quarta-feira, 8 de junho de 2011







Parto

* Por Marleuza Machado


Sua essência foi concebida entre dores e amores, de um encontro adiado, do beijo tão desejado, e por ironia, na solidão. Em completa desordem de sentimentos, começa a germinar em mim, algo novo.

Sem folgar um segundo, percebo o desenvolver ansioso do que anseia existir, entretanto, ainda precoce, pede aconchego e espaço para amadurecer perfeito. Experimento a alegria de gerar, enquanto cresço em ansiedade. Reclamo descanso e, inquieta, rolo em lençois perfumados. Num breve cochilo, sinto o trabalho contínuo do cérebro, corpo, alma e coração.

De sobressalto, desperto. Ele clama pela luz! Peço calma a mim mesma; de pormenores ainda carece. Porém, o controle me foge, o coração dispara, a respiração acelera. As contrações são frequentes e involuntárias. Há um desejo de gritar palavras sem nexo. Arfo... É quando sinto minha impotência em retê-lo. Neste momento, num misto de choro e riso, ainda que temporão, mais um poema nasce.

Duraste apenas um segundo,
se comparado à imensidão da eternidade...
E por tanta fugacidade,
sempre retornas
em lembranças,
em sonhos,
em desejos...
És o fantasma de um sentimento que ainda respira.

• Poetisa e jornalista

2 comentários:

  1. Lindo parto Marleuza.
    Parabéns.
    Abração

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  2. Sentimentos confusos nos atacam quando estamos "preparando outra pessoa", como bem disse Caetano Veloso. Bonita explanação desse complicado momento de gerar e de parir. Damos apenas o chute inicial, e tudo acontece a nossa revelia.
    Destaco:
    "sinto minha impotência em retê-lo".
    Maravilhoso!

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