Rockabilly
* Por Marcelo Sguassábia
ILUSTRAÇÃO: THIAGO CAYRES
Vou te ver de Lambretta, aconteça o que acontecer a este esquisito que chamam de Marco Antônio. É, de Lambretta! Sábado agora, pode esperar, na mesma bat-hora este repetente mascador de chiclete aparece com a mesma bat-jaqueta. Fiquei com aquela branca e azul piscina, igual a que te mostrei anteontem na rua. Brilhando como está, de longe você reconhece quando estiver estacionada na sorveteria da praça. Melhor assim, Diana, território neutro. Meio caminho entre minha casa e a sua, pra evitar diz-que-diz-que se virem a gente em algum canto mais afastado. Depois sim, de Lambretta, aí a gente se embrenha onde o desejo mandar e a cidade não veja. Mas relax, eu vou saber esperar seu tempo, cheirosinha, vai acontecer e vai ser bom e gostoso como andar de Lambretta nova. E ela vai ter o seu nome, vou decalcar um “Diana” em letra manuscrita na carenagem do lado esquerdo, onde fica o coração, olha só que romântico. Dianinha, a filha do delegado, comigo. Minha, escoltada pra baixo e pra cima pelo maluco aqui. Bacana isso. É pra que todo mundo saiba que tem dono, essa Diana deusa da caça, linda de tranças. Estou com o exame médico vencido, se não ia te ver no clube antes de sábado. Mas tudo bem, enquanto isso amacio pra você a minha, quer dizer, a nossa Lambretta. Manera com esse biquíni, não sou só eu que gosto dele. Usa aquele maiô preto quando não estiver comigo e tem dó de mim tendo que escutar essa seleção de marchinhas dos tempos de nem sei quando que o vô põe na radiovitrola. É só vir chegando o carnaval que começa esse suplício, estourando os falantes. De Lambretta vai ser diferente, vamos juntos ouvir a melhor música do mundo, a do vento zoando no ouvido. Em jukebox nenhuma tem um hit como esse. Você agarrada na minha cintura e eu acelerando até o talo quando a gente passar pelo convento, acordando as pobres das freiras na terça gorda, a caminho do mato. E as ovelhas desgarradas de Nosso Senhor na esfregação e na cheiração de lança, aproveitando o aval da carne enquanto a quaresma não vem. Não vão conseguir pegar a gente, nem chamando a viatura da rádio patrulha. Eles trabalham na quarta de cinzas, depois do meio dia. Eles não sabem do vento no rosto. Eles não têm Lambretta, baby.
• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: www.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
* Por Marcelo Sguassábia
ILUSTRAÇÃO: THIAGO CAYRES
Vou te ver de Lambretta, aconteça o que acontecer a este esquisito que chamam de Marco Antônio. É, de Lambretta! Sábado agora, pode esperar, na mesma bat-hora este repetente mascador de chiclete aparece com a mesma bat-jaqueta. Fiquei com aquela branca e azul piscina, igual a que te mostrei anteontem na rua. Brilhando como está, de longe você reconhece quando estiver estacionada na sorveteria da praça. Melhor assim, Diana, território neutro. Meio caminho entre minha casa e a sua, pra evitar diz-que-diz-que se virem a gente em algum canto mais afastado. Depois sim, de Lambretta, aí a gente se embrenha onde o desejo mandar e a cidade não veja. Mas relax, eu vou saber esperar seu tempo, cheirosinha, vai acontecer e vai ser bom e gostoso como andar de Lambretta nova. E ela vai ter o seu nome, vou decalcar um “Diana” em letra manuscrita na carenagem do lado esquerdo, onde fica o coração, olha só que romântico. Dianinha, a filha do delegado, comigo. Minha, escoltada pra baixo e pra cima pelo maluco aqui. Bacana isso. É pra que todo mundo saiba que tem dono, essa Diana deusa da caça, linda de tranças. Estou com o exame médico vencido, se não ia te ver no clube antes de sábado. Mas tudo bem, enquanto isso amacio pra você a minha, quer dizer, a nossa Lambretta. Manera com esse biquíni, não sou só eu que gosto dele. Usa aquele maiô preto quando não estiver comigo e tem dó de mim tendo que escutar essa seleção de marchinhas dos tempos de nem sei quando que o vô põe na radiovitrola. É só vir chegando o carnaval que começa esse suplício, estourando os falantes. De Lambretta vai ser diferente, vamos juntos ouvir a melhor música do mundo, a do vento zoando no ouvido. Em jukebox nenhuma tem um hit como esse. Você agarrada na minha cintura e eu acelerando até o talo quando a gente passar pelo convento, acordando as pobres das freiras na terça gorda, a caminho do mato. E as ovelhas desgarradas de Nosso Senhor na esfregação e na cheiração de lança, aproveitando o aval da carne enquanto a quaresma não vem. Não vão conseguir pegar a gente, nem chamando a viatura da rádio patrulha. Eles trabalham na quarta de cinzas, depois do meio dia. Eles não sabem do vento no rosto. Eles não têm Lambretta, baby.
• Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: www.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
Nenhum comentário:
Postar um comentário