sexta-feira, 27 de abril de 2018

Relato de parto - Cláudia Magnólia


Relato de parto


* Por Cláudia Magnólia


Ser mãe superou todas as minhas expectativas. Talvez tenha ocorrido porque nunca fui dessas de abrir a boca para dizer que este era o meu grande sonho. Era algo que estava em meus planos, sim. Talvez. Se acontecesse: oba! Se não acontecesse: ok também! Mas, então, não mais que de repente, me vi grávida. Assim, sem planejar, sem ter tomado todas as vacinas antes, sem ter começado com o ácido fólico, sem a mínima ideia de como eu faria dali pra frente. De repente, em meio a “tô me sentindo esquisita”, em meio a muita sonolência, lá estava eu com um teste de farmácia marcando dois tracinhos. E um exame de sangue confirmando: eu seria mãe!

Apesar da surpresa, não fiquei assustada. Sabia que um bebê seria sinônimo de felicidade. Me senti segura e feliz desde o primeiro momento. Mas não foram só rosas. Eu não fazia ideia do que era uma gravidez e, se já respeitava mulheres grávidas, agora respeito muito mais. Sabe, nos filmes, novelas e livros, geralmente a mulher enjoa, descobre que está grávida, passam os meses e tchan-raaaan: nasce uma linda criança! Mas, na prática, não é simples assim. Enjoei muito até o quarto mês, período em que vomitei (blarg!!!) quase todos os dias. Sentia dores de estômago. Enxaqueca. E não podia tomar remédios. Depois vieram a azia, as dores na lombar (ai de mim se não fosse o pilates), cãibras, tive a temida zica, morri de medo que algo acontecesse com meu bebê. Tive pesadelos terríveis. Me senti feia, horrorosa. O cabelo ficou mais ressecado que o de costume. Muitas noites mal dormidas recheadas de idas e vindas ao banheiro.

Claro que tiveram partes boas: muita gente me mimou, me ajudou, cuidou de mim. Nunca estive, nem me senti sozinha. E foi emocionante sentir meu filho mexer pela primeira vez. E maravilhoso e divertido todas as outras vezes em que ele mexeu, chutou, “plantou bananeira” na minha barriga. Ouvimos música, lemos, batemos altos papos. Uma ligação extraordinária. Antes dele, ninguém havia estado tão perto do meu coração. Literalmente.

Mas só me senti aliviada e completa mesmo quando Benjamin chegou saudável e lindo após dez horas sentindo a maior e melhor de todas as dores: a dor da vida. Sim, porque viver é bom, mas dói. Eu falava direto: o mundo aqui fora não é tão quentinho, meu filho. Mas ele veio, corajoso e lindo e forte para os meus braços. Para os braços do mundo. Ele veio e mudou a minha vida. Eu, que já me considerava abençoada e feliz, não tinha noção do quanto esse sorriso banguela me transformaria.

Acho até que me adaptei facilmente à nova rotina. Abracei todos que quiseram auxiliar sem se intrometer. Aceitei com humildade e alegria toda a ajuda (que não foi pouca, graças a Deus). Mas quando precisamos ser eu e ele a maior parte do tempo, confesso, foi o melhor da festa. Nos reconhecemos. Nos encontramos. E logo aprendemos a cuidar um do outro como ninguém. Como se já estivéssemos nos cuidando há muito tempo. E não duvido disso.

A jornada é cansativa, não nego. Por vezes, preciso respirar bem fundo e ter muita paciência. Mas no final das contas, a exaustão é só um detalhe. Não importa que às vezes eu só consiga tomar banho de tarde. Ou de noite. Que eu não tenha hora para almoçar. Que nem me lembre se escovei os dentes. Que de vez em quando chore de cansaço. O que importa realmente é sentir o cheiro do meu filho, o calor do seu corpinho junto ao meu. Vê-lo sorrir sapeca e feliz depois de mamar. Ou pegar no sono durante a mamada. Ouvir seus gritinhos de felicidade. Acompanhar suas descobertas. Acalmar seu choro com meu cheiro, meu colo, meu calor.

Nesses quatro meses, aprendi mais sobre o amor do que em minha vida inteira. Ao ver os olhinhos pretinhos de Ben brilhando ao encontrarem os meus, o meu coração não se aguenta de felicidade e gratidão. Desde que ele nasceu, me emociono todos os dias, pois em seu sorriso eu tenho a certeza que sempre busquei: Deus existe. E sim, Ele é maravilhoso.


 (*) Jornalista que nas horas vagas brinca de escrever histórias. Revisa textos, elabora pautas, escreve reportagens para um jornal online e publica textos periodicamente em seu blog: http://pormeg.blogspot.com/
 



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