segunda-feira, 5 de outubro de 2009




Aos 40

* Por Aliene Coutinho

A gente olha para trás e o tempo voou. Ainda dá para lembrar da infância como se fosse ontem. Os amigos, as brincadeiras, os amores platônicos, os primeiros namorados, está tudo ali, emoldurado, com cores vivas que não foram desgastadas pelos anos.

Dá para sentir até os cheiros. Do bolo saindo do forno na hora do lanche, servido com crush ou suco de uva, da pipoca feita na panela, com manteiga, do perfume da goiabeira que dividia espaço com as roseiras do quintal. Até hoje, rosa me lembra goiaba e vice-versa. Coisas de criança.

Foi nesse quintal que cresci. Livre para brincar com a garotada da vizinhança, onde criávamos um mundo só nosso. Povoado de personagens que depois me deparei na vida adulta. No teatro da imaginação havia escravos, patrões, soldados, generais, rainhas, súditos, princesas, bruxas... Eles ainda estão a nossa volta vestidos de outra maneira, com outras caras, às vezes até disfarçados, mas comportando-se como tal.

A vida passa tão rápido. Num sopro viramos adolescentes, depois gente grande. Recordo-me de uma professora no segundo ano primário que aconselhava vivermos cada fase de uma vez, sem pular etapas. Aos 15 anos, temos que ser 15 anos e daí por diante. Nunca a esqueci. Tentei aproveitei cada tempo do meu tempo, embora nem sempre como gostasse. A vida à vezes nos obriga a pular etapas.

E os anos foram se somando, velas se multiplicando e eu cheguei aos 40. Hoje, tento viver o presente. Com prazer olho pra trás, folheio velhos álbuns, revejo antigos vhs, mergulho no passado. Vejo-me como um personagem de histórias que me fizeram crescer, mas que está muito distante da minha realidade atual.

Não gosto de pensar no futuro, nem sei se viverei a mesma quantidade de anos que vivi até agora. Isso também não me preocupa. Deixo o amanhã vir sossegado, ele virá de qualquer forma. É daquelas visitas que chegam sem avisar, e eu mesmo que despreparada para recebê-lo, vou ficar de braços e coração abertos. Cada vez que ele vier, virá com lucro. Será mais um dia de vida.

* Jornalista e professora de Telejornalismo

2 comentários:

  1. Faz bem, Aliene. É devagar, devagarinho, que a gente vai ganhando tempo e se afeiçoando à vida. Quando se dá pela coisa, não precisa nem de plano de saúde!

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  2. Acho que a vida dura o tempo certo. Não quero viver muito. Milena, a minha mãe, dizia que pouca diferença fazia morrer aos 68 ou 72 anos. A morte a encontrou aos 68 anos. Todos têm saudades da infância, exceto quando tenham sofrido espancamentos ou assemelhados. Sinto saudades da minha, no entanto não a quero de volta. Ao seu contrário, a vejo embaçada, esquecida, justo onde deve permanecer: oculta. Aos 40 anos a vida pode oferecer muito, mas geralmente não serve bem a quem não sabe usá-la. Não é o seu caso Aliene, que nos serve em bandeja uma saudade feliz.

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