quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O Rio ainda é o tambor do Brasil

* Por Elaine Tavares

O pré-candidato à presidência da República pelo PSOL, Nildo Ouriques, esteve por vários dias no Rio de Janeiro, onde cumpriu intensa agenda partidária, visitando cidades do interior e também a capital. Sua proposta foi ouvir os filiados e dirigentes locais sobre os rumos do partido e também conhecer os principais desafios da população fluminense. Entre as atividades esteve a visita à Rocinha, uma das maiores comunidades da cidade do Rio, com mais de 100 mil habitantes, e lá, reforçou sua ideia de que a população realmente quer uma mudança radical na vida e na política. E essa mudança é a Revolução Brasileira.

Nildo tem especial carinho pelo Rio de Janeiro. Foi lá que viveu seu primeiro emprego, em 1985, atuando na Fundação Escola do Serviço Público, durante o primeiro mandato de Leonel Brizola como governador. Desde então tem observado que a capital fluminense, apesar de ter perdido o posto de capital do Brasil, seguiu sendo uma espécie de “tambor” do país, sem nunca ter renunciado o posto de vanguarda intelectual e política. Até hoje, o Rio mantém um grau de heresia e vitalidade com uma imensa capacidade de pensar o país.

Na visita à Rocinha ficou claro de que essa vocação de ser o tambor do Brasil segue viva e atuante. E está na vida mesma das comunidades, nas pessoas simples que vivem seus dramas cotidianos e que os driblam com valentia, sempre procurando as saídas que garantam o bem viver. “É impressionante a satanização que a mídia faz dessas comunidades. É fato que existe a ação forte do narcotráfico, que há uma militarização tremenda, um combate aberto, letal, uma tensão permanente, mas as pessoas têm uma imensa sabedoria e uma astúcia sobre as causas e as soluções”.

Nildo conversou com lideranças, pequenos comerciantes, agentes comunitários de justiça, trabalhadores e observou que se há alguém responsável por todo o drama que vivem as pessoas empobrecidas nas favelas do Rio ou de qualquer lugar, são os governantes. Eles são responsáveis e cúmplices porque se recusam a convocar a população para, junto com ela, encontrar as saídas para cada problema. “O que falta nas comunidades é nada mais nada menos do que o poder público. Falta acreditar no povo, falta fé nas gentes, falta chamar as pessoas para participar efetivamente”.

Caminhando pelas vielas labirínticas da Rocinha Nildo percebeu que se os burocratas partidários torcem o nariz para o tema da Revolução Brasileira, as gentes simples não. Elas abrem os olhos e os ouvidos e encontram nessa proposta a melhor alternativa. “Ali a violência é cotidiana, eles sofrem o racismo, a desigualdade de classe, a miséria, o caráter letal da polícia. Eles querem uma transformação radical. Sabem que nessa ordem nada vai mudar”.

Um exemplo disso é a expressão do programa “Minha casa, minha vida” que encravou na comunidade de mais de 100 mil habitantes um total de 400 casas. Isso é uma gota de água no oceano. Pensar a questão urbana no Rio ou em qualquer metrópole passa por um projeto que seja verdadeiramente transformador. “Ali deve se começar com 15 ou 20 mil casas. Menos que isso é ilusão. E a comunidade que olha como funcionam essas políticas, sabe disso, quer outra coisa”.

Nildo aponta que existe uma guerra de classe contra o povo e a saída é a revolução brasileira. No caso da questão urbana, como na agrária, na economia ou na cultura, o que precisa é uma articulação concreta entre as reformas necessárias e as políticas públicas. Programas paliativos que comovem as pessoas de boa fé são incapazes de resolver os dramas urbanos ou rurais. Há que se pensar programas massivos, que garantam moradia. “Para isso, no programa da Revolução Brasileira será necessário mexer no estrutural: tirar dos grandes proprietários do espaço urbano a capacidade que eles têm de tomar a renda da terra e ficar especulando com o aluguel”.


Já com relação ao tráfico, igualmente letal nas comunidades, a solução não deverá passar pelos marcos da política punitiva atual que usa uma polícia violenta, que mata o povo, que prende apenas os pobres e pretos. Bem como são também pobres e pretos os policiais que igualmente tombam nessa guerra sem fim, mostrando que é apenas a classe trabalhadora que coloca as vítimas. “Os resultados disso tanto nós como as comunidades já sabem: morrem os pobres, os trabalhadores, e os ricos passam as férias na Europa. Não vamos defender as ilusões do sistema. Temos um programa de grandes transformações, mudanças reais, construções produzidas pelas próprias pessoas que vivem os dramas cotidianos. Com elas vamos realizar a Revolução Brasileira”.


* Jornalista em Florianópolis/SC.




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