segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


Modismos

* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral

Moda é uma coisa engraçada, não combina com pobreza, pelo menos não nos meus tempos de infância.

Bicicleta! Nunca tive, mas sonhava com a dita cuja e era tão real na minha cabecinha...o interessante é que quando eu conseguia tocá-la ela ficava mole, não firmava de jeito nenhum.

Trauma superado.

Carnaval, era doida para ter um pareô ou sair de havaiana, nem uma coisa nem outra, o jeito foi sair às ruas de fronha na cabeça.

Trauma ainda em relevância.

Infância passa rápido e os ideais de consumo também. A moda era usar tênis, sonhava com aquele negócio nos pés, achava lindo. Minha mãe conseguiu desenterrar não sei de onde uma coisa alternativa, era pesado e cor de abóbora, discreto né?

Usei até furar a sola! Era o meu tênis dá licença! Grata.

Começaram as aulas e fui matriculada em uma escola de padres, já havia perdido um ano por conta da mudança. As meninas usavam sapato boneca pretinho, todo feminino.

Apesar da tristeza, fui arrastando aquele conga trevas nos pés! Mal sabia que minha mãe, é, sempre ela, já havia encontrado um sapato pra mim.

Era desses de engraxar, caprichava no brilho. Um belo dia descendo o gramado em frente a igreja senti a caloria do asfalto nos pés. Quando olhei pro gramado toda a sola do sapato havia ficado pra trás. Debaixo dos risos das "amigas" peguei os restos mortais e me retirei de cabeça baixa.

Voltei ao conga trevas.

Trauma superado.


* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário




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