sábado, 21 de abril de 2018

Brisa marinha - Stéphane Mallarmé


Brisa marinha

* Por Stéphane Mallarmé

A carne é triste, e eu li todos os livros, todos.
Fugir! Eu sei que há pássaros já doudos
Por se ver entre os céus e a espuma do alto-mar!
Nada, nem os jardins refletidos no olhar,
Retêm o meu olhar que já no mar se aninha,
Nem, ó noite, a luz da lâmpada sozinha
Sobre o papel vazio, intangível de brilho,
E nem a mulher moça amamentando o filho.
Hei de partir! Vapor de mastros oscilantes
Ergue a âncora para regiões extravagantes!
Um Tédio desolado, entre anseios intensos,
Ainda acredita no supremo adeus dos lenços!
E esses mastros, talvez, cheios de maus presságios,
São dos que um vento faz vergar sobre os naufrágios
Sem ilhas férteis e sem mastros de veleiros…
Mas, ó minha alma, ouve a canção dos marinheiros!


* Poeta simbolista francês, integrante do grupo que se convencionou chamar de “Os Cinco Poetas Malditos”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário