Grama
autocortante e mato autoeliminante
* Por
Marcelo Sguassábia
"A imaginação é
mais importante que o conhecimento", já dizia Einstein com a autoridade de
quem sabia tudo desse mundo e de todos os outros, por mais que continue se
expandindo esse Universo velho sem porteira.
Dois dos maiores
estouros mercadológicos de que se tem notícia ilustram bem essa citação. Eles
nasceram juntos em laboratório e não podem ser vendidos separadamente, até
porque um complementa a ação do outro. Onde exista jardim, público ou privado,
lá estão os gloriosos e insubstituíveis inventos de Alejandro Cortez de
Calabares, que deram a ele fortuna e um lugar definitivo entre os grandes
gênios da Catalunha.
Foi numa nebulosa
manhã de julho que lhe veio à mente a redentora visão, que iria livrá-lo da
dívida na mercearia e das seis parcelas em atraso no plano funerário.
Profundamente sensibilizado por um drama pessoal vivido por Alícia Jimena, a
dedicada governanta de sua tia-avó de Sevilha, Alejandro ergueu a ela um
imaginário brinde com uma dose generosa de absinto, virou de vez e desabou espetacularmente
sobre o surrado pufe da sala. A mesma sala de paredes sujas da qual, seis meses
mais tarde, teria apenas uma vaga lembrança, envolvido pelo luxo de seu castelo
em Palma de Maiorca.
O MATO AUTOELIMINANTE
Não se sabe se foi o
conforto reparador daquele pufe, comprado em beira de estrada nas férias de
1991, ou o efeito alucinante do absinto, o fato é que naquele dia sua mente
penetrou em reinos desconhecidos e inspiradores. A primeira das visões lhe
surgiu aos onze minutos da fase de sono REM, já com a baba escorrendo pelo
canto direito da boca. A partir de uma alteração na genética da planta, ao
começar a crescer o mato enforca a si mesmo com os ramos que vão brotando do
seu caule, numa espécie de suicídio vegetal involuntário.
A GRAMA AUTOCORTANTE
Se com o invento
anterior eliminamos a fatigante tarefa de arrancar um a um os matinhos dos
gramados, com sua segunda visão Alejandro nos livra para sempre daquele ícone
verde da classe média americana, tão arraigado ao cotidiano ianque quanto o
molho barbecue e os tacos de golfe: o cortador de grama. Ao atingir determinada
altura, configurada no setup do aparelho, um sensor dispara um feixe de laser
que apara eletronicamente a quantidade de grama que ultrapassar a dimensão
desejada, mantendo-a sem qualquer esforço no tamanho ideal.
Esperto, Alejandro
atraiu a atenção da mídia mundial ao testar simultaneamente os dois inventos
nos Jardins de Luxemburgo, no Hyde Park e nos gramados da Casa Branca. Em
questão de dias, nosso herói passou das filas do seguro-desemprego à lista dos
bilionários da Forbes, com o saldo da conta corrente crescendo mais que mato no
meio da grama.
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Boas ideias, com jeito de factíveis, porém, o mato que nasce nos gramados, não é plantado por nós, e sim pelos passarinhos. Mudar a genética de milhões de espécies, me parece meio difícil, mas valeu como uma maneira do seu herói fica rico.
ResponderExcluir