quarta-feira, 20 de abril de 2011



Tema preferencial

O amor sempre foi, é e será, enquanto existirem seres humanos no Planeta, o tema preferencial de qualquer escritor, por mais pessimista, amargo e infeliz que pareça ser, ou de fato seja. Ou por mais “realista” que se ache. Em ficção, suas várias nuances são exploradas à exaustão, quer em romances, quer em contos, novelas, peças teatrais e enredos de cinema. E quando se acha que o assunto vai se esgotar, novas, e novas, e novas histórias a propósito são criadas. E nem são repetitivas. E conquistam, num piscar de olhos, multidões de leitores.
Gosto de ler sobre o amor. Escrever, então, a respeito me dá uma satisfação imensa, mesmo que não tenha nada novo a acrescentar (e, em geral, não tenho) e os textos produzidos me pareçam do tipo “água com açúcar”. Noto, todavia, que mesmo estes (ou principalmente eles) são os que contam com o maior número de leitores.
Esse sentimento inexplicável e impossível de se racionalizar nem sempre, ou quase nunca, bem entendido (quem se coloca na posição de mestre dele não convence, pois todos não passamos de meros aprendizes), enseja páginas ora belíssimas ora pungentes, não raro dramáticas e, com grande freqüência, trágicas (não importa).
Mas o tema de fundo da maior parte da produção literária sempre foi, é e provavelmente seguirá sendo o amor: tanto o frustrado, quanto o enganado, ou o correspondido ou o unilateral em que somente uma das pessoas ama e a outra é indiferente à apaixonada e assim por diante.
Em poesia, então, nem é preciso destacar, para não ser redundante. O pitoresco, neste gênero, todavia, é que a dor gerada por amores fracassados é a que tende a inspirar os mais belos poemas, em detrimento dos bem-sucedidos. Por que? Honestamente, não sei explicar. Sou, como todo o mundo, mero aprendiz dessa matéria. Não estou habilitado, pois, a ditar cátedra a propósito. Mas é o que acontece com os poetas. Fernando Pessoa observou, certa feita, que o amor perfeito, via de regra, gera má literatura.
O escritor português Miguel Esteves Cardoso observou, em um dos seus livros: “O essencial é amar os outros. Pelo amor a uma só pessoa, pode-se amar a humanidade. Vive-se bem sem trabalhar, sem dormir, sem comer. Passa-se bem sem amigos, sem transportes, sem cafés. É horrível, mas uma pessoa vai andando. Apresentam-se e arranjam-se sempre alternativas. É fácil. Mas sem amor e sem amar, o homem deixa-se desproteger e a vida acaba por matar”.
Convém esclarecer que, quando o escritor afirma que se vive “bem sem comer”, não se refere, óbvio, à absoluta falta de comida. Claro que quem fizer essa loucura, morrerá de inanição. Quis dizer, apenas, que com alimentação frugal, mesmo que inadequada, se sobrevive. Sem amor... Perde-se a motivação. E sem ela... Sobrevive-se, mas não se vive, no sentido pleno e mais nobre da vida.
Há, como ressaltei, inúmeros equívocos a propósito desse sentimento. Muitos entendem que seja um “prêmio” à virtude. E quem não é virtuoso, não tem direito de amar e ser amado? Não é bem assim. Concordo com Milan Kundera, que escreveu, no livro “A lentidão. “O amor é, por definição, um prêmio sem mérito. Se uma mulher me diz: amo-te porque és inteligente, porque és uma pessoa decente, porque me dás presentes, porque não andas atrás de outras mulheres, porque sabes cozinhar, então eu fico desapontado. É muito melhor ouvir: eu sou louca por ti, embora nem sejas inteligente e nem uma pessoa decente, embora sejas um mentiroso, um egoísta e um canalha”.
Convenhamos, se a pessoa tiver todas as virtudes citadas (e as não mencionadas também), a probabilidade do amor dar certo e durar por toda a vida do casal é muito maior. Mas, a exemplo de Kundera, o amor que sempre procurei (e creio que consegui) é este: incondicional e sem reservas. Cabe a mim, somente a mim, melhorar o meu caráter e minha conduta, mas não especificamente para assegurar que serei amado, mas como forma espontânea, minha, pessoal, de recompensar quem me ame sem reservas.
Os equívocos, em relação a esse sentimento, são inúmeros e causadores de intensos sofrimentos. Há quem confunda a mera atração sexual, o desejo, o tesão, como “profundo amor”. Não é. Muitos casam-se, apenas em decorrência dessa atração física, achando que encontraram sua “cara metade”.
Um dia, porém, o desejo é saciado. E resta, então, apenas o vazio no relacionamento que se torna, não raro, numa prisão. Pior, muitas mulheres e homens também, claro), após a infeliz decisão de assumir compromisso conjugal, conhecem o amor verdadeiro. Mas...
Algumas, conformam-se com a situação e, para dar uma satisfação à família e à sociedade, mantêm o relacionamento insatisfatório e infeliz. Outras, tornam-se amantes das pessoas que verdadeiramente amam, mantendo uma situação dupla que, quando descoberta, gera, quase sempre, terríveis tragédias.
Outros casais (estes mais raros) separam-se consensualmente e cada um vai para seu lado, para viver seu verdadeiro amor ou buscá-lo, caso não o tenham encontrado. Ainda quando não há filhos, só os dois envolvidos sofrem. Mas geralmente há. E nesses casos a situação se complica muito e se torna quase insolúvel e insustentável.
É desses conflitos, todavia, que a literatura se alimenta e sobrevive. Porém são eles, quando existem, que “matam” emocionalmente qualquer pessoa. Sem amor, elas “sobrevivem”, sim, mas não “vivem” a grandeza (e beleza) da vida, experiência única e sem possibilidades de reprise..

Boa leitura.

O Editor.

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