segunda-feira, 13 de abril de 2015

A gênese dos Viralatas

* Por Ademir Assunção


Palavras e sons. Um poeta falando e três músicos tocando. Viralatas de Córdoba é isso. Mas não é tão simples assim.

Cada música foi composta a partir das cadências, dos ritmos, das intenções de cada verso e de cada poema. Foram revestindo as palavras e as palavras foram se revestindo com os sons, como o esqueleto é revestido de carne e a carne reveste o esqueleto.

O esqueleto é só esqueleto. A carne é só carne. Quando estão revestidos um pelo outro, se tornam um corpo. Um corpo que pensa. Um corpo que sente. Um corpo que se apresenta ao mundo. Um corpo falante, pensante, delirante.

Este corpo está cheio de intenções.

Este corpo é um híbrido de poemas, baladas, blues, rock’n’roll, jazz, sentidos e sons que se harmonizam, sons e sentidos que se completam. Sentidos e sons que podem tirar o sono. Sons e sentidos que podem embalar o sono.

Este corpo não quer dizer nada. Ele está dizendo. Não são só as palavras que dizem. Cada riff de guitarra, cada linha de baixo, cada levada de bateria, cada vocalise, cada desenho melódico do cavaco-banjo, cada sequência de acordes do violão, cada nota do berimbau de boca está dizendo algo.

Este corpo, agora, é indivisível.

Este corpo tem desejos manifestos.

Este corpo quer tocar outros corpos.

Este corpo tem alma.

E se você ainda tem alma, este corpo vai tocá-la.

Ou não.


* Poeta e jornalista

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