Livro nascido por “geração espontânea”.
Há bons livros que “nascem”, não diria que por acaso, mas
quase isso. Ou seja, que são escritos sem essa finalidade específica, mas que
se revelam tão bons, que seus autores resolvem publicá-los. Vários acabam, até,
se tornando best-sellers, sucessos inegáveis de vendas, dada sua utilidade, ou
o interesse que despertam, ou ambas as coisas, o que nem mesmo é tão raro. São
os casos, por exemplo, de teses universitárias de doutorado, ou de pesquisas de
várias ordens (científicas, sociológicas, históricas, literárias etc.), que se
transformam em volumes impressos e são comercializados pelas respectivas
editoras. Contudo, esses não são os únicos casos. Muitos livros “nascem” da
reunião de textos esparsos (quase sempre crônicas, mas não apenas estas)
publicados pelos autores ou em jornais em que sejam colunistas, ou em revistas,
ou, mais recentemente, em blogs. Ou seja, que são redigidos não especificamente
para esse fim.
Com romances, por razões compreensíveis, isso é mais raro de
acontecer, embora às vezes aconteça. Muitos contos, escritos para determinada
revista, acabam se revelando tão bons, têm tamanha aceitação da parte dos
leitores, que seus autores decidem ampliá-los, estendê-los, adaptá-los e
publicá-los como peças desse complexo gênero. E, salvo exceções, tornam-se
sucessos. Alguns, até, são premiados e conferem, por conseqüência, prestígio e
credibilidade aos escritores que têm esse tipo de inspiração. Romances, em
geral, tendem a ser rigorosamente planejados. Alguns têm planejamento tão
meticuloso, que podem ser comparados a plantas de edifícios.
Todavia, mesmo estes, raramente seguem rigorosamente o plano
pré-estabelecido. Determinados personagens, por exemplo, criados para serem
meramente “figurantes”, crescem de importância no desenvolvimento do enredo e
acabam se transformando, se não nos principais da história, pelo menos em
protagonistas. Quem já escreveu e publicou algum livro sabe do que estou
falando. Não raro, “abortamos” determinadas obras meticulosamente planejadas,
por uma série de razões desnecessárias de serem declinadas e nunca mais
retomamos aquele projeto, aquela idéia que um dia nos pareceu tão promissora,
nem mesmo sob outra aparência. Comigo isso já aconteceu, e mais de uma vez. Com
vários dos meus amigos também.
E onde pretendo chegar com todo esse bla-bla-blá? Simples: à
revelação que mais um livro meu acaba de “nascer” por geração espontânea, o que
é impossível na natureza, mas não na Literatura. Refiro-me à série de textos
comentando a vida e a obra de Machado de Assis, que partilhei com vocês desde o
início de fevereiro deste volátil 2015. Eles “nasceram” praticamente ao sabor
do acaso. A idéia inicial era a de que fossem, no máximo, cinco, atendendo
solicitações de leitores, feitas por e-mail.
Todavia, o tema é tão rico, rendeu tanto e empolguei-me de
tal sorte com o assunto, que, em vez de redigir cinco comentários, como
planejado, redigi mais de sessenta! E olhem que deixei de lado aspectos
importantíssimos da vida e da obra de Machado de Assis, o que talvez aborde no
futuro. Fiquei empolgado, sobretudo, quando alguém me informou que estava
imprimindo cada um desses textos e os arquivando em pastas específicas. Meu
entusiasmo cresceu ainda mais quando um leitor revelou que a série, nascida
praticamente por acaso, estava sendo de grande utilidade nas suas aulas de
Literatura em determinada faculdade de letras. Que bom!
Lendo calmamente os textos, concluí que, reunidos, e com
alguns ajustes, dariam um livro de ensaios até que razoável. Ademais, eles
podem ser lidos tanto isoladamente (em forma de artigos ou de crônicas, como
queiram) quanto em conjunto, sem que, em nenhum dos casos, percam a coerência.
Cada comentário tem começo, meio e fim. Esta não é a primeira obra minha que
nasceu dessa maneira. Pelo menos outras três surgiram assim. São os casos do
panorama literário de Brasília, que escrevi em 2010, quando do cinqüentenário
de fundação da Capital da Esperança; dos principais ficcionistas da Bahia e
“Copas ganhas e perdidas”, retrospecto de todos os mundiais de futebol que pude
acompanhar, desde o de 1950 ao de 2014, que culminou com os acachapantes e
humilhantes 7 a 1 da Alemanha.
Nenhum desses livros foi publicado e nem sei se algum, ou se
todos eles virão a ser, algum dia. Intuo que sim, mas... Mesmo se não forem,
todavia, o fato é que eles “existem”, estão prontinhos, pré-editados e
revisados e, o que é melhor, estão à disposição dos internautas, que podem
acessar texto por texto que os compõem e fazer deles o uso que melhor lhes
aprouver (desde que respeitem, claro, meus direitos autorais, sobretudo o de
autoria, que deve sempre ser explicitada). Quem sabe se desta vez alguma
editora se interesse por este novo livro, ainda sem título, mesmo que tratando de
assunto tão batido, mas jamais esgotado. Não raro as circunstâncias favorecem
esse tipo de surpresa. Enfim...
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Em ambos os casos que acompanhei, sejam copas ou Machado de Assis, senti que os livros estavam prontos, e bons. Feliz com o fato, Pedro, incansável Pedro. Parabéns!
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