quarta-feira, 27 de abril de 2011







Os doze da rua Velha

* Por Marco Albertim

Já em 1890, com a greve dos operários da fábrica de tecidos do comendador Barroca, Madalena, o anarcossindicalismo se faz presente; em 1909, na greve dos ferroviários; na de 1911 e nas greves gerais de 1917 e 1919. É o período das Uniões de Resistência, do jornal Hora Social e do animador anarquista Antônio Bernardo Canellas, adepto da “ação direta” junto com o espanhol Santos Minhocal e o português José Santos. Canella reúne-se com operários, explicando o que é bolchevismo; e no jornal faz publicar a primeira constituição socialista russa. O que não impede de, mais tarde, ainda movido pelo pensamento de fundo anarcossindical, ser expulso do Partido Comunista do Brasil.
Informa o historiador Clóvis Melo que o pernambucano Rodolfo Coutinho, advogado, teve assento no V Congresso da Internacional Comunista. É sob seus argumentos que o PCB é admitido como seção, e não como partido simpatizante até então. Em Moscou, Coutinho é colega de quarto de Ho Chi Minh; simultaneamente, absorve as influências de Leon Trotski. Em 1929, cria uma cisão no PCB e é expulso. Funda um partido próprio, que não prospera. Nove anos depois, sob depressão, suicida-se.
A vinda ao Recife dos tenentes Sampson da Nóbrega Sampaio e Carlos Chevalier, fomenta nova conspiração. Estão clandestinos, fugidos do Levante de 5 de Julho, em São Paulo. Juntam-se ao advogado Sílvio de Guimarães Prado, aos tenentes Cleto da Costa Campelo Filho, Braz Calmon Gomes e Domingos Pessoa Guedes, ao capitão Gastão da Silveira e ao ex-sargento da marinha Anfilófilo de Holanda Cavalcanti . As reuniões se dão no número 169 da rua Velha, Boa Vista. Dentre os comunistas, Cristiano Cordeiro e Sílvio Cravo, advogados, e o escritor Manuel de Souza Barros. Historiador e jornalista, Joaquim de Oliveira faz publicar no jornal A Província, o Manifesto ao povo, pregando independência da justiça, garantia de trabalho, amparo à infância e à velhice. O Manifesto é assinado pelo capitão Luís Carlos Prestes, pelo major Miguel Alberto Crispim da Costa Rodrigues – Miguel Costa - e pelo general Isidoro Dias Lopes. O jornal é do usineiro Diniz Perilo
No ataque à Delegacia de Polícia de Gravatá, morrem Cleto Campelo e o padeiro José Francisco de Barros, da direção do PCB
A ação armada prevista para os dias 13 ou 14 de abril de 1925, aborta com a traição do tenente da polícia, Luiz Gonzaga. A casa da rua Velha é invadida por 50 soldados da força pública. Há prisões, apreensão de armas, dinamites, fardas do exército, faixas coloridas que seriam usadas para a identificação dos rebeldes. São denunciados na Procuradoria-Geral da República, à frente Antônio Vieira de Melo, doze conspiradores: capitães Severino Gamboa Cardim, Cirne de Azevedo e Indalício Cavalcanti de Albuquerque; Carlos Afonso de Melo, Edmar Lopes, Cristiano Cordeiro, Severino de Siqueira Cavalcanti, Gastão da Silveira, Pedro de Holanda, Francisco Toscano de Brito e Sílvio de Guimarães Cravo. Cronistas dão conta de onze nomes, em que pese o fato de o episódio ser conhecido como O caso dos doze da rua Velha. Os réus são despronunciados por falta de provas, pelo juiz federal Cunha Melo. Ainda hoje não se tem como precisa a causa da despronúncia. Os operários sediciosos são deportados para Fernando de Noronha. O historiador Joaquim de Oliveira não informa o nome, mas assinala que um deles perde uma perna por conta de surra de facão, ordenada pelo chefe de polícia, Apulchro d’Assumpção.
A trama começara em 1924 e frustra-se no ano seguinte. Conhecido como Pai Velho, o carvoeiro José Francisco aponta em suas memórias, Cleto Campelo militante do partido. Cristiano Cordeiro e Souza Barros não confirmam. Embora Cordeiro e José Caetano Machado, dirigente do partido, tenham conversado com o tenente antes da revolta frustrada. Dos comandados por Campelo, oitenta por cento eram operários de Jaboatão e padeiros do Recife.
As ideias comunistas eram propagadas pelo jornal Diário do Povo, do advogado Joaquim Pimenta e de seu sogro, o médico Raul Azedo. Pimenta, negociando com patrões reivindicações operárias, acumulara prestígio. Fora indicado por Cordeiro para assessorar a Federação de Resistência das Classes Trabalhadoras. Em seguida, mostrar-se-ia populista. Cristiano Cordeiro rompe com ele. Pimenta vai para o Rio de Janeiro desfrutar de bom emprego no governo de Artur Bernardes, a quem fizera oposição.

*Jornalista e escritor. Trabalhou no Jornal do Commércio e Diário de Pernambuco, ambos de Recife. Escreveu contos para o sítio espanhol La Insignia. Em 2006, foi ganhador do concurso nacional de contos “Osman Lins”. Em 2008, obteve Menção Honrosa em concurso do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife. A convite, integra as coletâneas “Panorâmica do Conto em Pernambuco” e “Contos de Natal”. Tem dois livros de contos e um romance.

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