sexta-feira, 17 de abril de 2015

Pílulas literárias 205


* Por Eduardo Oliveira Freire


SORTE

Estava no ônibus e senti alguma coisa no meu casaco. Pensei que era barata, mas era mariposa. Minha prima me disse que ela significava sorte, logo, levei-a até minha casa e quando a coloquei no pequeno jardim, ela voou rumo à escuridão da noite. Bem, não sei se terei sorte, porém, o encontro foi proveitoso, pois saí um pouco do umbigo da minha humanidade e viajei para outras realidades mais antigas.

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DESAPARECIDO

Um dia, tornou-se aparecido. Mas, a vida que havia deixado para trás desapareceu. Perdido, voltou a desaparecer, descobrindo-se desaparecido por natureza.

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VOVÓ

Amava a neta e achava um absurdo os pais da menina a proibirem de comer doces. A garota adorava a maçã do amor e a senhora comprava escondido para ela. Com o passar dos anos, a mocinha tornou-se que nem a avó... Diabética.

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AMANTES E INIMIGOS

Quanto mais se odiavam, sentiam forte atração. Machucavam-se e ao mesmo tempo se devoravam. Um dia, perceberam que o ódio e o desejo se esvaíram de seus corpos. Despediram-se.

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ESTRELA

A luz que vem de fora incide na grade da janela, projetando sua sombra. De repente, vejo uma estrela que ilumina minha escuridão.

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NÃO PENSADO

Mesmo sentindo desejo de beber o reflexo da lua, o orgulho de ser um ser racional falou mais alto. Então tirou uma foto malfeita do seu celular.

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LOBO

Ele a vê várias vezes e se faz lobo em sua imaginação, bebendo o reflexo da lua com gozo sentido e não pensado.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/


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