segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Polícia viva no feriado de Finados


* Por Alex de Souza



Madrugada de sexta para sábado. Feriadão de Finados. Eu, preparando o meu programa na Rádio Haroldo de Andrade, que vai ao ar às 3h da manhã, quando o porteiro do nosso prédio, localizado à Rua Buenos Aires, no coração do Rio de Janeiro, me liga:
- Sr. Alex! Estão tentando roubar o seu carro aqui na porta do prédio – diz este porteiro-anjo, que acompanhava a ação pelas câmeras de segurança do prédio.

Eu, sem acreditar no que ouvia, enchi o pobre coitado com aquelas técnicas de jornalismo que aprendemos ainda nos primeiros períodos da faculdade.
- Estão roubando o meu carro? Quem? Como? Por quê? Aonde?

Neste momento, caí na real. Estou no centro do Rio, paro o carro em plena Buenos Aires, feriadão, rua deserta, nem sombra de autoridades. É acreditar muito na sorte ou achar que ladrão folga nos feriados (sic).

Corri ao elevador e desci os 19 andares que me separavam da porta de saída e da surpresa que esperava lá embaixo. Como encontraria o carro?
- Um cara alto, com mochila de viagem nas costas, bermuda, com uma chave nas mãos, parou em frente a porta do motorista e tentou abrir o carro com a chave que estava, Sr. Alex. Não conseguiu abrir e saiu. Mas, pode voltar.

A última frase dita pelo porteiro-anjo me fez coçar a cabeça. “Como assim, pode voltar!?” Retornei ao elevador e lá fui eu, 19 andares acima, entrar no ritmo e continuar a preparar mais uma edição do Madrugada 1060. Mas, aquela frase não parava de martelar: “[o ladrão] pode voltar”.

Olhei para o telefone e resolvi arriscar: 190 e, do outro lado da linha:
- 190, fulano de tal, bom dia! Por motivo de segurança a sua ligação será gravada –disse o atendente.
- Ok. Meu nome é Alex de Souza e, estão tentando roubar o meu carro – fui objetivo.
- Qual o seu carro? Placa? Cor? Quantos homens? Estou enviando uma viatura ao local para averiguações.
- Muito obrigado – disse eu.

Mas no fundo, eu pensei: “vai virar estatística! Ninguém virá aqui. A Polícia Militar tem mais o que fazer. Será que virão investigar uma TENTATIVA de roubo?”

Surpresa! Em menos de 10 minutos, o porteiro-anjo ligou novamente:
- Sr. Alex, a Polícia está aqui e eu não sei de nada!
Pensei: “Porteiro-anjo?”

Desci os 19 andares e lá chegando, surpresa! Dois carros, tipo blazer, com policiais fortemente armados, vestidos com coletes à prova de balas, com caras de mau e sedentos por encontrar o meliante. Respondi a uma série de perguntas, descrevi o infeliz com a ajuda do porteiro (que perdeu a santidade!). Ele (o porteiro) respondia as perguntas do policial com a minha ajuda. Virei assessor de imprensa dele. Não sabia que ele não falava com autoridades, confidenciou-me mais tarde.

Descrição feita, documentos apresentados, e os PMS, simpáticos, deram a entender que, pela descrição, sabiam quem eles iriam procurar. Aperto de mão pra cá, aperto de mão pra lá. Polícia viva no feriado dos mortos. Programa no ar.
- Bom dia Rio, Bom dia Brasil, hoje é sábado 3 de novembro de 2007, o Madrugada 1060 está no ar e espero que o meu carrinho esteja na porta do prédio quando descer!


* Radialista e jornalista



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