa furada com ele (para não partilhar do ridículo). Seu livro nascerá “morto”, ou seja, permanecerá inédito, a menos que o banque do próprio bolso. E se o fizer, por um excesso de vaidade que o cegue ao ponto de perder a noção de autocrítica, certamente irá arcar com monumental prejuízo, por falta de leitores que se habilitem a comprar tamanha baboseira.
Muitos escritores de primeiríssima linha reproduziram a linguagem do povo em diálogos de personagens (quando isso se impunha, claro) em romances de grande sucesso. Mas fizeram-no com bom-senso, elegância e, sobretudo, pertinência. É isso o que lhe recomendo, caríssimo José de Arimatéia.
Por sua pergunta, concluo que você é aspirante a escritor. Mande-me, pois, seus textos, sem nenhum receio de eventuais prejuízos à sua imagem, pois prometo, caso sejam bons, publicá-los (como faço com todos os que me procuram) e, em caso contrário, juro que não o exporei ao ridículo. Se houver erros insanáveis para um editor, comprometo-me a analisá-los exclusivamente com você, em um e-mail particular. Ninguém saberá, a não ser nós dois, ok?
Mas não tenha receio de se expor. Submeta-se à crítica, que é sempre saudável. Ela pode ser muito mais didática do que um montão de aulas teóricas de literatura. Ademais, ninguém é infalível e nem nasceu sabendo das coisas, não é mesmo?
Boa leitura.
O Editor.
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