segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


O prazer do poema

* Por Maira Parula

Como se pode viver com alguém sem criar expectativa nenhuma?
Como um zumbi talvez. Com um zumbi também.
Eu confundo um pouco os fatos.
Quem se aproxima de zumbis acaba se transformando em um.
Basta esperar o tempo passar. Não precisa muito.
Uma ponta da noite e você vai ver. O iceberg inteiro.
Ao nascer do sol verá que percorreu quarenta milhas a hora
e ainda acha que foi ontem. Está no mesmo lugar e longe.
Morto à beira de um lago, uma banheira, que julgou ser o mar.
Uma citação não favorece a poesia. A poesia não favorece o corpo.
O corpo quer engolir outro corpo, pela linha que passa de polo a polo.
O amor, seu capote de lã.
E você cometerá outra vez e outra vez.
Quantas forem necessárias e se ainda houver água na cisterna.
Enquanto seu olhar for de si mesmo, o que é sinal seguro de terra.
A vida não cobra nada para repetir o mesmo ato. O sim e o não.
Uma pequena risada no café da manhã.
As glândulas independentes da vontade.
Escravo da contração dos músculos.
Mas seus cães ainda estão ali,
esperando pelo seu carinho do outro lado da janela.
E nesta hora você não pensará nos babuínos.

* Poetisa.


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