sábado, 20 de janeiro de 2018

Perfumaria

* Por Flora Figueiredo

Há dias de se acordar tão feminina!
Gata, sereia, bailarina,
sedas, laços e batom.
O corpo é doce, o beijo é bom,
a vida é orquestra; eu, maestrina.
É dia de viver celeremente.
Antes que o encanto rache
ou que o ciclone aumente,
lavo-me em mel e purpurina.
Mas toca o telefone, a flauta desafina,
e eu visto a couraça novamente. 

In O Trem que Traz a Noite, 2000 

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário