O
sonho sem destino
*
Por Natércia Freire
Se
os caminhos são breves
e
os dias tão compridos
e
as tuas mãos mais leves
que
a espuma dos vestidos;
se
é de ti que me ondeia
uma
brisa sutil…
E
a vaga- diz: — Sereia!
E
o sonho diz:— Abril!
Se
cresces e dominas
os
campos que acalento,
e
inundas as colinas
de
fontes que eu invento;
se
tens na luz dos olhos
o
misterioso apelo
das
cidades de fogo,
das
cidades de gelo;
se
podem bem guardar
na
tua mão fechada
o
meu altivo Tudo
e
o meu imenso Nada;
se
cabe nos meus braços
a
bruma que tu és,
e
em algas e sargaços
te
abraço nas marés;
se,
puro, na presença
da
nossa grande Casa,
pões
na voz do horizonte
um
lume de asa e brasa.
Não
sei porque te sonho
na
sombra matinal,
e
ao meu lado te vejo,
real
e irreal.
Sabeis
— adaga fria,
que
ao meu peito cintilas
onde
se oculta o dia
das
aragens tranquilas?
Se
tudo sabes, mata
com
dedos de oiro fino,
ou
com gume de prata,
o
sonho sem destino!
(De
«Azul de Sete Pedras»)
*
Poetisa portuguesa.
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