domingo, 12 de julho de 2009




Transformação

*Por Clara dos Anjos

Acordei santa
Li passagens
Vi imagens
Minutos depois
Tornei-me avesso
Pensamentos
umidade
Vesti-me de desejo

Planejei calmaria
Em seguida
O corpo ardia
Valha-me Deus
O que acontece comigo?
Será castigo
Falta de juízo?

Humanos,
Não me culpem
Não atirem pedras
Não censurem

Pudesse decifrar
O minuto de transformação
Da castidade ao tesão
O exato instante
Onde me torno pecado
Reteria entre os dedos
O que move o corpo ao exagero

Amarrar pés e mãos?
Cerrar olhos e ouvidos?
Arrancar fora as entranhas?
Paralisar a mente?
Jogar o jogo do contente?

Soubesse onde ele brota
Palavra que desperta
Imagem que acende
Leitura que aflora
Teria respostas
Santa
Viveria em castidade
Do princípio à eternidade

Não posso
Não sei
Desconheço o minuto fatal
Que transforma a noviça em mulher
E faz dela o que bem quer

*Clara dos Anjos é cronista/contista/poeta, nasceu em Montes Claros, interior do estado de Minas Gerais e reside na capital Belo Horizonte. É colaboradora em suplementos literários e comunicadora. Recebeu o nome de um personagem do escritor Lima Barreto, de quem seu pai era leitor e admirador. Prepara a publicação de seu primeiro livro "Ecos", compilação de crônicas, contos e poemas.

Um comentário:

  1. Se há um Deus, e se foi Ele quem nos fez, então não queria castidade, com certeza, pois se a quisesse nos teria feito de outra matéria e não de carne, músculos, nervos, hormônios, sensações, emoções e paixões. Ah, essas paixões sim, nos movem, nos comovem e nos tornam pecadoras.

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