O aluno vermelho
* Por Adelcir Oliveira
A professora desconfiava que o aluno fosse alcoólatra. Era pelo vermelho da pele e dos olhos. Chegou a afirmar que sentira cheiro de pinga. Comentou com a sua colega de trabalho. Esta disse que talvez ele bebesse no intervalo entre a aula teórica e a prática. Tratava-se do curso de educação física em uma faculdade particular de São Paulo.
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Não era um bom aluno em se tratando de notas. Mas sempre ia às aulas e participava de todas as atividades acadêmicas. Era considerado esforçado. Seu único problema era a pinga que não bebia.
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Um dia ele se achegou à professora e contou sobre sua vida. Lamentou-se por não conseguir acompanhar o curso. Revelou que sempre que ia estudar em casa dormia sobre os cadernos. O motivo era um excessivo cansaço. Trabalhava duro para pagar a faculdade. Era camelô no Bom Retiro.
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A professora então depreendeu o vermelho nele. E contou o fato à colega desconfiada. O aluno confessou que não agüentava mais aquele ritmo. Saía de madrugada para trabalhar. À noite ia para a faculdade. Ao chegar em casa desabava na cama. Dormia pouco. No dia seguinte tinha que acordar bem cedo para o trabalho.
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Ele contou à professora que queria sair daquela vida. E sabia que o único caminho era o estudo. Mas sentia-se muito cansado, já não agüentava mais. Fatalmente desistiria do curso. E assim o fez.
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A professora, ao saber da desistência do aluno, sentiu-se muito mal. Ficou tocada. Fazer o quê? Realidade brasileira. Um dia, passeando pelo Bom Retiro, avistou o aluno vendendo seus produtos. Teve ímpeto em falar com ele. Mas este ao vê-la recolheu sua lona com seus materiais e desapareceu entre a multidão. Talvez tenha se sentido envergonhado.
A professora ficou outra vez chateada. Dura realidade que ela não podia mudar. Revoltou-se com os demais alunos de classe média daquela classe. Muitos dos quais não se dedicavam ao curso e faziam a faculdade de maneira precária, sem esforço e comprometimento. A professora sentiu-se muito revoltada com isso. De certo, voltará ao Bom Retiro. Se vir o aluno, terá que fingir que não viu. É o modo que terá encontrado de respeitá-lo.
• Jornalista e cinegrafista
* Por Adelcir Oliveira
A professora desconfiava que o aluno fosse alcoólatra. Era pelo vermelho da pele e dos olhos. Chegou a afirmar que sentira cheiro de pinga. Comentou com a sua colega de trabalho. Esta disse que talvez ele bebesse no intervalo entre a aula teórica e a prática. Tratava-se do curso de educação física em uma faculdade particular de São Paulo.
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Não era um bom aluno em se tratando de notas. Mas sempre ia às aulas e participava de todas as atividades acadêmicas. Era considerado esforçado. Seu único problema era a pinga que não bebia.
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Um dia ele se achegou à professora e contou sobre sua vida. Lamentou-se por não conseguir acompanhar o curso. Revelou que sempre que ia estudar em casa dormia sobre os cadernos. O motivo era um excessivo cansaço. Trabalhava duro para pagar a faculdade. Era camelô no Bom Retiro.
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A professora então depreendeu o vermelho nele. E contou o fato à colega desconfiada. O aluno confessou que não agüentava mais aquele ritmo. Saía de madrugada para trabalhar. À noite ia para a faculdade. Ao chegar em casa desabava na cama. Dormia pouco. No dia seguinte tinha que acordar bem cedo para o trabalho.
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Ele contou à professora que queria sair daquela vida. E sabia que o único caminho era o estudo. Mas sentia-se muito cansado, já não agüentava mais. Fatalmente desistiria do curso. E assim o fez.
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A professora, ao saber da desistência do aluno, sentiu-se muito mal. Ficou tocada. Fazer o quê? Realidade brasileira. Um dia, passeando pelo Bom Retiro, avistou o aluno vendendo seus produtos. Teve ímpeto em falar com ele. Mas este ao vê-la recolheu sua lona com seus materiais e desapareceu entre a multidão. Talvez tenha se sentido envergonhado.
A professora ficou outra vez chateada. Dura realidade que ela não podia mudar. Revoltou-se com os demais alunos de classe média daquela classe. Muitos dos quais não se dedicavam ao curso e faziam a faculdade de maneira precária, sem esforço e comprometimento. A professora sentiu-se muito revoltada com isso. De certo, voltará ao Bom Retiro. Se vir o aluno, terá que fingir que não viu. É o modo que terá encontrado de respeitá-lo.
• Jornalista e cinegrafista
É de cortar o coração, mas não deixa de ser
ResponderExcluiruma escolha...
Adorei!
Abraços