sábado, 27 de janeiro de 2018


Pai pobre

* Por Gilberto Nogueira de Oliveira

Pai,
Que sem ter chance
De educar e aculturar seus filhos,
Sai pelas quebradas da vida
Em busca do Estado corrupto
Que lhe nega todas as saídas
E não lhe dá uma guarida.

Pai,
Que por não ser competitivo nem globalizado,
Sai em busca de qualquer coisa
Para matar a fome dos filhos
Que serão a sua cópia, amanhã.

Pai,
Que de volta para o barraco
Vê seus filhos a gritarem de fome.
São as vítimas de um sistema criminoso
Que excluem negros e pobres
Até a extinção.

Pai,
Que só tem uma opção:
Aliar-se ao tráfico de drogas
Que alimenta o capitalismo
E praticado pelos detentores do capital
Sem sujar suas mãos brancas.

Pai,
Que já começou a ganhar dinheiro.
É pouco, mas dá.

Pai,
Que vai ser encontrado morto heroicamente,
Numa periferia qualquer,
Desse país que nunca foi seu,
Depois de ser perseguido
Por polícia e bandido,
Ambos agindo em conjunto
Para não quebrar o sistema.

Pai,
Negro, foragido e criminoso.
Filhos pobres, novamente
Por causa da droga de comer,
Por causa da droga de beber,
Por causa da droga de aspirar,
Por causa da droga de atirar,
Por causa da droga de democracia.

Louvemos o socialismo.

* Poeta e romancista baiano


Nenhum comentário:

Postar um comentário