Um poema de Rodrigo Petrônio
* Por Luiz Carlos Monteiro
Rodrigo Petronio nasceu em São Paulo, em 1975. Poeta, ensaísta e filósofo, é na poesia que ele vem buscando um sentido, uma origem e uma essência vitais para o humano tanto em suas mais recônditas vivências, como naquelas de sabor inquietantemente terreno. O poema “Antítese” faz parte do seu livro “Venho de um país selvagem” (Topbooks, 2009). Rodrigo Petronio exercita, neste poema, a angústia da escrita que se situa no “hiato que vai da ideia à fala”. A capacidade de criar e sonhar limita-se com o transcendente e entra em confronto com o assustadoramente vulgar e cotidiano. E que, apesar de tudo, pode ensejar a realização do poema a partir de um duplo que está dentro e fora do poeta e do próprio poema feito negativa e afirmação, vazio e cosmicidade. O desequilíbrio do Ser na desarmonia do mundo revela-se pela atomização da alma:
O poema me espera, fora de mim,
Para que eu me realize nele.
A sua falta de essência me completa,
E o que sobra nele me extravasa:
Transbordo em seu sinal de menos:
Sua ausência de ser é minha casa.
Sustenho seu corpo, sem mistério.
Adentro seu espaço, sem pegadas.
Encontro-o quando perco o centro.
Menor que a parte, ele não me abarca.
Maior que o todo, ele é meu avesso.
Não é o mundo o que ele me revela.
Não é a mim mesmo que nele procuro.
Não é a poesia o que ele desperta.
Mas o hiato que vai da ideia à fala
Onde o coração bate mais livre.
Mergulhado na matéria mais precária,
Pulsa em nós ao ritmo da estrela
Tanto mais imortal em quanto vive,
Eternidade da luz que se apaga.
Isento da palavra que o aprisiona,
Alheio ao conceito que o mutila,
Imerso em cada coisa que o transcende,
Mergulhado no mundo sem limite:
Vou ao poema, retorno ao nada:
A voz me liberta de minha alma
E assim eu sou o Outro que me habita.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
* Por Luiz Carlos Monteiro
Rodrigo Petronio nasceu em São Paulo, em 1975. Poeta, ensaísta e filósofo, é na poesia que ele vem buscando um sentido, uma origem e uma essência vitais para o humano tanto em suas mais recônditas vivências, como naquelas de sabor inquietantemente terreno. O poema “Antítese” faz parte do seu livro “Venho de um país selvagem” (Topbooks, 2009). Rodrigo Petronio exercita, neste poema, a angústia da escrita que se situa no “hiato que vai da ideia à fala”. A capacidade de criar e sonhar limita-se com o transcendente e entra em confronto com o assustadoramente vulgar e cotidiano. E que, apesar de tudo, pode ensejar a realização do poema a partir de um duplo que está dentro e fora do poeta e do próprio poema feito negativa e afirmação, vazio e cosmicidade. O desequilíbrio do Ser na desarmonia do mundo revela-se pela atomização da alma:
O poema me espera, fora de mim,
Para que eu me realize nele.
A sua falta de essência me completa,
E o que sobra nele me extravasa:
Transbordo em seu sinal de menos:
Sua ausência de ser é minha casa.
Sustenho seu corpo, sem mistério.
Adentro seu espaço, sem pegadas.
Encontro-o quando perco o centro.
Menor que a parte, ele não me abarca.
Maior que o todo, ele é meu avesso.
Não é o mundo o que ele me revela.
Não é a mim mesmo que nele procuro.
Não é a poesia o que ele desperta.
Mas o hiato que vai da ideia à fala
Onde o coração bate mais livre.
Mergulhado na matéria mais precária,
Pulsa em nós ao ritmo da estrela
Tanto mais imortal em quanto vive,
Eternidade da luz que se apaga.
Isento da palavra que o aprisiona,
Alheio ao conceito que o mutila,
Imerso em cada coisa que o transcende,
Mergulhado no mundo sem limite:
Vou ao poema, retorno ao nada:
A voz me liberta de minha alma
E assim eu sou o Outro que me habita.
* Poeta, crítico literário e ensaísta, blog www.omundocircundande.blogspot.com
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