sábado, 11 de julho de 2009




O tempo do relojoeiro

* Por Juliano Luís Pereira Sanches

O tempo deixou de girar com a velocidade do relógio, tal como o ponteiro das horas parou de querer acompanhar o dos minutos. Será? As bocas vaidosas, estimuladas pelo orgulho, dizem que os velhos estão atrasados e ultrapassados. Um bocado de jovens se sente adiantado e ajustado, pelo menos quando está a namorar e a curtir a vida, ou melhor, quando fica, seja sentado a esperar o tempo passar, seja em pé para se mostrar pronto.

Na maioria das vezes, os que mais criticam o rodar estridente da carroça dos outros se enganam sobre o feitio de suas caras carruagens, tão lentas na precisão. Entre os horários de verão e as mudanças instituídas, o Homem se torna um aprendiz de relojoeiro, muitas vezes, incapaz de acertar a si próprio, apenas interessado em modificar os mecanismos alheios. Quem não conhece o próprio relógio, como pode querer modificar as peças que regulam os ponteiros do aparelho do outro? O bom relojoeiro conhece tão bem seu relógio que, quando vê algo sobre o aparelho alheio, age com compreensão ao invés de criticar.

Os relógios das pessoas são acertados conforme a necessidade, porque a relação entre os passos dos ponteiros é sempre definida pelas escolhas que fazemos no dia-dia. Na música Tempos Perdidos, Renato Russo comenta as contradições da vida, como o sol que aparece numa manhã cinza, e a pessoa que dorme com a luz acesa, mesmo ao dizer que não tem medo de escuro. Nem tudo que dizemos é realmente o que acontece com o relógio da nossa vida. Nós construímos a história ao regularmos os ponteiros do nosso tempo presente.

Velhos e jovens constroem seus limites com as idéias dos ponteiros do imaginário. Os estados físicos e mentais dependem exclusivamente das condições que estamos. Ficamos onde nos colocamos. Vivemos com as escolhas. Um jovem, talvez, se sinta um herói da liberdade prestes a encarar qualquer desafio ou, talvez, um ser que esgotou suas possibilidades. Eis a decisão, poção de fins sem fins. Como estão os ponteiros das suas decisões. Os ponteiros definem os horários. Cada elemento do relógio tem sua importância para fazer os mecanismos funcionarem, para realizar os acertos e os ajustes internos. Uma dose de respeito é capaz de encher o nosso vaso com a boa convivência, tão cara atualmente. Quanto pagamos por uma boa convivência ? Qual o seu valor? A hora e o valor são ajustados por nós. Depende de cada um. Acerte os seus ponteiros e o resto se completa.

* Jornalista, folclorista e poeta de Campinas. Foi repórter de assuntos gerais nos programas Sexta Cultural, Fractal, Jornal da Educativa e Bom Dia Campinas, daRádio Educativa FM 101.9 (www.campinas.sp.gov.br). Atualmente, é apresentador, repórter e produtor do programa de jornalismo educativo Ponto & Vírgula da Rádio Educativa em parceria com a Secretaria de Educação de Campinas. Colaborador do Portal Sorocult (www.sorocult.com), e colunista do Jornalzen (www.jornalzen.com.br), de Campinas.

Um comentário:

  1. A guerra oculta entre o tempo e o passar do tempo, entre o jovem e o velho é mostrada aqui com bastante veracidade. A conclusão foi o que mais me tocou:"Uma dose de respeito é capaz de encher o nosso vaso com a boa convivência, tão cara atualmente." Sim, as pessoas se desrespeitam quase sem notar, como se fosse natural esse desrespeito.

    ResponderExcluir