quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Ser intelectual na era dos blogs

* Por Emir Sader

Intelectual de esquerda escrevendo no Facebook e no Twitter? O que é isso?
Na nossa formação política aprendíamos a diferença entre agitação e propaganda. Na agitação se difundem poucas ideias para muitos. Na propaganda, muitas ideias para poucos. Esta seria para a vanguarda, para os mais formados. Aquela, para a massa da população.

De repente, na era da internet, as alternativas são entre os 240 toques do Twitter ou os espaços maiores do Facebook. O que significa isso? Que possibilidades dão para a socialização de informações sonegadas pela mídia e para fazer a luta de ideias?

É verdade que não são apenas essas as alternativas. Eu tenho Facebook e Twitter, que já somam 125 mil seguidores, mas também escrevo artigos para o Brasil 247, para a Rede Brasil Atual, para o Blog da Boitempo. Além de que meus artigos são regularmente republicados em portais como o Pagina 12, da Argentina, no La Jornada, do México, no Publico, da Espanha, no El Telegrafo, do Equador, entre outros. E publico livros de autoria própria e organizo livros coletivos, claro. Portanto pode-se combinar diferentes formas de expressão das mesmas ideias em formatos diferentes.

Brecht dizia, nas suas dificuldades para dizer a verdade, que a última e a maior delas era exatamente fazer chegar a verdade a quem mais precisa da verdade. Portanto não basta uma boa analise. É preciso que ela seja expressa em linguagem compreensível para a grande maioria. Que ela encontre os meios para chegar a essa grande maioria.

A internet é hoje o melhor meio para isso. Expressar grandes verdades em 240 caracteres? Claro que é possível! Expressá-las no Facebook? Claro que é possível.

Intelectual que se resigne a ficar em casa, lendo jornais, escrevendo, de vez em quando, algum artigo, publicado para poucas pessoas, ou livros ilegíveis, para anunciar a catástrofe à qual caminha a humanidade, não existe. Suas ideias não circulam socialmente. Ele fala para seus pares.

Marxismo não combina com elitismo e com aristocratismo. A internet – entre Facebook, Twitter, Blogs – é um ótimo teste para se saber se as ideias que temos são traduzíveis em formatos e em linguagens simples, se conseguem chegar a um mundão de pessoas, se chegam aos jovens, se podem se transformar em força material.

Triste do intelectual que se fecha a esse mundo, com suas verdades, seus pares, sua vida acadêmica, suas certezas. Faz do marxismo letra morta, o contrario do que queria Marx e do que pede a realidade.

* Sociólogo e cientista político



Nenhum comentário:

Postar um comentário