quarta-feira, 25 de abril de 2018

A promessa de um grande amor - Maras Narciso


A promessa de um grande amor

* Por Mara Narciso
 
No dia quatro de março de 2018 nasceu Frida, filha de Ana Flor e de um pai mestiço, meio poodle. Desde que a mãe nasceu, há uns quatro anos, foi-me prometido um filhote. Mas tive de esperar, pois a cachorrinha poodle branca de Tia Áurea teve apenas um cachorrinho. Desta vez, deu certo. Foram quatro filhotes fêmeas, sendo duas brancas e duas pretas. Escolhi uma preta e dei o nome de Frida. Logo que soube do nascimento, começamos a romaria. Toda semana, uma visita, um carinho na mãe e nas filhas, para que nos fôssemos acostumando.
 
À medida que as cachorrinhas foram crescendo, o espaço exigido para o ninho foi aumentando. Ana Flor, uma grande mãe, aos poucos foi lhes dando autonomia. Vi a amamentação, acompanhei o desenvolvimento. Com duas semanas foi-lhes cortado parte do rabo. Eu não queria. Com 44 dias foi-lhes dado o 1º banho, com direito a foto e laço de fita. Com 45 dias, foi o dia da 1ª vacina. Frida se comportou bem, mas teve uma febrezinha. Tia Áurea tem habilidade e know-how, porque criou muitas ninhadas. Conhece os bichinhos e os ama como ninguém.
 
O dia 21 de abril foi completamente diferente. A casa perdeu sua rotina e foi criada outra. Eu nunca tive cachorro, pois morei 26 anos em apartamento pequeno, e fui casada com alguém que não gostava deles, então, com boa expectativa fomos, Fernando, meu filho e eu buscar a cachorrinha. Acordei três vezes à noite, preocupada com a ruptura afetiva de Frida. Largar a mãe, as irmãs, o ninho e Tia Áurea, a cuidadora. Estou cheia de receios. Além do filhote, ganhei caminha, cobertor, pratinho e ração, além de orientação sobre xixi e cocô, jornal, brinquedos, vacina, essas coisas.
 
Tudo estava preparado para recebê-la, como quando a gente traz para casa um neném recém-nascido. Segurança é primordial. Já tinha imaginado colocar o cantinho dela no quarto em frente ao meu. Como tenho asma, não vou deixá-la dormir comigo e nem subir na cama. Não sei se vou levar adiante esta decisão, pois ela é apenas um neném.
 
Passamos num armazém para pegar uma caixa para colocar a caminha dentro. Conselho de Tia Áurea, que não acha conveniente comprar uma casinha. Quando chegamos em casa, abri o portão, entramos, Fernando desceu com ela, ajoelhou-se e explicou que aquela era a sua nova casa, porém, quando a colocou no chão ela começou a chorar. Eram nove e meia da manhã, mesmo horário em que meu filho nasceu. Tinha logo um e depois três degraus impossíveis para ela. Foi colocada sobre o assoalho encerado e ela deslizou para trás. Estava insegura, trêmula, com medo. Logo começou a soluçar. Foi quando me decidi a deitar no chão ao lado dela e fiquei enroscada por um tempo, para acalmá-la e mostrá-la que não havia motivo para insegurança. Trouxe a cobertinha e em poucos minutos ela foi relaxando, mordeu a ponta do tecido e cochilou com seu rosto sobre ela.
 
Duas horas depois montei sua caminha dentro da caixa deitada de lado, coloquei água que ela tomou logo, e após muito carinho, acabou dormindo por meia hora. Mas começaram os problemas: formiga na ração, um xixi a cada hora. Depois cocô, em seguida uma raivinha, novo soluço e começou a roer a caminha, e depois o jornal e as franjas da colcha da cama. Ela estava insatisfeita e eu tentando entendê-la. Estou contando minhas emoções, que são também dela. O que a faz se sentir segura é o contato com o corpo, ficar no colo, aconchegar-se aos nossos pés. Assim, parece sentir menos a falta do contato físico com a mãe e as irmãs. Logo estava vencendo os degraus.
 
A 1ª noite foi como um plantão na maternidade. A toda hora um choro. Tive de me levantar cinco vezes para acalmá-la, agasalhá-la, aconchegá-la, niná-la. Esperta, aprende rápido e logo deduziu que eu estava sobre a cama. Dava latidos e saltos tão altos, que seriam dignos de uma competição de decibéis para quebrar cristal como também de salto em altura, tentando subir na cama. Mas não conseguiu. Agora, está na casa de Tia Áurea por algumas horas. Estava muito parada e tive receio de que algo errado tivesse acontecido, mas está tudo normal. Frida nos trouxe a energia que estávamos precisando. Estamos os três muito bem diante da promessa de um grande amor.


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”


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