Pílulas literárias 203
* Por
Eduardo Oliveira Freire
INVERNO
Em dias frios, ele
abre o chuveiro. A água quente envolve seu corpo trêmulo. Sente um certo
conforto, mas o vento que passa entre as brechas do basculante, as paredes e o
piso não o fazem esquecer do inverno. Quer continuar a sentir a água quente,
mas o chuveiro elétrico começa soltar fumaça e a exalar cheiro de queimado. Fecha
o chuveiro e espera esfriar. Depois abre um pouco. Só assim que a água esquenta.
Nos dias de inverno, sempre faz a mesma coisa. É uma rotina...
QUERIA
Roberto queria só ser
substantivo, não queria ter adjetivo. Com o passar do tempo, morreu infeliz.
Descobriu que não tinha jeito. Era mais um substantivo que tinha adjetivo.
"NÃO SEI QUANDO ME PERDI"
Pensava sozinho.
Sempre estava só. Os outros achavam que era meio louco. "Sou só porque me
abandonei. Esse é o pior tipo de abandono". Tempos idos. Olha a rua, tenta
procurar resquícios... Deseja dormir um sono tranqüilo. O vento balança a
mangueira, as mangas maduras caem no chão. Crianças correm pela vila. Mais um
dia que sobrevive na casa antiga e cinzenta.
- AMA-ME OU ME DEIXE
Ele a deixou, mas
continuou a amá-la até o fim da vida.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Em relação ao último texto, sei o que isso significa. E como queima de dor!
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