A mulher que não sentia
prazer
* Por
Celamar Maione
Renatinha esperava a amiga na
pizzaria com ansiedade. As duas, que sempre foram muito unidas, já
não se viam há dois anos, desde que Renatinha fora estudar nos
Estados Unidos. De volta, a primeira coisa que fez foi ligar para
Mariuska.
-Uska, sou eu, Renata. Estou
de volta. Precisamos conversar. Tenho muitas novidades.
-Natinha, que saudade! Eu
também. Me separei. Estou divorciada.
Combinaram o encontro na
pizzaria que iam nos tempos da faculdade. Quando Mariuska chegou, os
olhos de Renatinha ficaram marejados e ela mordeu os lábios de
emoção.
-Uska, que saudade! Tentei
falar com você por e-mail, mas era tanta coisa, tive que estudar
tanto, que não dava nem para computador! E você sabe que eu não
gosto desse mundinho virtual.
-Não tem problema. Vamos
colocar nosso papo em dia aos poucos.
-Mas, me diga Uska, você se
separou do Rodolfo? O que aconteceu?
-Sexo.
-Sexo?!!! Como assim, sexo?
Ele queria todo dia?
-Não. Muito ruim de cama.
Ficava cada vez pior.
-Você não viu isso no
namoro?
-No namoro eu estava
apaixonada. Depois do casamento, a gente avalia com mais rigor e..
-E...
-Muito ruim de cama. Nos
últimos três meses de casamento, então, transava, virava para o
lado e dormia. Não queria saber se eu tinha gozado ou não. Eu nunca
gozei com ele para ser sincera.
-Ahhhhh....e vocês não
conversaram sobre o assunto?
-Tentei. Mas quando acaba o
tesão, acaba tudo!
-Eu sempre acreditei nisso
também. Relação sem sexo e sem tesão não sobrevive mesmo. Esse
negócio de dizer que existe amor sem sexo, só se for de pai e
mãe...
-E lhe digo mais – completou
Mariuska – ele podia se vestir de batman que não conseguia mais me
excitar. O tesão acabou! Morreu!
As duas riram e nem viram a
hora passar. Renatinha falou primeiro:
-Mulher, quase meia-noite.
Amanhã tenho muito o que fazer. Já que você está solteira, vou
lhe apresentar o Alfred, um amigo dos states que está passando
férias aqui. Quem sabe você não se apaixona e... o sexo com ele
pode ser gostoso. Ele é um garanhão.
Mariuska ficou excitada. Nunca
havia transado com um estrangeiro. Quem sabe? Combinaram um novo
encontro. Dessa vez com a presença de Alfred. A semana passou
rápida. No sábado, se encontraram na balada. Renatinha levou
Alfred. Apresentou a amiga. Os dois conversaram a noite toda sobre
vários assuntos, enquanto Renatinha dançava com outra amiga.
Mariuska sentiu atração por Alfred. Os dois tinham algo em comum:
haviam se separado recentemente. Durante a conversa, as afinidades
cresciam. Na despedida, trocaram telefone.
No dia seguinte, saíram
sozinhos. Duas horas de conversa e foram parar num motel. Uma hora
depois, Mariuska estava decepcionada. Não conseguiu gozar com
Alfred. Disfarçou para não desapontar o americano e pediu para ir
embora. Disse que estava passando mal, com dor de cabeça e muito
enjoada. Se despediram secamente. Assim que chegou em casa, jogou a
bolsa em cima da cama e ligou para a amiga.
-Natinha, sou eu! Foi um
fracasso, amiga. Não gostei do cara. Não consegui gozar com ele.
-Jura?! Mas me diziam que ele
era bom de cama! Faziam a maior propaganda do Alfred nos states.
-Uma porcaria. Muito
apressado. Não gosta de preliminares. Um horror!
-Poxa, fiquei chateada. Eu que
apresentei o cara.
-Mandou mal, hein? O cara
parece galo depois da briga, rouco, rouco.
Terminaram a conversa ás
gargalhadas. Antes de voltar para os states, Alfred ligou para
Mariuska três vezes. Foi rejeitado. Mariuska resolveu desencanar.
Não queria forçar um encontro. Preferia primeiro se apaixonar.
Acreditava que, assim acontecendo naturalmente, tinha chance de ser
feliz no sexo. Renatinha ainda tentou apresentar novos amigos a
Mariuska. Mariuska recusou. As duas retomaram a antiga amizade. Saíam
juntas nos finais de semana e durante a semana se ligavam para contar
as novidades.
Nesse tempo, Mariuska conheceu
Luis Norberto, o novo colega de trabalho. Bonito, olhos claros, alto,
simpático e sedutor. Amante á moda antiga. Dava sempre a vez às
mulheres, tratava bem todas as colegas de trabalho. Era amigo,
atencioso, dedicado e ainda por cima, inteligente. Luis Norberto
passou a ser paquerado pelas colegas de escritório, mas foi para
Mariuska que dedicou mais atenção. Conversavam na hora do almoço e
nos intervalos para o cafezinho. Ele ensinava o trabalho a Mariuska
com muita paciência. Tornaram-se íntimos, para inveja das outras,
que faziam muxoxo quando Mariuska pegava uma carona com Luis
Norberto.
Renatinha logo tomou
conhecimento da paixão da amiga. Luis Norberto e Mariuska começaram
a namorar. Com duas semanas de relacionamento, foram para a cama. O
sexo foi frio, sem graça. Mariuska não gozou. “A culpa deve ser
do pênis de Luis Norberto, pequeno demais”, pensou Mariuska. Com
sexo sem satisfação, o namoro durou pouco. Logo, Mariuska se
desinteressou. Assim foi com os três outros namorados. Se tornou uma
mullher insatisfeita e amarga. Depois do divórcio, não conseguia se
satisfazer sexualmente com homem nenhum. Procurou Renatinha para
desabafar:
-Acho que o defeito é meu.
-Então, por que não vai ao
ginecologista? Ele pode dar um remédio...
-Remédio? Remédio para
gozar?! Não existe, Natinha. Transo como se estivesse indo ao
banheiro fazer necessidade e....e....O que foi Natinha?
Renatinha olhou para a amiga,
enternecida. Se aproximou de Mariuska:
-Você ainda não percebeu
nada, Uska?
-Percebeu o quê?
-Eu não acredito que você
seja tão desligada. Fala de homem e eu nunca falo de homem. Não se
toca? Não percebe?
Mariuska tentava entender o
que a amiga dizia . Olhava para ela, pensava, enquanto Renatinha se
aproximava. Quando Renatinha colocou as mãos nos cabelos de
Mariuska, ela se levantou, rápido.
-Vou me embora. O papo está
bom, mas tenho que ir.
Renatinha segurou nas mãos da
amiga e, com lágrimas nos olhos, disse, com emoção na voz:
-Não vai embora, precisamos
conversar. Eu sempre fui apaixonada por você. Quando você se casou,
foi a maior decepção. Vem, posso a fazer feliz, dar o que não
encontrou nos homens...e...
Carente, Mariuska se comoveu
ao ver o choro. Passou as mãos pelos cabelos da outra. Ficaram se
acariciando horas. O sangue foi subindo pelo corpo de Mariuska. Ela
se rendeu aos carinhos da amiga e se beijaram com paixão. Mariuska
amanheceu ao lado de Renatinha. Acordou com um sorriso nos lábios.
“Finalmente” – pensou – “encontrara a tão sonhada
felicidade nos braços da melhor amiga”.
* Radialista e jornalista,
trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA,
Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio
Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e
comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente
poesias e contos. É autora do livro de contos “Só as feias são
fieis” (Editora Multifoco).
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