Desculpe, foi engano!
* Euclides Farias
Não costumo abrir e-mails comerciais escritos em inglês, por serem estatisticamente os mais letais condutores de vírus, mas também por ver abuso no ato de se tentar vender da agulha ao avião sem ao menos conhecer a língua falada pelo suposto comprador. Também não atendo, pela mesma aversão aos enigmas cibernéticos, a telefonema em que o visor exibe “sem número” ou “número confidencial”. É engraçado: configura-se o celular em tão sinistro recurso e espera-se que haja interlocutor suficientemente curioso ou bobo para atender à chamada.
Quando percebo telefonema do tipo, vem de pronto à memória de leitor um tempo em que o celular engatinhava no primeiro mundo, com a primeira ligação feita, em 1973, por Martin Cooper, pesquisador da Motorola, de uma esquina do centro de Nova Iorque, nos Estados Unidos, para um telefone fixo. No Brasil, à época, nem sinal da revolução. Sob a ditadura Médici, a única revolução que se via por aqui era a dos arapongas bisbilhotando e infernizando, na base do disse-me-disse, como comadres, a vida alheia.
Foi só em 1990 que o espanto experimentado por Cooper chegou ao Brasil, onde os 667 aparelhos de então saltaram para os atuais 50 milhões de aparelhos, sofisticados, multiusos, capazes de fotografar, receber e enviar e-mail, recepcionar filmes e programas de TV, postar, gravar e, com alguma sorte, no caso de algumas operadoras, falar.
De lá pra cá, o ritmo da vida moderna impôs os celulares como imprescindíveis, eu no meio, sem, no entanto, por natural impossibilidade tecnológica, eliminar os riscos de aborrecimento causado pela chatice que é ouvir “desculpe, foi engano” ou “esse telefone é do fulano?”. Quem liga, deveria certificar-se de que está fazendo a coisa certa e não ficar jogando dinheiro fora.
Há quem chegue ao cúmulo de ligar repetidas vezes para, por fim, diante do insucesso, porque a vida não se resume a atender telefonemas, mandar uma mensagem pedindo retorno à ligação. Ora, se você não atendeu é porque não quis ou não pôde naquele instante. Se quiser, pode fazê-lo mais tarde, lógica que dispensaria a tal mensagem.
Pode acreditar. Neste exato momento em que escrevo a crônica, o telefone, programado no perfil silencioso, ao lado do computador, está tocando. Não atenderei. Não é “número confidencial” nem “sem número”. Por um desses mistérios indecifráveis que envolvem os celulares, a brava Legião da Boa Vontade (LBV) descobriu há algum tempo meu número. Registrei-a na agenda. Eu, hein?!
* Jornalista, 50 anos de idade e 27 de profissão, exercida em O Liberal, A Província do Pará, Agência Nacional dos Diários Associados e Rádio Cultura. Atuou, como freelancer, na Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde.
* Euclides Farias
Não costumo abrir e-mails comerciais escritos em inglês, por serem estatisticamente os mais letais condutores de vírus, mas também por ver abuso no ato de se tentar vender da agulha ao avião sem ao menos conhecer a língua falada pelo suposto comprador. Também não atendo, pela mesma aversão aos enigmas cibernéticos, a telefonema em que o visor exibe “sem número” ou “número confidencial”. É engraçado: configura-se o celular em tão sinistro recurso e espera-se que haja interlocutor suficientemente curioso ou bobo para atender à chamada.
Quando percebo telefonema do tipo, vem de pronto à memória de leitor um tempo em que o celular engatinhava no primeiro mundo, com a primeira ligação feita, em 1973, por Martin Cooper, pesquisador da Motorola, de uma esquina do centro de Nova Iorque, nos Estados Unidos, para um telefone fixo. No Brasil, à época, nem sinal da revolução. Sob a ditadura Médici, a única revolução que se via por aqui era a dos arapongas bisbilhotando e infernizando, na base do disse-me-disse, como comadres, a vida alheia.
Foi só em 1990 que o espanto experimentado por Cooper chegou ao Brasil, onde os 667 aparelhos de então saltaram para os atuais 50 milhões de aparelhos, sofisticados, multiusos, capazes de fotografar, receber e enviar e-mail, recepcionar filmes e programas de TV, postar, gravar e, com alguma sorte, no caso de algumas operadoras, falar.
De lá pra cá, o ritmo da vida moderna impôs os celulares como imprescindíveis, eu no meio, sem, no entanto, por natural impossibilidade tecnológica, eliminar os riscos de aborrecimento causado pela chatice que é ouvir “desculpe, foi engano” ou “esse telefone é do fulano?”. Quem liga, deveria certificar-se de que está fazendo a coisa certa e não ficar jogando dinheiro fora.
Há quem chegue ao cúmulo de ligar repetidas vezes para, por fim, diante do insucesso, porque a vida não se resume a atender telefonemas, mandar uma mensagem pedindo retorno à ligação. Ora, se você não atendeu é porque não quis ou não pôde naquele instante. Se quiser, pode fazê-lo mais tarde, lógica que dispensaria a tal mensagem.
Pode acreditar. Neste exato momento em que escrevo a crônica, o telefone, programado no perfil silencioso, ao lado do computador, está tocando. Não atenderei. Não é “número confidencial” nem “sem número”. Por um desses mistérios indecifráveis que envolvem os celulares, a brava Legião da Boa Vontade (LBV) descobriu há algum tempo meu número. Registrei-a na agenda. Eu, hein?!
* Jornalista, 50 anos de idade e 27 de profissão, exercida em O Liberal, A Província do Pará, Agência Nacional dos Diários Associados e Rádio Cultura. Atuou, como freelancer, na Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde.
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