Mãos ao alto!
* Por Mara Narciso
Ninguém se sente suficientemente preparado para ser vítima de um assalto. Sim, pareço escrever o samba de uma nota só: a violência. Mas como escapar, se na minha cidade de 355 mil habitantes tenho duas tias vítimas dela num intervalo de oito dias?
A minha Tia sai de casa, que está sendo reformada, numa tarde ensolarada. Pega o seu carro, um Honda Civic. Veste-se bem. É sexta-feira e precisa de dinheiro vivo para pagar os pedreiros. Vai a Imobiliária, onde recebe alugueis de apartamentos. Atravessa a cidade, e estaciona a um quarteirão e meio de outra imobiliária, onde receberá mais alugueis, porém em cheque.
Quando chegava ao local, notou a presença de dois homens numa moto, mas como a cidade está coalhada delas, relaxou. Antes de sair de casa tinha pegado algum dinheiro. Após os recebimentos, sai levando seus documentos, cartões, talão de cheques, agenda, celular, e 2,8 mil em dinheiro, e 4,5 mil em cheques. O carro está estacionado a um quarteirão e meio, num local semidesértico. É fim de tarde.
Sai agarrada às chaves, já com intenção de entrar no carro e sumir. Caminhou célere com a bolsa apertada contra o corpo. Quando estava no meio do quarteirão, ainda a dois carros onde estacionara o seu, e ainda próxima da imobiliária, viu que vinha uma moto na contramão. Eram os mesmos motoqueiros de antes. Ficou em estado de alerta máximo. Os homens pararam, e um deles desapeou, vindo em sua direção. Momento de tensão absoluta. A consciência de que você é o alvo, de que foi escolhida, desconstrói a mente mais equilibrada. Extrema descarga de adrenalina, músculos retesados, taquicardia fatal, falta de ar e terror no limite. Pensou rapidamente: “Vão me matar? Sequestrar? Roubar e fugir? Roubar o carro? Fazer sequestro relâmpago? Obrigar-me a entrar no porta-malas? O que acontecerá?
O pior momento é quando se conscientiza que será a vítima do ataque, antes de a abordagem começar. O rapaz alto, jovem, moreno de capacete e por isso mesmo não identificável, estava de bermudas. O outro permaneceu montado, e este veio. Aproximou-se, e já rente, enfiou a mão na cintura e de lá tirou um revolver preto. Encostou o cano na cabeça de minha Tia, e pediu a bolsa. Ela ficou tão imóvel, contida e aterrorizada, que não saberia dizer se a bolsa foi entregue ou se foi arrancada. Só pensava firmemente em não reagir, em não se mover, e que tudo acabasse logo. Ficou sem nada, apenas com a chave do carro na mão, espremida na mão gélida e trêmula, como todo o resto do seu corpo.
Quando os homens estavam se afastando, ainda gritou para que deixassem os seus documentos, mas eles estavam longe. Buscou a direção da imobiliária, aonde um funcionário, que chegava de bicicleta, viu o assalto e reparou na roupa dos bandidos. Foi feito o Boletim de Ocorrência, mas dos bandidos, nem rastro se viu.
Minha Tia recebeu ajuda na Imobiliária, e ligou para a Filha que veio em minutos. Soube que, após o assalto ostentava uma coloração escura em torno da boca, fruto do pavor. O coração fazia sua balbúrdia, e ela seria incapaz de qualquer ato lúcido.
Em casa, tomou um tranqüilizante, se deitou, e após um sono, passou a assistir incontáveis vezes, a cena do crime. No dia seguinte provou um ódio sem tamanho. Veio uma ira, enquanto pensava, com alívio, de que poderia ter sido muito pior. Isso foi há três dias. Agora está em busca do equilíbrio, para evitar a fobia, o stress pós-traumático ou a síndrome do pânico. Estava indo bem, até saber que sua irmã teve a casa arrombada com o casal dentro de casa, oito dias depois.
* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
Ninguém se sente suficientemente preparado para ser vítima de um assalto. Sim, pareço escrever o samba de uma nota só: a violência. Mas como escapar, se na minha cidade de 355 mil habitantes tenho duas tias vítimas dela num intervalo de oito dias?
A minha Tia sai de casa, que está sendo reformada, numa tarde ensolarada. Pega o seu carro, um Honda Civic. Veste-se bem. É sexta-feira e precisa de dinheiro vivo para pagar os pedreiros. Vai a Imobiliária, onde recebe alugueis de apartamentos. Atravessa a cidade, e estaciona a um quarteirão e meio de outra imobiliária, onde receberá mais alugueis, porém em cheque.
Quando chegava ao local, notou a presença de dois homens numa moto, mas como a cidade está coalhada delas, relaxou. Antes de sair de casa tinha pegado algum dinheiro. Após os recebimentos, sai levando seus documentos, cartões, talão de cheques, agenda, celular, e 2,8 mil em dinheiro, e 4,5 mil em cheques. O carro está estacionado a um quarteirão e meio, num local semidesértico. É fim de tarde.
Sai agarrada às chaves, já com intenção de entrar no carro e sumir. Caminhou célere com a bolsa apertada contra o corpo. Quando estava no meio do quarteirão, ainda a dois carros onde estacionara o seu, e ainda próxima da imobiliária, viu que vinha uma moto na contramão. Eram os mesmos motoqueiros de antes. Ficou em estado de alerta máximo. Os homens pararam, e um deles desapeou, vindo em sua direção. Momento de tensão absoluta. A consciência de que você é o alvo, de que foi escolhida, desconstrói a mente mais equilibrada. Extrema descarga de adrenalina, músculos retesados, taquicardia fatal, falta de ar e terror no limite. Pensou rapidamente: “Vão me matar? Sequestrar? Roubar e fugir? Roubar o carro? Fazer sequestro relâmpago? Obrigar-me a entrar no porta-malas? O que acontecerá?
O pior momento é quando se conscientiza que será a vítima do ataque, antes de a abordagem começar. O rapaz alto, jovem, moreno de capacete e por isso mesmo não identificável, estava de bermudas. O outro permaneceu montado, e este veio. Aproximou-se, e já rente, enfiou a mão na cintura e de lá tirou um revolver preto. Encostou o cano na cabeça de minha Tia, e pediu a bolsa. Ela ficou tão imóvel, contida e aterrorizada, que não saberia dizer se a bolsa foi entregue ou se foi arrancada. Só pensava firmemente em não reagir, em não se mover, e que tudo acabasse logo. Ficou sem nada, apenas com a chave do carro na mão, espremida na mão gélida e trêmula, como todo o resto do seu corpo.
Quando os homens estavam se afastando, ainda gritou para que deixassem os seus documentos, mas eles estavam longe. Buscou a direção da imobiliária, aonde um funcionário, que chegava de bicicleta, viu o assalto e reparou na roupa dos bandidos. Foi feito o Boletim de Ocorrência, mas dos bandidos, nem rastro se viu.
Minha Tia recebeu ajuda na Imobiliária, e ligou para a Filha que veio em minutos. Soube que, após o assalto ostentava uma coloração escura em torno da boca, fruto do pavor. O coração fazia sua balbúrdia, e ela seria incapaz de qualquer ato lúcido.
Em casa, tomou um tranqüilizante, se deitou, e após um sono, passou a assistir incontáveis vezes, a cena do crime. No dia seguinte provou um ódio sem tamanho. Veio uma ira, enquanto pensava, com alívio, de que poderia ter sido muito pior. Isso foi há três dias. Agora está em busca do equilíbrio, para evitar a fobia, o stress pós-traumático ou a síndrome do pânico. Estava indo bem, até saber que sua irmã teve a casa arrombada com o casal dentro de casa, oito dias depois.
* Médica, jornalista e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”.
Ai, Mara, não vivemos em um mundo fácil. Lamentável. Estamos desamparados.. Abraço.
ResponderExcluirTerrível, Mara. É a violência, cada vez mais inclemente, rondando nossas casas e rendendo nossos entes queridos. Triste. Um grande abraço, parabéns pelo texto e bom feriado.
ResponderExcluirMinha Tia que foi assaltada é bem de vida, e anda muito arrumada, do tipo que chama a atenção. Tem 64 anos, mas parece ter 15 anos menos. Não ostenta, mas por ser elegante, aparece até sem querer. Os bandidos a seguiram desde a porta da casa dela, que mede 750 m². Morando assim, não dá para ficar fingindo de pobre. Agora ela evita levar dinheiro.
ResponderExcluirSó respondo agora, porque fiquei cinco dias sem internet. Teclo da casa de minha irmã Carla, pois estou em BH após o congresso em Ouro Preto(Endocrinologia Pediátrica), que terminou ontem.
Agradeço a manifestação de vocês, amigos. Muito obrigada!