domingo, 29 de abril de 2018

Discrepâncias do mercado editorial - Solange Sólon Borges


Discrepâncias do mercado editorial


* Por Solange Sólon Borges


Nem só de metáforas e belos enredos a literatura é feita. Há discrepâncias que a permeiam. Primeiro, em caráter numérico; segundo, em termos de mercado.

Vejamos o primeiro. Pesquisa recente (6/2006) divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) indica que o faturamento das editoras subiu cerca de R$ 902 milhões, em 1991, para o patamar de R$ 2,5 bilhões, em 2004. O BNDES tira outros números da manga: o faturamento teria diminuído 48% entre 1995 e 2003. A CBL argumenta que se utiliza de valores nominais para a pesquisa. Os economistas da UFRJ, que assinam a pesquisa do BNDES, usam valores deflacionados, operando com o valor real do real em séries históricas. Discussões econômicas à parte, há outros dados preocupantes.

No 34º Encontro de Editores e Livreiros, realizado em agosto de 2006, em Fortaleza, foram apontados outros fatores para essa salada numérica. Fábio Godinho (diretor geral da Larousse) disse que o mercado encolheu 26% nos últimos 10 anos. Desde 1995 as vendas caíram 23% no varejo e as compras do governo — indiscutivelmente o maior comprador do país — 31%. Uma renda maior do brasileiro, somada à universalização do Ensino Médio não modificou esse mercado estagnado. O preço do livro, entre 1999 e 2005, andou subindo mais do que a inflação, levando-se em conta o IPCA do IBGE.

Não dá realmente para entender para aonde se caminha — e se realmente se caminha. Houve um crescimento de 60,83% na venda de livros em supermercados e de 48,19% em bancas de jornal, além de uma queda surpreendente nas vendas feitas pela internet, segundo dados da Pesquisa Mercado Editorial Brasileiro 2005 (Fonte: Globo on line). O mercado aqueceu ou gelou? Redes de livrarias apostam em novos pontos, livreiros independentes fecham suas portas... Afinal, trabalhar com livros é ou não é um bom negócio, no Brasil? Fica a dúvida no ar.

A perenidade ou a eternidade do livro é tema de outra discussão. Afinal, qual o impacto da era digital sobre o livro? E como se relacionar com o conteúdo de uma forma diferente?

No Brasil, a Biblioteca Livre sonha em reunir o catálogo das bibliotecas, disponibilizando os dados na net. A informação poderá ser mais democrática ao tentar integrar diversos acervos num único site. Se por um lado essa iniciativa da SABIN — Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional — junto com engenheiros da UFRJ e patrocínio da IBM lembra a tão sonhada Biblioteca de Alexandria, ela está longe de ser concretizada, na prática. Hoje a Google, que digitaliza o acervo completo das cinco maiores bibliotecas do mundo, tropeça no respeito à propriedade intelectual, jogando areia nas previsões feitas em 2000 que 10% do mercado editorial seriam digital até 2005. Fizeram bem melhor nossos amigos em 280 a.C em Alexandria, concentrando 70% da produção da época, segundo alguns historiadores, sem as facilidades da internet, movidos pelo amor aos livros ou pelo controle do saber. No mundo digital, se avança menos. Indiscutivelmente. E, no mercado editorial, temos uma ligeira noção para aonde se caminha de fato. Espero que pelo melhor caminho que inclua o amor aos livros e o prazer pela disseminação do conhecimento.

* Jornalista, dedica-se a diversos gêneros literários. Entre outras atividades, atua em alguns programas “O prefácio”, sobre livros e literatura. Um deles é o programa Comunique-se, levado ao ar pela TV interativa ALL TV (2003/2004). Apresentou, também, “Paisagem Feminina”, pela Rádio Gazeta AM (1999), além de crônicas diárias na Rádio Bandeirantes e na Rádio Gazeta — emissoras das quais foi redatora, repórter, locutora e editora.
 


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